quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O dono da bola

Tava lendo um post do Azenha sobre Bauru, Pelé, o famoso sanduíche e quetais, e me lembrei de ter ido ao BAC uma vez ver um show de Blues.  BAC era o Bauru Atlético Clube, nos Altos da Cidade ou Estoril, não me lembro. Era famoso devido a um pequeno detalhe: foi o local onde um certo Edson Arantes do Nascimento começou sua carreira futebolística, ainda praticamente um menino. 
Outra vez entrei no hall do clube (vestíbulo naquela língua mais complicada) e havia lá uma foto sensacional: o time do BAC posicionado tradicionalmente (fileira de trás em pé, fileira da frente agachada), todos marmanjos imensos, e no meio deles um franzino molequinho de seus, sei lá quantos, 13, 12 anos, menos? Impossível não reconhecer que era o menino Pelé, sorridente, em contraste com os sisudos jogadores. E quem estava com a bola? Ele, é claro, não deixando dúvidas de quem era o dono da pelota. Uns anos atrás, o BAC sucumbiu à sanha imobiliária e seu imenso terreno deu lugar a um shopping center.
No ano passado, eu conheci o Pelé em uma festa junina em sua casa, no Guarujá, e falei do episódio. Ele lamentou pela demolição do BAC, disse que houve muita gente pedindo a ele para salvar o clube e coisa e tal. "Mas eu não posso fazer tudo", disse ele. Enfim, ficou na memória.
Em tempo, eu, minha mulher e meu filho tiramos fotos com ele nesse dia. Pelé estava a caráter, vestido de caipira: paletozão imenso todo remendado, calça, camisa e gravata idem, bem chamativos, parecia um morador de rua. Quando, orgulhoso, mostrei a foto a um colega de trabalho, ele disse: "É, realmente parece com o Pelé". Eu insisti, dizendo que era o Pelé mesmo. Mas o cara não acreditou: "O Pelé, mulambento desse jeito? Ah, vá! Acha que sou besta?" Não tem jeito, nem quando eu posso me vangloriar eu consigo.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Terrestres - Penúria educacional

Fui dar uma palestra sobre como escrever histórias aos estudantes da sétima série da escola estadual Padre Colbacchini, conhecido como Cobal, no Butiatuvinha, pra lá de Santa. A escola reúne uma galerinha de periferia, alguns de umas comunidades bastante precárias. A própria escola é o retrato da penúria - instalações desgastadas, quintal totalmente tomado pela erosão, um ambiente pouco convidativo ao convívio ou à reflexão. O contrário digo dos profissionais - a diretora, o coordenador pedagógico, os professores - todos imbuídos daquilo que é necessário e essencial para ser educador do Estado neste nosso país: vocação, calma e estoicismo, pois às vezes a coisa parece desesperadora, das condições físicas à rebeldia e pé na marginalidade de muitos daqueles garotos e garotas que lá estão.

É o retrato acabado de que no Brasil todo mundo fala em educação, na importância dela etc e tal, mas na verdade ninguém tá nem aí - das famílias desagregadas, em primeiro lugar, passando pelas famílias de classe média e ricas que acham que são "agregadas", mas que não educam e não dão limites ou mínimos valores aos filhos, encontrando pelo caminnho megacorporações, entidades religiosas e secretas, e chegando a partidos políticos e governos diversos. Ninguém dá lhufas por isso. Mas quem está lá dá. Os profissionais da educação sempre me espantaram, pois eu seria um frustrado todos os dias se lá estivesse. Eles, não, ou pelo menos fingem bem. Mantêm-se firmes, animados e até bem-humorados! Enfim, parabéns a eles. Espero no fim do ano voltar lá apresentar o Zac. Um grão de areia no meio do grupo local de gaáxias onde está a Via Lactea.

Em tempo, o quinto e o sétimo anos do Cobal estão envolvidos com um teatro de bonecos, projeto coordenado pelo Jorge Miyashiro. Para mais detalhes, clique aqui.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Sonho circular

Mais um argumentinho, baseado em fragmentos de sonhos.

Exterior/dia
Vemos o rosto de um garoto, seis anos. O vento movimenta seus cabelos. Ao fundo, ouvem-se vozes e algazarra de muitas crianças. Num plano mais aberto, vemos que ele está em pé em algum lugar. Ele tem expressão tranquila. O plano se abre um pouco mais e vemos que ele está em cima de um muro bem alto. Abaixo dele, crianças correm pra lá e pra cá em um pátio de escola, brincam em balanços, escorregadores, caixa de areia, gangorras e até em um antigo bonde desativado. Parecem não notar que o garoto está ali. Ele caminha bem devagar pelo muro, como se estivesse no chão, mas não olha para os garotos. Olha para longe, com um sorriso no rosto, e o vento continua a movimentar seus cabelos. O plano se fecha novamente em seu rosto nesse momento. Ele vira o rosto, vemos sua nuca.

Exterior/dia
Vemos a nuca de alguém, que se vira. É um rapaz de seus 15 anos, os traços sugerem que é o mesmo garoto da cena anterior, já crescido. O vento faz seus cabelos balançarem. Em um primeiro momento, ele mantém a mesma expressão tranquila do garoto, mas logo demonstra certa perturbação, como se não reconhecesse onde está.

O rapaz está no topo de uma grande duna de areia em pleno deserto. Ele continua olhando para um e outro lado, como que procurando algo. Avista alguma coisa, coloca a mão na testa para tapar o sol. Vemos umas poucas árvores bem ao longe, em meio a toda a areia. Ele desce a duna e anda decidido. Vemos ele suando pelo esforço e o sol brilhando inclemente acima. A câmera o mostra em vários ângulos. Quando está afastada, mostra como ele é pequeno no meio de uma imensidão de areia e as árvores muito afastadas. Ele continua a caminhar, o sol é mostrado, ameaçador, e vamos notando o sofrimento em seu rosto.

Em determinado momento, ele cai de joelhos. Mas vai tentando se arrastar, andando de quatro. As pequenas árvores parecem continuar à mesma distância, inalcansáveis. Ele vai se arrastando, tossindo até cair de vez deitado no chão. Mas não se entrega e continua tentando avançar, se arrastando, seu rosto e corpo cobertos de areia. Ele olha para a frente, na direção das árvores, mas elas já não estão lá. Esgotado, ele desmaia, com a cabeça enterrada na areia, e então vemos somente sua nuca.

Exterior/dia
Vemos a nuca de uma pessoa deitada. Ela levanta a cabeça. É um homem de 30 anos. Novamente, notamos semelhança com a criança e o rapaz das cenas anteriores. Ele olha para um lado e outro, levanta-se, limpa sua roupa e fica em pé. Vemos que ele está no interior de uma mata. O homem começa a caminhar por entre árvores e pedras, riachos e galhos. Parece apreensivo, mas continua andando. O local está escuro, a mata fechada deixa passar pouca luz do dia. Ouve-se um ruído ao longe. Ele para, olha para trás, fica estático por um momento, e volta a caminhar. Pouco depois, ouve novos ruídos de galhos se quebrando. Ele para e se vira novamente. E mais uma vez volta a caminhar, desta vez mais apressadamente. Fica assim algum tempo.

Mas ouvem-se novos barulhos, desta vez parece uma árvore caindo e ruídos de grandes passos quebrando galhos, desta vez mais perto. O homem olha rapidamente para trás e anda mais rapidamente ainda, olhando para lá e para cá. Ele ouve então um som horrível, um misto de rugido animal com um lamento humano cheio de dor. O rosto do homem demonstra terror e ele perde totalmente o controle e sai correndo. A câmera acompanha sua carreira, demonstrando que ele se desloca por entre as árvores e obstáculos. Closes em seu rosto mostram seu medo e esforço. O lamento/rugido é novamente ouvido. Ele chega ao alto de uma pedra que estava no caminho e salta.

Vemos meio corpo dele e seu esforço de corrida, mas nota-se que ele pouco se desloca. Como se estivesse correndo sem quase sair do lugar. Ele arfa e geme pelo esforço sobre-humano que faz. Novo rugido, mais perto. O homem continua com seus movimentos de corrida, mas para e olha para baixo e vê que está no meio de uma imensa poça de areia movediça. Os ruídos voltam em algum lugar próximo. Ele retoma o esforço de tentar correr na areia movediça, se deslocando muito vagarosamente.

Seu cansaço está no limite. Ele olha para trás e arregala os olhos de desespero com o que vê. Vira-se para a frente e continua seu esforço, com expressão de terror. O rugido/lamento é ouvido novamente, muito mais alto, indicando proximidade. Ele se depara com várias pedras empilhadas à sua frente, uma espécie de paredão. Ele as escala rapidamente, empurrado pelo medo. Quando chega ao alto, olha para baixo, ofegante, e parece se acalmar um pouco, não demonstrando mais o medo de antes. Ele vira-se para o outro lado, como se fosse retomar seu caminho. Vemos sua nuca.

Exterior/dia
Vemos a nuca de alguém, que se vira e é um homem de seus 50 anos, parecido com o garoto, o adolescente e o homem anteriores. Ele tem uma expressão de apreensão, mas, depois de alguns segundos em que seus olhos seguem para todos os lados, parece ficar mais tranquilo. O vento bate e balança seus cabelos. Ele tem uma expressão mais resignada do que tranquila, mas logo sorri levemente. O plano se abre. Ele está sobre um muro. Abaixo dele, o antigo pátio da escola, desta vez vazio. Os brinquedos e o bonde estão lá, mas parecem estar abandonados, pintura descascada, alguns quebrados. O homem sorri, desta vez mostrando satisfação. Ele vira-se de costas, se agacha e começa a descer do muro, apoiando-se em tijolos desalinhados. Ele atinge o chão e começa a andar no meio do parquinho enquanto a câmera vai se afastando para cima, deixando-o cada vez menor naquele ambiente.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Terrestres - É Dilma lá

Vamos em frente agora. Creio que nossa nova presidente tem todas as condições de manter nosso país nos eixos, ela tem um panorama muito melhor do que o que Lula encontrou em seu primeiro mandato – quebradeira, falta de energia, inflação galopante, juros escorchantes, desemprego monstro etc. e tal. Portanto, poderá fazer um governo sem sobressaltos e com capacidade de finalmente tirar da miséria a grande maioria das pessoas que ainda não têm a mínima condição financeira e cultural de sair por conta própria da base de baixo da pirâmide. 

Gostaria imensamente que a oposição fosse mais qualificada, mas ela carece de grandeza, como demonstrou o Serra, que, deselegantemente em seu discurso de derrota, ameaçou veladamente o Aécio, esqueceu o FHC e disse que “AINDA não foi dessa vez” e que iria voltar, dando a entender que poderá continuar com sua obsessão presidencialista. Ou seja, se alguém espera algum tipo de renovação no PSDB/Dem, pode esperar sentado. 

Mas chega de discussão, agora é arregaçar as mangas e tocar a bola.

sábado, 30 de outubro de 2010

O olhar - 2

Continuação de "O olhar - 1" 

Interior/dia
Uma sala ampla, decorada com móveis modernos. Grandes janelas abertas, as cortinas esvoaçam empurradas pelo vento. Alguém começa a bater na porta insistentemente. Silêncio. Batem novamente, com mais força. No quarto, deitado de bruços, Renan acorda assustado. As batidas continuam. Ele olha o relógio, que marca onze horas, e se levanta, meio sonolento. Apenas de cueca samba-canção, segue até a porta, olha pelo olho mágico. Ele encosta a cabeça na porta e a mexe negativamente, e a abre. À sua frente está uma garota com cerca de 20 anos, morena, bonita, lágrimas escorrem pelo seu rosto. Ela entra, ele fecha a porta e vai conversar com ela. Muito nervosa, ela diz a Renan que ele não pode fazer aquilo com ela, que ele a está ignorando, que desde a adolescência eles foram amigos, mas que agora as coisas ficaram diferentes e que ela não consegue nem pensar em ficar longe dele. Ele a chama de Rosa e pede que pare com aquilo, dizendo que ela está confundindo tudo. Diz que gosta muito dela, mas não quer se envolver e que ela tem que parar de procurá-lo daquele jeito. Diz que o porteiro do prédio só a deixa entrar porque a conhece, mas que vai avisá-lo para barrá-la da próxima vez. Ela chora, e começa a bater no peito Renan com os punhos fechados. Ele a segura, e ela diz, chorando, que ele não tem coração e que vai se arrepender do que fez e sai correndo, abre a porta e a bate com força atrás dela. Renan fica olhando para a porta, a cortina, atrás dele, voando ao sabor do vento.

Interior/noite
Sala do apartamento de Renan. O telefone toca, ele vem lá de dentro e atende. Ouve por um momento. Assusta-se com o que ouve e pergunta nervosamente o que aconteceu, como aconteceu, o que houve com ela. Ouve mais um pouco, desliga o telefone, pega carteira e chaves de uma mesinha e sai apressado.

Exterior/noite
Renan chega à frente de um prédio. Viaturas policiais e de resgate estão por ali. Ele encontra o rapaz com quem estava na casa noturna e pergunta o que está acontecendo. O amigo o segura e diz pra ele se acalmar e conta que os vizinhos começaram a sentir um cheiro estranho e resolveram chamar a polícia. Quando entraram no apartamento, Rosa estava morta, devia estar assim já há uma semana. Renan diz que isso é loucura, que ela tinha saído da casa dele exatamente há uma semana, que ele não imaginava que ela iria fazer isso. O amigo diz pra ele não se culpar, que ele tinha falado com os socorristas e com o médico legista e eles disseram que ela parecia não ter se matado, pelo menos não havia nenhuma marca no corpo e nem vestígios de gás, de pílulas ou alguma coisa que sugerisse suicídio. Afirma que parecia apenas que ela havia definhado até a morte e que Renan não podia tomar para si a responsabilidade. Renan fica estático, olhando para as viaturas, parecendo hipnotizado pelas luzes coloridas piscantes dos veículos, que se refletem em padrões em sua face.

Interior/dia
Renan chega ao prédio de Rosa. Fala com o porteiro e o chama de seu Antônio. Eles conversam sobre o que ocorreu, e seu Antônio dá os pêsames, diz que sabia que eles eram amigos e pergunta se Renan sabe se a família dela virá do interior para buscar as coisas. Renan diz que sim, que havia falado com eles, e diz que ele veio justamente dar uma olhada nas coisas para ver que jeito eles vão dar em tudo. O porteiro diz que, já que é Renan que está ali e o conhece há anos, tudo bem, ele pode subir. Renan atravessa o hall, ao lado do qual há um longo vidro que dá para uma bela piscina. Ele entra no elevador e aperta o número 15. Sai do elevador, pega um molho de chaves e entra no apartamento. Ele circula aqui e ali. Olha alguns CDs. Sobre outra mesa, vê um porta-retrato com uma foto sua em preto e branco. Ele está mais jovem, de camiseta e calça, sorrindo efusivamente. Ele pega o retrato e olha para a frente, para o nada. Imagens em preto e branco mostram aquele momento, Rosa com a câmera, tirando várias fotos, ele fazendo diversas poses, algumas engraçadas, os dois se divertindo e rindo muito. De volta de seu devaneio, ele abre os olhos e fica algum tempo fitando o porta-retrato com um olhar triste. Ainda com ele na mão, vai até a janela, abre-a e olha pra fora. Lá embaixo, vê-se o azul da piscina. Fica um tempo ali. Quando resolve fechar a janela, o retrato, que estava em sua mão, cai. Ele olha para baixo, e vê que a foto ficou em um pequeno beiral abaixo da janela, que segue em torno de todo o prédio, em todos os andares. A foto está virada para cima. Ele se debruça no parapeito, estica a mão, mas não o alcança. Inclina-se mais ainda, seus dedos apenas roçam o retrato. Vemos a imagem estática e sorridente do retrato de Renan e depois ele próprio, ofegante pelo esforço, vermelho, se esticando todo, com os cabelos caindo para a frente, tentando pegar a foto. Por trás, de dentro do apartamento, vemos que ele não toca mais os pés no chão, e está totalmente pendurado na janela na tentativa de recuperar o retrato, e na sequência, ele escorregando para fora e a janela ficando vazia. A câmera se aproxima da janela, posiciona-se para baixo. Não se vê mais o retrato no beiral e, quinze andares abaixo, a piscina está tingida de vermelho. FIM.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O olhar -1

Outro miniargumento, baseado em Narciso.

Interior/noite.
O local é um grande salão onde está ocorrendo um desfile de moda. Iluminação colorida, tecidos pendendo do teto e grandes banners com fotos de modelos exageradamente maquiadas enfeitam o local. Uma passarela atravessa o centro do local, em volta da qual centenas de pessoas sentadas em suas cadeiras assistem ao evento, que se dá ao som de uma música eletrônica muito alta. Modelos - garotas e garotos - desfilam, vindo pela passarela, parando em sua extremidade e voltando até desaparecer na coxia atrás do palco. As pessoas aplaudem, muitos fotógrafos e cameramen registram o momento. Vemos mais detalhamente um rapaz de seus 22 anos entrar no palco e iniciar seu desfile. Ele está com um colete, sem camisa, usa calças largas e calça tênis, num visual despojado-chic. O rapaz é muito bonito, cabelos pretos, musculoso, mas sem exageros. O público feminino delira, muitas mulheres presentes ficam em pé, batem palmas, jogam-se na beira da passarela, enquanto seguranças chegam para contê-las. O modelo continua seu caminho, impassível. Dá sua parada no fim da passarela, fica sobre uma e outra perna, dá as costas e faz seu trajeto de volta. Nisso, vemos que um dos grandes banners pendurados no teto, quase sobre a passarela, tem uma foto dele.

Interior/noite
Estamos no camarim do desfile. Pessoas andam pra lá e pra cá, muitas em trajes íntimos, várias tirando maquiagens em um imenso espelho comprido, outras falam ao telefone, conversam e trocam roupas, apoiadas por pessoas da produção. O ambiente é cheio de araras onde estão dezenas e dezenas de roupas utilizadas no desfile. O rapaz da primeira cena está se olhando no espelho, tirando a maquiagem que usava. Está somente de cueca samba-canção. Diversas garotas passam por ele e lhe dizem “parabéns, Renan”. Algumas o abraçam e o elogiam, dizendo que ele arrasou esta noite. Muitas o convidam para sair e esticar a noite. Ele, impassível, continua a tratar de seu rosto com um pedaço de algodão e vai recusando um a um os convites, dizendo que hoje não vai dar, que ele tem compromissos. Ele para e olha para sua imagem, iluminada pelas luzes em toda a volta do espelho, e fica ali, se admirando.

Exterior/noite
Entrada de uma boate, na rua. Renan conversa com um rapaz. Eles estão na entrada VIP, ao lado de uma longa fila de pessoas que aguardam para entrar pela área comum. O rapaz lhe pergunta se ele sabe de Rosa. Renan diz que não, que essa história já o está irritando, e seu colega diz que realmente é um saco quando elas começam a pegar no pé. Várias garotas passam pelos dois e muitas delas cumprimentam Renan, sempre com um largo sorriso em seus rostos. Renan se limita a grunhir alguma resposta ou a acenar. Eles entram. Lá dentro, Renan é muito assediado. Muitas garotas vêm dançar perto, algumas se esfregam nele. Ele parece curtir, mas não dá muita bola pra ninguém. Ele vai ao balcão do bar e pede uma bebida. Chega mais uma garota e começa a conversar com ele, falando ao seu ouvido de forma a ser compreendida em meio ao som alto. Ela pergunta se ele se lembra dela, que eles meio que ficaram juntos numa outra noite. Ele faz uma careta, olhando pra ela e depois faz uma expressão que demonstra que se lembrou. Eles iniciam uma animada conversa, depois dançam um pouco e ela o abraça e dá-lhe um beijo. Eles se beijam por um tempo, ele a puxa pela mão e seguem para uma escada. Ele levanta o punho e mostra uma pulseira a um segurança, que deixa os dois passarem. Os dois sobem para um amplo mezanino VIP com grandes sofás e mesas, onde há várias pessoas, mas não está cheio como o salão. Da bancada, pode-se ver lá embaixo a massa de gente dançando na pista, as luzes piscando ao ritmo da música. Eles se acomodam em um sofá, um garçom os atende e logo retorna com bebidas. Eles se beijam. Ela diz a Renan que há muito tempo esperava por aquele momento, lembra que eles se conhecem da casa de alguns amigos comuns, que ele sempre escapara dela, mas que nessa noite seria diferente. Em determinado momento, o DJ começa a falar e chamar a atenção de todos. E fala que um convidado muito especial veio prestigiar a festa dos dez anos da casa noturna e diz que é o modelo internacional Renan. Ao falar isso, os grandes telões que rodeiam toda a pista começam a exibir imagens do modelo em variados desfiles, com o som eletrônico martelando por trás. Renan parece surpreso, mas logo se recompõe e fica em pé, olhando para as imagens. O DJ aponta para o local onde Renan está, e pede uma salva de palmas, o público delira, aplaude e grita. As mulheres são as mais entusiasmadas nos aplausos e dão gritos histéricos. O DJ diz que agora e noite vai esquentar e que as imagens são uma homenagem da casa ao modelo. A música volta a aumentar, e Renan fica lá, olhando para todos na pista, muitos deles acenando, dando tchaus e tirando fotos dele. A garota que está com ele parece constrangida, tenta puxá-lo pelo ombro, mas ele está hipnotizado pelas suas próprias imagens nos telões. Outras pessoas da área VIP chegam perto dele, alguns pedem para tirar fotos, outros pedem autógrafos. As garotas, como sempre, chegam cheias de sorrisos, dão beijos e abraços. Ele começa a conversar com as pessoas. Sua companheira, quase atropelada por toda aquela gente, acaba ficando fora da roda. Faz uma expressão de raiva, bate a bolsa na mesa. Respira fundo, vira as costas e vai embora. As pessoas vão saindo e deixando Renan sozinho. Ele volta a olhar para os telões, com uma expressão de êxtase, as luzes refletindo rapidamente em sua face.

Continua...

sábado, 23 de outubro de 2010

Terrestres - O caso da bolinha de papel

Caaara! Tô estarrecido com essa historinha da bolinha de papel! Pior ainda é o Jornal Nacional gastar sete preciosos minutos no horário nobre - em que um comercial de 30'' chega a vários milhares de reais - para editar porcamente um vídeo feito por celular e chamando aquela rolha de poço que é sempre chamada nesses casos para corroborar qualquer bobagem que se queira.

Só que desta vez a coisa desandou de vez. Além de desmascarada, a Globo foi peitada pelo SBT - SBT! quer humilhação maior? -, que no outro dia mandou ver matéria reafirmando sua versão. Mais, #Globomente foi ao topo dos TT mundiais do twitter. Pior! Segundo Rodrigo Viana, até a redação de São Paulo da Globo vaiou a matéria, sabendo que foram longe demais.

Ali Kamel exagerou desta vez, até para os padrões globais. Está megalomaníaco e acha que é grande coisa. Meu irmão, a máquina roda, trabalha, produz, polui, gera grana e cospe fora o caroço. E você não é dono da máquina. É só mais um bagaço. Pobre coitado. Welcome, my son, welcome to the machine!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Distração fatal

Um argumento cinematográfico baseado numa história que ouvi na infância


Interior/noite
TV ligada num jornal. Rosana, 35 anos, envolvida com afazeres na cozinha, ouve o apresentador falar sobre um determinado assunto e vem correndo para a sala. Seu marido está distraído, assistindo ao jornal, ela chega e aumenta o volume, toda interessada. O apresentador fala que o ano de 1970 vai entrar para a história de São Paulo porque é o primeiro ano das obras do metrô. Um repórter aparece fazendo a matéria mostrando as grandes máquinas trabalhando, dizendo que é preciso abrir caminho para a construção das estações e, por isso, vários prédios estão sendo desapropriados e implodidos. Imagens na TV mostram uma dessas implosões. Ele lembra que mais uma implosão está marcada para o dia seguinte. Rosana, que é bastante comunicativa e um tanto quanto ansiosa no modo de gesticular e agir, vai falando rapidamente para o marido que ela vai assistir a essa implosão, que todo mundo está falando sobre isso e que ela não pode perder, pois é um momento histórico para o país. Ele diz que dispensa esse tipo de programa, mas Rosana diz que não o estava convidando e que é para ele esquecê-la no dia seguinte e se virar com almoço e jantar. Diz que vai acordar de madrugada, se preparar e pegar o primeiro ônibus para chegar no local com antecedência e poder pegar um bom lugar para assistir, pois explica que nesses acontecimentos sempre há a maior aglomeração, como se fosse uma disputa de final de campeonato. Como que fazendo as contas de cabeça, fala que, para chegar a São Paulo, o ônibus leva uma hora, então é bom sair bem cedo para não pegar engarrafamento na marginal, na entrada da capital.

Interior/madrugada
O despertador toca insistente às quatro da manhã. Rosana abre os olhos ao primeiro toque, desliga-o e pula da cama. Toma um banho, coloca uma bela roupa de passeio e vai para a cozinha. Enquanto ouve o rádio, vai ajeitando, numa grande cesta de piquenique, um bolo, sanduíches, duas garrafas térmicas, pratinhos, garfos, uma toalha, copos de plástico e guardanapos. Ela pega sua bolsa, a cesta, coloca um chapéu e sai com seus passinhos curtos e apressados em seus sapatos de salto alto.

Interior/dia
Estação rodoviária. O ônibus de viagem chega lotado, inclusive com gente em pé. Rosana sai, se espremendo, e é uma batalha para conseguir pegar sua grande cesta do bagageiro externo do ônibus, com muita gente se acotovelando para pegar suas malas.  A movimentação na rodoviária é grande, com centenas de pessoas indo para lá e para cá, alguns arrastando enormes fardos, outros com carrinhos de bagagem lotados. Ela sobe enormes escadarias e desce outras tantas para conseguir sair da estação. Com um papel na mão, tenta se informar sobre qual ônibus urbano pegar para chegar ao seu destino. Ninguém sabe lhe dizer. Ela então volta a subir as escadarias para ir até um posto de informações na estação rodoviária, onde, depois de se acotovelar novamente entre diversos usuários, consegue sua informação.

Exterior/dia
Rosana torna a descer as escadas com sua cesta na mão e segue até um ponto de ônibus na rua, onde fica aguardando em uma enorme fila. Quando o ônibus chega, ela não consegue entrar porque já está lotado e tem que esperar o próximo. Finalmente consegue entrar em um, mas é aquela dificuldade lá dentro, pois o veículo também está cheio e ela sai esbarrando em todo mundo com sua cesta e sua bolsa a tiracolo.

Exterior/dia
Finalmente ela chega ao seu destino. Desce do ônibus, caminha um pouco e chega ao local da implosão. A rua à frente está isolada, e muita gente já está por ali para assistir. Ela encontra um canteiro numa praça próxima dali, em um nível um pouco mais alto, e se instala embaixo de uma árvore, aproveitando sua sombra. Arma seu piquenique: abre a toalha, senta-se e come seus quitutes. A aglomeração no local vai crescendo, mas ela está em uma posição privilegiada e consegue ver perfeitamente o prédio. Sirenes começam a tocar na construção, as pessoas começam a se posicionar. Rosana fica em pé, pega uma máquina fotográfica e se prepara para o grande momento. Ela puxa conversa com duas mulheres que estão ali perto, dizendo que veio de uma cidade vizinha só para isso, que é emocionante ver o progresso em andamento, que São Paulo é realmente a locomotiva do país. As desconhecidas concordam e dizem que as coisas na cidade estão uma loucura por conta dessas obras imensas do metrô, mas que é muito chique poder andar nele, como se faz na Europa. Todas riem. Rosana volta a olhar para o prédio e aguarda o momento crucial. Nisso, um senhor cocô de passarinho cai em seu ombro. De tão mole e melequento, ele escorre para sua blusa e suas calças. Ela pragueja contra o passarinho, olhando para cima. Vira-se, abaixa e fuça na cesta de piquenique. Pega um pano de prato, uma garrafa d´água, molha o pano e tenta se limpar. Faz o possível com o que tem à mão naquela hora. Ela ouve alguns ruídos e as pessoas batendo palmas e gritando. Guarda as coisas, levanta-se e, quando se vira com a câmera em punho, o que vê é apenas um monte e poeira se assentando e o prédio já no chão. As pessoas começam a deixar o local. Ela fica ali, sozinha, estática, ainda com a câmera na mão, tentando entender o que aconteceu, olhos vidrados, uma expressão desolada e engraçada no rosto. E então dá um profundo grito desesperado e cômico.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

TFP, fundamentalistas e agora...neonazistas!

Galera, é uma vergonha o nível a que chegou esta campanha presidencial. Ruralistas, fundamentalistas cristãos, TFP, grande mídia, todos fazendo campanha para o Serra/FHC, mas agora até neonazistas entraram no apoio ao nosso querido mais preparado dos brasileiros. 

Não tô inventando nada, tá aqui: 

Uma coisa é lutar dentro das regras democráticas, não concordar com o outro e mostrar isso ao eleitor. Outra é chegar nesse fascismo. Estou envergonhado. Nunca pensei que em algumas semanas a gente fosse regredir à idade média. Se eu achava que o pior momento da nascente democracia brasileira tinha sido a baixaria da eleição Collor x Lula, em 89, época em que eu estava na faculdade, esta aqui está batendo de dez aquela. 

Se o Serra/FHC ganhar assim, preparem-se para a enorme conta que todos teremos que pagar depois...

domingo, 3 de outubro de 2010

Grande mídia está em festa!

A “grande mídia” está em festa. Refiro-me, é claro, a Veja, Estadão, Globo, Folha e outros asseclas. Seu candidato foi para o segundo turno. Empurrado pela Marina, pois o Serra não sai de 32% dos votos há um par de anos. Muita manipulação e pouco jornalismo. Inverdades e mentiras deslavadas, depois não desmentidas ou realizadas em algum canto de página, bem longe das manchetes que deram espaço às “denúncias” iniciais. PSDB, Serra e seus sipaios sendo, como sempre, tratados com melzinho na chupeta. Marina, que antes era mostrada como uma pobre subnutrida do Norte que atrasava o crescimento em seu cargo no meio ambiente, agora é tratada com deferência e a maior consideração, sem um pingo de questionamento sobre suas vagas promessas de “crescimento com preservação”. Coisa primaríssima. Tudo pra garantir o segundo turno.

Não sou moralista. Esse é o jogo. Desde o primeiro ano de faculdade, em que sonhei, com outros companheiros, com a subida de Lula ao poder, e em que todos ficamos frustrados, já sabia que a parada era dura, com o jogo desigual e sujo da mídia e das classes dominantes. O que irrita são interesses inconfessáveis serem travestidos de isenção e apartidarismo. E o que irrita mais é a massa de manobra – ou bucha de canhão – da classe média se prestar ao papel de acreditar cegamente nisso tudo, sem questionar, sem pesar as coisas, repetindo bordões pensados em redações escusas, realmente acreditando que um lado é o demônio e que outro lado são o senhor e todos os seus anjos, como se esse maniqueísmo primário fosse possível neste incoerente pedaço da realidade espaço-temporal em que vivemos.

Por outro lado, é bom ter esse bombardeio todo. Lula foi castigado por essa ainda poderosa mídia durante oito anos. Houve motivos para tal? Certamente. Mas o outro lado também teve motivos de sobra para ser cobrado e denunciado, mas, como é amigo de ideologia desses pequenos feudos midiáticos, seus escândalos, erros e incompetências sempre foram convenientemente varridos pra baixo do tapete. Demonizar um lado, enaltecer o outro, essa parecia ser a receita do sucesso para tais redes. Mas eis que não conseguiram. Por mais que batessem, por mais factóides que criassem, mais a popularidade do cara subia. E aconteceu algo semelhante nesta fase das eleições com a Dilma. Capas e mais capas de todos os veículos, alguns chegando ao patético de ter praticamente todas as chamadas com críticas a Dilma, ao Lula, ao governo ou a todos eles juntos. Aí a coisa fica descarada demais. Fatos concretos misturados a delírios. Mentiras sendo apresentadas por condenados pela justiça, estes por sua vez sendo apresentados como honrados homens de negócio. Só faltou chamar o Beira-Mar, colocá-lo num terno Vila Romana e mandar ele sapecar algumas denúncias nas páginas amarelas no meio disso tudo. Não deu tão certo quanto esperavam. Antigamente, essa artilharia pesada teria realizado seu intento com um pé nas costas. Hoje, não mais. E espero que continue.

Há um ingrediente novo nisso tudo: a blogosfera, a tuitesfera e todas as virtuesferas correndo atrás de cada informação, desvendando fraudes, demonstrando contradições, cantando as próximas bolas da vez. O que fez com que o poder se nivelasse um pouco. Mas deixe estar, todos devem ter sua liberdade, que continuem com seu jogo, desde que qualquer um possa fazer o seu também. Falta-nos uma lei de medios, para dar ao cidadão uma forma de lutar contra o avassalador poder de difamação dos grandes conglomerados. Mas isso está longe de ser censura. É apenas justiça. Mas antes de mais nada, não custa nada lembrar aos barões da mídia que, antes de qualquer liberdade, a mais importante é a de expressão, que é individual e intransferível e intocável. Ou seja, se a liberdade de imprensa se sobrepuser a esta, estará fazendo censura e estará tolhendo um direito sagrado e básico dos cidadãos de nossa civilização brasileira. Portanto, é inadmissível que a mídia, ao ser criticada, em vez de rebater as críticas com parcimônia ou, melhor ainda, assimilá-las, criar uma conspiração inexistente contra a liberdade de imprensa, dizendo que querem tolhê-la. Ninguém nem remotamente sugeriu isso, mas ela cinicamente usa seu poder para tentar botar fogo no circo, e dane-se quem saia queimado ou pisoteado no desespero que se segue.

Tinha dito lá em cima que, apesar dos engulhos que tive nesta campanha e sabendo que, caso Dilma seja eleita, os próximos quatro anos – ou oito, dependendo do andar da carruagem – serão de puro ódio e preconceito destilados cuidadosamente, achei e acho bom esse tipo de atitude. Explico: ninguém fica bom no que faz sem ter desafios. Nenhum lutador chega a finalizar alguém se não tiver adversários que deem porrada sem dó nem piedade. Samurai algum poderia sequer pensar em segurar sua primeira katana sem antes ter sofrido humilhações horríveis nem suado sangue frente a seus mestres. Ter inimigos poderosos é o caminho mais curto para a perfeição na postura de defesa e eficácia mortal nos golpes. Daí que é justamente isso que essa parcela e mídia tem feito. Serra, Alkmin, DEM e PSDB, e agora PV, ao contrário, sempre foram tratados como perfeitos, contra quem nenhum escândalo foi remotamente investigado e nada nunca foi para nenhuma manchete. Como disse, são os representantes do paraíso aqui na Terra. Só que isso faz com que eles percam a mão, acreditem na própria mentira. Esse tipo de atitude faz com que você abra a sua guarda porque acha que a simples menção de seu nome ou o vislumbrar de sua tez será suficiente para o adversário bambear nas pernas e deixar entrar o golpe fatal. Ledo engano. E isso um dia será a ruína. Deles e dos meios de comunicação. O que quer que aconteça nessas eleições, algo mudou. Não sei se para melhor. Mas mover-se é melhor do que ficar parado no tempo. Se não melhor, pelo menos é menos tedioso e, muitas vezes, mais divertido.

domingo, 5 de setembro de 2010

Terrestres - Umidade do ar

Cara, não podia deixar de difundir esta piadinha infame. Mas nem tão infame assim, vai... É mais forte do que eu... Vá lá...

- Umidade do ar chega a 30% e já ultrapassa Serra.

Ahahahahahahaha! Tá bom, tá bom, na próxima tento melhorar!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Outro dia

Outro dia veio uma mensagem. Que me dizia que delícias inenarráveis do passado haviam batido à minha porta. Não acreditei. Puxei uma cadeira e me sentei à mesa, batucando sem piedade o teclado. Por deus, sim, sim, sim. Faça-me feliz, mande-me pelo éter essas impressões, imagens, sensações adormecidas em um ponto distante do espaço-tempo. Qual o quê. Nada a ver, deixe pra lá, esqueça, não me importo. Não sinto mais falta. Não sinto mais nada. Bem… Na verdade, não vai fazer diferença eu dar apenas uma olhadinha, né? Só uma, um peep showzinho rápido, vai. Não! Não, não, não! Deixa disso, não é necessário. Com tanta sacanagem à vontade por aí, não preciso mais disso. Quer dizer, mais ou menos. Ah, chega! Um banho frio e tudo se arruma. Ou desaparece, literalmente.

Outro dia um ser bateu palmas no meu portão. Me ofereceu um passe para adentrar os portões do paraíso. Nuvens impressionantemente bem-feitas, luzes aconchegantes, anjos trombeteando na frente e um Jesus bonitão, branco e loiro vindo atrás flutuando em toda sua glória – ou algo que o valha. Eles foram chegando, chegando, as nuvens pareciam rolar em minha direção, as cornetas todas me ensurdecendo, o séquito chegando mais e mais perto, ficando cada vez maior, as nuvens se movimentando freneticamente, as luzes ofuscando tudo e… – Você tem Jesus no coração, irmão? – perguntou o cara, de supetão, me puxando bruscamente de meu devaneio. Então me ofereceu a paz e a vida eterna em troca de alguma coisa, talvez alguns trocados, ou quem sabe uma visita ao templo. Me lembrou das agruras do purgatório e dos horrores de fogo e gelo dos quintos. Quis saber se eu já estava pronto. Não, deixa pra depois. O sol meio quente esturricando minhas ideias. Não quero, a minha praia é outra. Fiquei então sabendo que tinha pouco tempo. A escolha, se não for a correta, será paga com a danação eterna. Ok, ok, já entendi, pode deixar, vou levar essa reconfortante reflexão pra dentro, pra baixo de meu lençol.

Outro dia minha mulher me ligou. Ou melhor, minha ex-mulher. Pra falar de cobranças, é claro. Me execrar um pouco e responder às minhas vis provocações, que eu não sou de ferro. Perguntou coisas de que eu não lembrava, como, por exemplo, por onde eu andava. Me pediu para ter mais juízo e ver se tomava jeito. Uma ponta de algum amor que sobrou? Nessa altura está mais pra piedade com um leve toque de desprezo. Não, deixa disso, não preciso de outra mamãe, sei me cuidar. Ai, que vontade de mandar ela praquele lugar. Mas depois acabo querendo dar uminha rápida, como daquela vez que ficamos sozinhos e acabou rolando, isso há muito, muito tempo. Sei, sei, ela odiou aquilo, sempre me lembra disso. Mas, enfim, as coisas acontecem. Minha filha? Queria falar com ela. Mas não tá nem aí, já tá com quinze anos. Me abandonou. Verme, será por eu ter deixado de falar com ela nos últimos, deixa eu ver, dez anos? Nada a ver, não se pode confiar nos jovens. Não adianta, não tenho jeito, eu sei, eu sei. Não precisa ficar se repetindo. A coisa não pode ficar pior. Mas a gente sempre sabe que pode, sim, é apenas a modéstia humana que nos faz pensar assim. Então tchau. Até nunca mais. Mas o pior mesmo é que eu sempre volto. Ou, na verdade, se eu nunca fui, então eu sempre estou aqui.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Shine on you crazy

Estou ouvindo shine on you crazy diamond, uma das músicas que mais venero. É claro que há milhares de outras que poderíamos citar, tantos outros exemplares de extremos da glória da música. Time, do mesmo pink floyd, por exemplo. Ou a introdução conhecidíssima de also sprach zarathustra. Ou as rosas não falam, eleanor rigby e por aí vai.

Voltando a shine, ao parar ali, ouvindo, me emociono, não sei o porquê, mas provavelmente porque evoca a adolescência, em que o mundo estava aos meus pés, em que tudo podia acontecer, em que nós todos poderíamos realmente brilhar como loucos diamantes.

Em que tudo, por mais banal que fosse, tinha, num futuro difuso e  não-determinado, uma correspondência. Em que as deficiências eram relevadas porque haveriam de ser sanadas. Em que os desejos seriam um dia supridos e levados ao grau de êxtase. Talvez porque simplesmente é uma obra emocionante e não precise dessas muletas nostálgicas.

Mas inegavelmente é uma ode a algum tempo antigo. O valor vem do fato de que, apesar de eu me achar uma ameba, e de realmente ser uma ameba, no fim, eu gostava daquela fase.

Eu e meus diletos amigos não íamos a lugar algum. Nas noites de Santos, Sanvi e Guarú, ficávamos rodando pra lá e pra cá, sonhando com uma outra realidade, mais ampla, que nos suprisse de novidades e aventuras que ali não seriam possíveis de serem alcançadas (no popular, na verdade queríamos trepar, mesmo). Sonhávamos em ir pra São Paulo, a grande capital, onde tudo acontecia.

Era tudo ilusório, claro. SP não era – e não é e nem será – nenhuma grande maravilha salvadora. E cada um seguiu seu curso. De minha parte, minha primeira escala foi Bauru! – algo bem diferente do desejo cosmopolita anterior, bem diferente MESMO!
 
Ou seja, cuidado com o que deseja, pois as coisas podem não sair bem como você pensa, pra ser o mais delicado possível. Ou, como diz Paul The Rabbit: quando você realmente deseja alguma coisa, o universo inteiro conspira contra você…

domingo, 15 de agosto de 2010

Terrestres - Sujeira de Época

­­Cara, sem entrar em detalhes, e sem chegar a ficar discutindo as preferências políticas, todos sabem onde estou, a coisa parece estar pior que em 89… O que a época fez vai além do que sempre fez a veja. Está tentando semear o medo. É jogo baixo, sujo, coisa de quem na faculdade eu definia como porco, hoje digo que é uma bactéria, algo desprezível. Não vou justificar nada, mas, para os classes médias que só assistem à globo e que só leem claudia e veja, vamos falar da time-life? Da AP? Das kombis da folha emprestadas à tortura e morte? E se houvesse algum guerrilheiro verdadeiro, verdadeiro mesmo, como che e fidel, nas fileiras atuais? A tal anistia total e irrestrita não valeu pra todos? A grande mídia não reagiu desproporcionalmente quando se ameaçou tentar avaliar a particiação de agentes do Estado na tortura e morte de pessoas? É tudo muito sujo. Enfim, caras, levantem-se! Quem trabalha pra esse lixo, lixo virará! É um tiro no pé, como tem dito muita gente por aí. Esses jornais, TVs e revistas não sacam que, quem quer que seja que suba ao poder, a vida vai continuar. Mas credibilidade perdida não volta jamais. Isso pra quem tinha alguma, é claro…

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Terrestres - Momentum

É engraçado.
As coisas mudam.
Mas não saem do lugar.
Ontem mesmo tive traumas, alegrias, experiências comuns, poucas extasiantes.
Hoje não lembro nem o que comi no almoço.
Talvez não se saiba onde queremos chegar.
Mas não sabemos sequer se nos movemos.
Espaço, tempo, memórias?
Qual é a dimensão que ocupamos, afinal?
Será um estático momento capturado no tecido do que chamamos de realidade?
Mas qual?
Qual é a cor do teu vermelho, caro irmão?
Que cheiro tem a tua cidreira, irmã?
A que tipo de loucuras o amor leva você, prezado companheiro?
Ou em que bizarra retidão o mesmo amor pode te encarceirar, querida amiga?
O que era suficiente deixa de sê-lo.
O que era ameno torna-se áspero.
O passo certo agora foge aos pés.
Tua sombra não luta mais, triunfante sobre o próprio dono.
O afã das respostas, cara alma, só trará ânsia.
Trará um mundo em dimensão negativa.
Colapsado sobre si próprio.
Até restar uma ideia do que seja
um nada.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Terrestres - Peitando a Vênus Platinada

No comeco achei que Dunga era um chucro imbecil. Mas dai me veio a ideia de que ele nada mais é do que flor do Pampa, com sua providencial finesse de todo este Sul maravilha, tão mal compreendida em outros rincões do país.

Depois achei que era um espião internacional, por escalar uma seleção tão anacrônica, fugindo da lógica comum e nos fazendo tremer nas bases. Mas não dá pra negar que, pelo menos até agora, o cara ganhou o que tinha que ganhar e se mantém na trilha para uma campanha razoável na Copa.

Acho-o um cara chato, sempre reclamando, sempre dizendo que a imprensa é isso e aquilo e tudo o mais. Não que ele não tenha razão. Mas, poxa, é futebol. É diferente de invenção de fichas falsas, falsos dossiês, falsas reportagens e tudo o mais, coisa muito mais importante até para o futuro do país.

Então ficava achando que, caraca, basta fazer cara de paisagem. Reclamar um pouco e deixar passar. Afinal, tá todo mundo ganhando o seu. Vencendo ou perdendo, todos vão encher mais ainda o rabo de grana e os únicos otários que continuarão sem um puto serão eu e outros 190 e tantos milhões de cucarachas.

Neste último jogo, achei que ele havia se excedido. Puxa, xingar um profissional de la prensa! Onde já se viu? Mas peraí. O cara era da Globo e tinha toda pinta de até ter algo pessoal ali. Mas, enfim, foi um jogo tenso, o cara é irascível, os ânimos se alteram. Coisas assim podem acontecer. Muitos jornalistas já passaram por muito pior sem se alterar, deixando pra lá em prol de levar a informação pra casa.

Aí é que a coisa começa a mudar. Editorializando, Globo, Folha e quetais começam a condenar o cara. A pedir a cabeça do técnico em plena Copa! Quem eles acham que poderia assumir, quem sabe o Barreto, roupeiro do time? Ou quem sabe seja a derradeira chance de tentar emplacar o Serra em algum cargo de importância antes da aposentadoria final no fim deste ano. Bom, a dita "grande imprensa" começou a pedir moral e bons costumes. A dizer que isso não é compatível com o cargo que o cara tem. Como se a moral dos donos desses veículos fosse algum exemplo a ser lembrado.

E eis que circulam histórias na net de que a dona Fátima um dia desses pousou com toda a traquitana na porta da concentração dizendo que iria fazer uma matéria "excrusiva" pa Grobo, tipo, saiam da frente que chegou quem manda no Brasil. E dizem que o próprio Dunga teria ido lá e dispensado a dona, dizendo que naquele pardieiro mandava ele e que não tinha esse papo de exclusividade.

Então, começando a juntar os pontos...

Em que pesem as dúvidas, o cara fez o que nem o Lula tem coragem: peitar ao vivo e a cores a "você sabe quem", ou a "não diga esse nome!".

Não é que por baixo desse Dunga pode existir um coração de Branca de Neve?

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Terrestres - Esta é uma obra de ficção

  • Vejam o seguinte comentário no Painel do Leitor, da Folha:
Fernando de Barros e Silva, na coluna “Verde água” (Opinião, ontem), diz que “Sérgio Cabral surfa tranquilo, com o apoio de Lula e a simpatia da Rede Globo”.
Como o colunista não acompanha o jornalismo local da TV Globo no Rio, acredito que a afirmação seja fruto de falta de conhecimento ou de preconceito.
A TV Globo do Rio cobre o governo Cabral da mesma forma que a Folha cobriu o governo Serra e outros. Assim como a Folha, a TV Globo é apartidária e busca a isenção em todas as suas coberturas.

Agora vejam quem assina o comentário:
Ali Kamel, diretor da Central Globo de Jornalismo (Rio de Janeiro – RJ)

Ahahahaha! É ou não é uma ficção? Fico imaginando o Kamel dizendo isso ao vivo pro Frias, piscando marotamente um olho quando fala a última frase, não dá pra imaginar?

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Uma busca - 2

Falta de modos daquele dinossauro do pensamento retrógrado! Bem, bem, continuo em minha busca incessante por um homem. Sem ele, a criação não terá sentido, cairá de vez a noite eterna sobre o vão entre nossas orelhas!!! (Esconde o rosto entre as mãos.) Credo! Assim nem eu aguento, também não é preciso esse drama todo! (Vai chegando no Colombo, que está sentado.) Olá, senhor! Posso questioná-lo sobre suas crenças neste mundo?

Colombo
Na verdade, não há o que dizer sobre o que eu posso lhe dar, rapaz! Minha missão é escrever. É o que gosto e o que sei. Crio e recrio informações fúteis, pedaços de verdades, muitas mentiras, nada que seja real nem mesmo imaginário. As palavras como poder para criar… (pensante) hummmm… mais palavras, creio eu.

Zac
(Com entusiasmo crescente.) Palavras, sim! Palavras, é um caminho! É uma técnica com possibilidade estatística de sucesso bem maior do que outras. Mas histórias como quais?

Colombo
Ah. Sim, estão escritas aqui, em algum e-mail que está no servidor central, deixe-me ver. Ah, esta é interessante. (Pigarreia.) Aham! Aham! Bem, muito já havia se falado de luzes, estrelas e o próprio sol. Estudos avançadíssimos deixavam já a matéria desnudada, suas vergonhas aparecendo, mas sem nunca mostrar mais do que deveria a boa decência. E havia, claro, todo tipo de rumores, boatos, histórias, zuações sobre luzes incompreensíveis e fora da realidade. Pois bem, certa vez um desses fenômenos ocorreu verdadeiramente. De uma estranha e rara luz com comportamento incompatível com qualquer tecnologia sonhada na época, saiu uma espécie de nave. Pelo seu formato engraçado e incomum nas fantasias de cada um dos habitantes das imediações, estes apelidaram o curioso objeto de disco voador. Oh, oh, oh, oh! Uma alegoria pra lá de imbecil, cá entre nós… Enfim, os relatos foram muitos e alguma coisa foi documentada, mas na verdade nada nem ninguém poderia confirmar ou negar tais fenômenos. Alguma coisa sairia nos diários informativos, mas quem botava alguma fé nesses fatos ganhava a pecha de lunático – nominação ironicamente conveniente para o momento, convenhamos – e era prontamente relegado ao rol dos ignoráveis. (Zac está dormindo, roncando estridentemente. Colombo nota e o acorda, bravo). Ei! Você não está prestando atenção! Estou a contar uma história de importância ímpar! Acorda! Ei, acooordaaa! (Zac acorda assustado.)

Zac
Hã? O quê? Ah, desculpa, meu velho, mas tava meio difícil ficar acordado com todo esse teu lero-lero. Credo, cê me deixou na maior lombra, meu! Bom, deixa quieto. Valeu, hein, coroa, preciso ir nessa, tá? (Sai.)

Zac (Quando está sozinho.)
Queísso, as palavras até podem ajudar. Mas atrapalhar desse jeito, tá doido! (Empolado.) Não, esse ilusionismo vernacular não é a resposta! (Para e pensa no que falou, com espanto.) Nossa! De onde eu tirei isso? Sai fora, meu, acabei ficando contaminado com o trololó desse matusa, eu, hein? Bom, tô voltando ao ponto de partida. Continuo na mesma. 

(Caem os panos.)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Uma busca - 1

  • Esta série nasceu como um roteiro para um projeto de teatro de bonecos, que não vingou. Ainda pode render alguma coisa, vamos ver onde chegará. 
 Zac
Procuro um homem. É, precisa ser justo, humilde, inteligente, bom com os animais e sensível com as mulheres, que isso elas não perdoam. (Divaga.) Embora normalmente elas acabem preferindo os brucutus com bíceps maior do que o QI… (Divaga mais ainda.) Ah, Sofia, ah!. Você se foi e me deixou estendido no chão, moribundo, agonizante… (Chora.) Buuuuuuuh! Linda, delicada, uma coisa… Aquela ingrata! Vagabunda! (Recobra a razão.) Aham! Bom, como eu ia dizendo, procuro um homem que possa entender e resolver os dramas humanos, que salve a humanidade com seu toque de gênio sobre as relações entre as pessoas e as nações. Será que ele existe? Não importa, essa é minha busca. Vamos ver o que me reserva o destino. (Caminha entre casas, carros, escombros, lixo, luxo etc.) 

(Encontra o Dino, o dinossauro colorido, olhos esbugalhados, bocarra, quatro enormes caninos que nem cabem dentro dela.) 

Zac
Ah! Eis um ser pensante. Não diga nada! Deixe que eu adivinhe. Pela tua fisionomia, és bastante voraz por informação e conhecimento. Esses grandes olhos fitam com profundo interesse a realidade da humanidade e processam nesse cérebro privilegiado contas e equações que poderão salvar o mundo da ruína em que se encontra. Acertei? (O Dino nem dá bola, fica ali com a cara de sonso. Dá umas cheiradas nele.) Opa, o que é que você está pensando? Por favor, compostura! (O Dino vai cheirando Zac mais e mais e abre o bocão.) Peraí, eu falei em voracidade em sentido figurado, é uma metáfora, você não entende o que quer dizer isso? (O Dino dá um aproach mais forte e Zac sai correndo, o Dino sai atrás). Ahhhhh! 

(Caem os panos.)

terça-feira, 20 de abril de 2010

Uma questão de postura

Recebo mais uma vez matérias desqualificando o Lula na Financial Times, esse templo do liberalismo. E mais um monte falando de falcatruas e sujeiras do governo. Estou cansado de ficar respondendo o que eu acho. Que a questão é de POSTURA. Para evitar ficar falando a esmo, resolvi postar aqui uma resposta-padrão, tentando pelo menos incutir na cabeça de alguns que o que eles acham que veem não é bem o que veem, o que acreditam não é a "VERDADE". Que a questão é ter ou não ter orgulho e amor-próprio. Que é peitar os neoimperialistas. Segue minha virtual resposta a mais uma batelada dessas pseudoargumentações via e-mail:

Não se trata de honestidade. Porque se for enumerar as sujeiras, tenho uma lista enorme de merdas feitas por FHC, Serra, Covas e quetais. Só pra começar, o PSDB inventou o mensalão na época da emenda da reeleição. O Azeredo está aí que não me deixa mentir. E tem muita, mas muita sujeira deles. Então, não adianta ficar se fazendo de puro, de honesto. A diferença é que a Veja não estampa o Serra e as denúncias contra ele. Só faz essa caca que fez agora, cópia descarada da foto do Obama na Time, já o tendo como eleito. É claro, tem um monte denúncias sobre favorecimento da Abril, de que o Estado de SP compra milhares de exemplares deles SEM LICITAÇÃO, então eles têm que devolver a gentileza. E a Globo também, já que está sendo acusada de ter recebido um terreno grilado pelo Estado pra fazer sua "escola multimídia" no Brooklyn.

Mas não é nada disso. A questão é de postura frente o mundo. Tem é que peitar os EUA e a Europa, esta é a NOSSA relação com o mundo, não deles. Por que ninguém fala em cortar relações com a China, que NÃO é uma democracia? Por que a Grã-Bretanha e os EUA não fazem isso, já que são os paladinos da justiça no mundo? Porque não interessa a eles. Mas interessa a eles que a gente se dê mal com esse povo, pois assim eles mantêm o poder. Eles nunca estiveram nem aí pra gente. Mas agora, que somos uma economia em crescimento, crescem o olho. E já que agora a gente interessa a eles, então eles que ouçam o que a gente tem que falar.

O que a direita não sabe é conviver com a democracia. Hugo Chavez é fanfarrão? Sim, mas FOI ELEITO DEMOCRATICAMENTE DENTRO DAS REGRAS QUE A CONSTITUIÇÃO DELES PERMITE. Está mudando a constituição? MAS DENTRO DO QUE PERMITE A LEI. Foi o que fez FHC com a emenda da reeleição. E conseguiu, sob denúncias, mas enterrou todos os pedidos de abertura de CPI, e ninguém pediu um golpe de estado nele.

Aqui, a direitona se une com a Opus Dei no Instituto Millenium e ainda dá cadeira de honra ao Marcel Granier, da RCTV. Sabe quem é esse? É o cara que apoiou integralmente o GOLPE DE ESTADO na Venezuela, quando depuseram o Chavez em 2002. É isso que o Mainardi, o Jabor, o Az(ev)edo gostariam, de ACABAR COM A ESQUERDA (palvras do Jabor, não minhas). Esse Granier tinha que estar preso, pois o que fez foi um CRIME CONTRA A CONSTITUIÇÃO DO PAÍS. Mas não, ele vem pro Brasil e é tratado como herói pela Veja, pela Folha, pelo Estado, pela Globo, pelo PSDB, pelo DEM. Daí você quer argumentar? Quer dizer que esses caras são puros e geniais? Ah, não.

Isso foi o que começou  a acontecer em 64, quando a classe média, empurrada pela mídia (Estadão, Globo, Folha, principalmente), saiu às ruas pedindo por um golpe de estado. E foi o que deu: gente torturada, sumida, acabada. E tem gente que tem coragem de tachar quem pegou em armas de "terrorista". Ou seja, sua mulher grávida está sendo estuprada numa cela, seu filho, se não morreu, é sequestrado e dado para a mulher de um general imbecil qualquer, ela é jogada no mar, e o que se espera de você? O que se espera da sociedade? Que resista, que lute. E foi aquela merda toda. A questão aqui é evitar que se invente isso de novo. Estamos em um país democrático, somos um país de respeito e queremos ser respeitados. Mas a própria mídia joga contra. Está morrendo, é um suicídio, pois o que sobra é falta de confiança e raiva de quem está do "outro lado". O mais honesto seria declarar apoio, criticar em editoriais. Mas manter uma cobertura equilibrada. Mostrar também os podres do "seu" lado, e igualmente as coisas boas do "outro" lado. O que é insuportável é essa hipocrisia de se dizer "isento", "buscador da verdade", quando a realidade é pior do que pau de galinheiro. Mas acho que é pedir muito, pois quando se começa a MENTIR, isso mesmo, MENTIR em público, a coisa já passou do ponto de volta.

Mas fiquem frios, direitistas, se o Serra ganhar a eleição, a gente vai voltar a tirar os sapatos na presença dos gringos, vamos vender a Petrobras inteira, vamos permitir novamente a farra no sistema financeiro e vamos novamente nos ajoelhar. Afinal, é pra isso que a gente serve, né?

segunda-feira, 19 de abril de 2010

De volta à sujeira de 1989

Cara, realmente dá nojo. Estamos de volta no embate de 1989: Lula x Collor. Os dois personagens principais de hoje, claro, não têm o carisma daqueles lá. E muito menos um deles seria um dos brasileiros mais populares na Terra, altamente influente no modo como o antigo dito terceiro mundo se porta hoje, peitando quem se achava dono vitalício do planeta, trocando em miúdos, EUA, Europa, Japão e asseclas.

Reaças em geral podem torcer o nariz, mas o Lula is the man. Sempre votei nele porque ele é o ungido, e aqui não vai nenhuma tez religiosa dentro, quem me conhece sabe que eu perco uma unha, mas não dou mole para as religiões messiânicas. Mas porque sempre soube que ele era uma resistência. Tenho o prazer de ter participado dessa história, de ter votado nele na adversidade, de tê-lo visto naufragar contra o neoliberalismo dos anos 90, de ter confiado e agora ver que era o cara certo.

Não me venham com ladainhas. Não me venham listar corrupções. Nunca tive a ilusão de que o poder fosse limpo. É sujo, e quem se enfia nele se emporcalha. Mas venho novamente lutar contra um jogo mais sujo ainda, do poder sem escrúpulos, dos donos da mídia, dos capitalistas selvagens que, apesar de mamarem pra caralho nessa onda de crescimento econômico, se articulam porque a única coisa que veem é o cifrão na frente, a lavagem cerebral da privatização de tudo, a ideia de que colocar movimentos sociais e pobres na linha do diálogo – ou do simples atendimento de desejos básicos como uma coca-cola, geladeira, casa, carro e até viagem de avião – é algo negativo, algo condenável.

Não adianta vir com discurso. A questão não é saber da verdade. Mas saber qual é a verdade que você tem. Quando todas as grandes mídias se reúnem sob o Instituto Millenium e falam com todas as letras que é preciso lutar contra o governo e, se possível, nas palavras desse gênio que alguns acham que é o Arnaldo Jabor, chegar a um momento em que acabasse essa “esquerda que não deveria existir˜, ou seja, em que teoricamente eu posso estar inserido com mais milhões de pessoas, o que eu devo esperar? Quando esse senhor aparece em horário que vale milhões na TV vociferando suas “verdades”sem um mínimo de compromisso com fatos, inventando e distorcendo, dá medo. Isso que é ser um verdadeiro democrata!

O que dizer da Veja?, ora, mas a Veja já não conta mais, não é mesmo? Nem vale a pena falar, é a borra da merda de cachorro que se limpa do sapato quando se chega da rua emporcalhando a casa toda.

E a Folha? Um abjeto grupo que apoiou a ditadura – inclusive, segundo consta em várias referências que podem ser encontradas pela rede afora, fornecendo suas prróprias kombis de entrega dos jornais para transporte de presos políticos (quer coisa mais abjeta que isso?) – e que depois reconquistou audiência com um jornalismo ágil e uma postura de estar ao lado do leitor (na época, uma falácia, mas crível para muitos, como percebemos agora) para jogar tudo fora numa relação promíscua com o PSDB e, pior, com unha e carne com o Serra, que, segundo consta também, costuma ter poder de emprego ou rua para os próprios jornalistas da casa. Que se danem, se estão lá e não se rebelam, merecem o que têm. E aquela coisa, chamada Cantanhede, toda prosa, toda animada com a festa do Serra, dizendo que a deles é uma massa “cheirosa”, só se iguala à indecência do Casoy tripudiando e humilhando os garis em rede nacional. É nesse tipo de pessoa que a classe média, infelizmente, acredita, que põe uma fé que está “isenta”, que está dizendo “a verdade”. E as mentiras – ficha falsa, artigo do estupro do Lula, a frase que Dilma não disse etc e tal? E, pior, a senhora Judith, executiva do jornal e presidente da ANJ, dizendo que os meios de comunicação devem fazer o papel da oposição que – coitadinha – está fragilizada nesse momento. Isso que é uma verdadeira democrata! Onde ela estava quando o Lula perdia uma eleição atrás da outra e a esquerda parecia fadada a sumir sob a avalanche neoliberalizante dos anos 90? Quem estendeu a mão? Quem defendeu sua existência para o aprimoramento da democracia?

O que falar da Globo, construída sob patrocínio ianque para dominar corações e mentes na ditadura, que ignorou e depois foi foi vaiada nas diretas já, que fez a edição do debate Collor X Lula, que tratou como quase inexistentes o mensalão da emenda da reeleição, a privataria, o Sivam, a paridade do dólar, o Daniel Dantas, as ambulâncias do Serra, o PCC, as enchentes de SP (tudo culpa da chuva, ao contrário do Rio, em que a culpa é só do governo) e muito, muito mais? E o jingle da campanha de seus 45 anos – com tipologia idêntica ao 45 do PSDB – e com toda a família global falando: queremos mais, a gente faz mais, a gente é mais, tipo alguma semelhança com a campanha do vampiro dos Bandeirantes do “Nós podemos mais”? Ainda bem que a blogosfera bombou e a Globo retirou a campanha do ar um dia depois de ela ter início. Eles estão vendo que logo logo vai voltar o velho e bom refrão: “O povo não é bobo…”

Enfim, é nisso tudo que tem gente que ainda acredita. Não entendem que não se trata só de uma escolha partidária, mas de modelo. Um modelo imperfeito, é claro, mas um modelo em que a gente levanta a cabeça e fala pro Obama: meu caro, aqui agora mando eu. Em que a gente pode comprar o básico e dar um presente chinês, um que seja, para o filho no Natal. Em que milhares de vagas ociosas em faculdades país afora agora estão preenchidas por alunos das classes mais baixas. Em que tem empresário enchendo o rabo de ganhar dinheiro e ainda cospe no prato que come. Um lugar em que a desigualdade está diminuindo e em que não foi preciso privatizar um único parafuso da Petrobras pra gringo nenhum. Imagina o que a direita está esfregando as mãos. Devem estar falando: vamos vender tim-tim por tim-tim. E depois que se dane. Vamos voltar a obedecer o Tio Sam, tirar os sapatos na sua presença, vamos isolar Cuba, o Irã, quem sabe a China, aquele paizinho onde não tem nenhuma democracia. E vamos dizer aos EUA que eles podem continuar a dar rios de dinheiro aos seus agricultores e podem continuar taxando nossos alimentos e nosso álcool. Vamos abaixar cabeça. Vamos nos colocar em nosso lugar, que é o terceiro mundo, e ficar feliz quando eles nos passarem a mão na cabeça de vez em quando e nos jogarem um resto de osso carcomido.

Sinceramente, não é esse lugar que eu quero viver. O governo faz coisa errada? Sim. O próximo de esquerda vai fazer merda? Provavelmente. Mas pelo menos são e serão merdas novas. Não datadas de 500 anos. E com certeza serão merdas com recursos próprios. Não emprestados a peso de ouro escravo do FMI.
  • Para uma comparação legal de 1989-2010, veja no Azenha, aqui.

sábado, 17 de abril de 2010

O universo em um pedaço de marguerita mastigado

Não tenho nada na cabeça mesmo. Não neste instante. Nem em outros precedentes. Engraçado, né? Porque se eu estou pensando nisso agora é porque, no fim, tenho alguma coisa na cabeça. Mas não é a isso que me refiro. Esqueço rostos e nomes. Que vergonha. Tenho que fazer uma listinha e discretamente olhar enquanto cumprimento os convivas da festinha de seis anos de meu filho. Cobradores tentam ligar em meu celular, mas nem a caixa postal lhes dá uma informação que preste. Lentamente, vou seguindo a lâmina de barbear pelo meu rosto sem me tocar que a barba já se foi ralo abaixo há pelo menos quarenta minutos e trinta e três...trinta e quatro...trinta e cinco segundos. Meu último relógio parou no horário de verão de 2001 e nunca mais voltou. Embora tenha capacidade para aguentar uma coluna de água de 200 metros sem se espatifar, dorme silencioso na profundidade de dez centímetros da gaveta de meu criado-mudo. Na cabeceira, agora me lembro, abundam diversos ecos de algo que um dia achei que fosse cultura: HQs, histórias de heróis da navegação antiga, ultracosmologia aplicada, mitologia grega, ficção científica e o jornal de anteontem, pessimamente editado e escrotamente posicionado. Me lembro que faz algum tempo que não compartilho esta cama, ou qualquer outra, e fluidos corporais com ninguém. A saudade de alguém que não existe começa a bater de novo. Mas me lembro que da última vez acabou, pra variar, com um basta! Chega de lamúrias, mulher! Pra que se arriscar a me fazer feliz se há tanta satisfação na incompreensão alheia? Mas deixa estar. Deixa mesmo. Sem sentido, sem tato, sem visão, sem uma companhia que preste, mesmo sabendo que abundam todas as taras na rede. Adoro rede, sim, agora lembro. No Ceará, certa vez, aprendi a dormir numa até de bruços, até roncar. Me arrisco a dizer que se lá morasse não teria dificuldade em fazer uma prole sem nunca ter que colocar de novo os pés nesse mundo cruel. Mas o diabo é que sempre que estico a rede ou faz um sol da porra que esturrica a pele ou chove e venta até cair árvore. Então não estico a dita e garanto o tempo no meio-termo ameno. Quem disse isso? Não, eu não falei menas. Nunca falei menas e nunca falarei menas. Se alguém aqui quiser falar menas que vá pra uma rede menas lotada. Detesto quem fala menas. Isso me deixa fora de si... Bobagens. Insidiosas bobagens cretinas, céticas e cínicas. Três Cs. Cutelo, curitibano e culatra. Três... Ah, o pastel já encheu de ar, está rescendendo o cheiro de queijo e gordura e deixando a boca cheia dágua como só um pastel de feira pode fazer. Peço uma coca pra rebater a ressaca, que já tá indo embora, pois estou chegando da noitada e a feira está apenas começando. Durmo, esqueço. Já esqueci. Outra hora eu lembro. O telefone toca insistente. As pessoas deveriam ter vergonha de usar esses aparelhos infernais. Atendo. Sou eu mesmo. Meu alter ego, que ficou estendido no quintal, não o deixei entrar em casa. E agora ele está puto. Diz que vai quebrar tudo. Que minha branca de neve, os anões e todos os malditos sapos em poses duvidosas em cima de cogumelos de meu jardim irão pagar o pato se eu não liberar pra ele. Isso não. Não quero que ele volte, com sua arrogância e sua depravação que já me custaram alguns dentes da boca e uma centena de zeradas sociais. Mas isso não, ele fez meus queridos enfeites reféns. Ofereço o pinguim da geladeira, mas, segundo ele, não é suficiente. Ofereço um plus: meu papai noel na cadeira de praia, então. Muito pouco, fala ele em uma voz rouca e ameaçadora. Consigo apenas um anão. Eu queria o Dunga, mas ele só me dá aquele idiotinha do Dengoso, meio viadinho. Mas é melhor do que nada. Suspendo as negociações para até depois do almoço. Vou almoçar pizza amanhecida. Ou seria entardecida? Ah, antigas emoções não morrem jamais. Odores nos captam para memórias envelhecidas, mas prementes. Fazem parar o tempo, esse é o potencial quântico da mente de que tanto falam. Inspiro, expiro. Ah! Caio em uma crise de tosse que quase me faz cuspir um pedaço de pulmão. Me assusto quando voa uma pasta avermelhada de minha boca, mas por sorte é apenas um pedaço de marguerita semidigerido. Olho aquele troço no chão e percebo que tenho o dom da clarividência. Alguns leem búzios, outros o voo dos pássaros. Uns leem a mão, a íris, o cotovelo e o vão entre as orelhas. Mas eu descubro que posso ler restos de comida mastigada. E nela eu vejo. E assim compreendo. O futuro, vejo à minha frente, serpenteando, cada minúsculo espaço de tempo possível fazendo um desenho espiral na vastidão do cosmos. Sim, eu deveria estar ali, mas na verdade estou aqui, vendo que se eu estivesse ali eu não teria que passar a raiva de ter que atender novamente ao meu estridente telefone, bem feito por querer ser moderno e gastar os tubos num telefone retrô com aquelas campainhas penduradas no lado. Alô, sinto muito, mas não estou no momento. Na hora do piiii! deixe algum recado que eu piiii! O sujeito do outro lado me manda tomar no piii!, será que é algum amigo? Vai saber, quando começa a elogiar assim, é melhor desconfiar. Não importa. Já me distraí novamente e aqui estou pensando em como vou escapar desta vespa gigante que entrou se debatendo pela janela. Ela voa pra lá e pra cá e eu, horrorizado pelo seu tamanho. Certa vez, estava numa ilha semideserta – e na verdade, era uma semi-ilha –, e eu vi vespas gigantes, do tamanho de uma mão. Elas se escondiam em buracos no chão que mais pareciam tocas de cobra. Devem ter comido as cobras pra morar nos buracos. Isso se passava enquanto eu me hiptnotizava pelos devolteios da vespinha lá de casa. Não, não, ela veio pra cima de mim, e agora? Saio correndo pelo corredor. Aha! Ficou pra trás. Não! Ela veio no meu vácuo, meu desespero aumenta. Quanto mais eu corro, mais ela encosta. E agora, o que faço? Corro mais, e ela no meu cangote. Entro correndo no quarto, me jogo na cama, ela passa zunindo por cima de mim e sai pela janela aberta. Rolo de barriga pra cima e me dou conta, sou mesmo um nada, um encostado, não faço as mínimas tarefas, lembro de que tem uma coisa que há anos venho prometendo fazer e que não fiz. Aquele descascado ali no teto, eu tinha dito que iria acabar com ele, e lá está, belo e formoso, me olhando, crescendo, biteludo, sendo tomado inclusive por lindas sardas pretinhas, fruto de um emboloramento que vem tomando também a parede, descendo como uma doença contagiosa. Bem, chega. Chega de enrolar. Agora preciso tomar uma atitude. Preciso trabalhar. Sentar no computador e ser um pouco produtivo. Dar minha contribuição para que o mundo progrida. Navegar e… olha esta gostosa aqui. Pronto, já me desviei, preciso de uma punheta urgente, mas meu pau tá ralado das últimas dez que bati ontem. Deixa quieto. Voltando à vaca fria, preciso me concentrar, pensar, criar, relatar. Preciso! Porra! Dormi na mesa. Minha testa está com um vergão de fora a fora, marcada pela borda do teclado. Boa ideia, esta seria uma bela foto para a orelha de minha grande obra. Tá certo que não tem um título ainda. Nem um enredo. Ou uma pesquisa. Nem mesmo um rascunho. Na verdade não tem nem um tema e nem ao menos uma única linha escrita. Está na minha cabeça. Ou em algum lugar, pois se não está aqui, tem que estar em algum outro lugar, não? Afinal, o que não existe tem que existir em algum canto, senão como vai se manifestar em alguma mente? Bem, então está aí. Esse grande nada é minha genial criação. Esse vasto não falar. Um imenso lugar cheio de vazio. Deixa estar. Nada como um dia depois de um dia perdido. Nisso, sou mestre. O artista da desonra. O paladino da falta de nexo. O rei da zerada. Mais uma noite cai. Que tombo. Bom, deixa pra lá. O que tem pra comer? Pão de três dias e feijão gelado, pois acabou o gás. Fazer o quê? Sanduíche de pobre e cama.

Voltei

Fazia tempo que não escrevia nada. Agora volto com mais uma subreptícia crônica de pensamentos aleatórios, como podem ver aí em cima. Quando algum visitante conseguir digerir o calhamaço de texto, vamos em frente.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Terrestres - Serra cumpridor da palavra!

Cesar Ciello também começou assim (Almeida Rocha/Folha)

Ué, não é que o Serra se mostrou um grande administrador e cumpriu uma das mais difíceis promessas de campanha?

Levou água e esgoto na porta de todo mundo...

Outra, outra: dizem que vai criar um importante programa social: o Balsa-Família! (via PHA)

Êita político arretado, sô! Quero que ele faça com o brasir o que o cavalo fez... deixa pra lá.