sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Um universo chamado Karam

Na quinta-feira, 30/8, teve leitura de textos do Manoel Carlos Karam lá no ACT, em Curitiba. Espaço bom pra apresentações. Não foi bem uma leitura. Estava tão bem montado, o recorte e colagem de vários textos de vários livros – de inéditos, inclusive – tão bem concatenados, que parecia um espetáculo (quase) pronto. Os atores, de forma despojada e sem afetação, dentro da máxima de que menos é mais, fizeram uma hora e meia de agradável viagem pelo universo karaniano, cheio de surpresas, de ciclos, voltas, reviravoltas e diálogos impagáveis.

O pior de tudo é que, quando ouvimos ou lemos textos do Karam, no fundo no fundo percebemos que eles não são absurdos como podem parecer a uma primeira olhadela. São elementos quase reais, apenas armadilhas de lógica e raciocínio, com um humor refinado e contundente. Coisas pra pensar e se deliciar.

Em suma, não foi apenas uma leitura dramática, foi um espetáculo. O fato de os atores lerem os textos é ideal para esse caso, de uma coletânea de um dos maiores escritores brasileiros desta e de outras atualidades. Karam paira sempre, às vezes em offs, como personagem oculto.

Os livros em cena, eles próprios – Cebola, Fontes Murmurantes, O Impostor no Baile de Máscaras, Comendo Bolacha Maria no Dia de São Nunca, Sujeito Oculto, Encrenca, Pescoço Ladeado Por Parafusos e outros – também se tornaram personagens, elementos de cena, sujeitos na ação.

Parabéns ao Bruno Karam, à Nadja e aos atores Michelle, Alexandre, Luiz Felipe e Diego. E ao Karam é claro. Como disse o Bruno, o texto ajuda bastante, afinal de contas.

Que venham os Taedos!

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Terrestres

  • Ataque a Fox

Eu queria assistir aos Simpsons. Mas desencanei. Acho o desenho ótimo, escrachado, divertido e desopilante. Em resumo, totalmente esquecível em minutos. Mas prestigiar o filme equivaleria a, por exemplo, pagar para o lançamento, vejamos, de um produto especial da “Veja”. Ou seja, enriquecer ainda mais uma corporação de mídia retrógrada, tendenciosa e com uma verve neoliberal que beira o fascismo.

Explico: os Simpsons é da Fox. E a Fox é o grupo de mídia norte-americano mais tendencioso e belicoso que se tem notícia. Neste exato momento, a rede deve estar nas casas dos estadunidenses mostrando “especialistas” falando sobre a necessidade irrevogável de os EUA atacarem e invadirem o Irã. Sem brincadeira, é sério.

Mesmo com os Estados Unidos tendo largado o Afeganistão ao Alá dará, terem ferrado com o processo de paz entre Israel e Palestina e promoverem a infindável carnificina no Iraque, os caras, do alto de suas torres de mármore, nas mesas de seus restaurantes chiques ou à frente de champanhe francês de 2.000 dólares a garrafa, ficam martelando para que a população peça e apóie mais uma guerra. E o pior é que, assim como ocorreu na invasão do Iraque, as outras redes acabam indo atrás como rebanho. E a merda está feita. E sabemos muito bem pra quem sobra.

Se você quer saber mais sobre a Fox e quer também dar uma força a quem a combate, tem um site legal: http://foxattacks.com/. Eles mostram a farsa em vídeo e fazem campanha para que todos liguem para os anunciantes da Fox e ameacem não consumir mais os produtos enquanto eles anunciarem na rede. Ou para que eles forcem a rede (doce ilusão...) a parar com esse jogo em que só os mais fudidos se ferram mais ainda. Enfim, é uma boa parar de consumir drogas pesadas como Fox, Globo e todas as porras de TVs brasileiras, Veja, Folhas, Estadões e quetais.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Terrestres

  • Ser ou não ser

>Curitiba quer ser grande. Mas ainda é meio matuta no sentido pejorativo do termo. Quer ser sofisticada, mas no quesito qualidade na prestação de serviços e comprometimento não chega nem a ser um burgo. Está mais pra escambo pré-mercantilista. Você compra, o cara não entrega. Quando entrega, entrega errado. Quando você pede pós-venda, se o cheque já foi compensado, esqueça, nunca mais verás a face do gajo novamente.

Em mais uma noite fria desse inverno vai não vai, fica não fica, eu e Jorge, pra variar, fugindo das neuras domésticas, fomos procurar um canto pra afogar as amarguras. Depois de procurar uma pizzaria no meio do nada, que fechou, fomos para a matriz dela, na rotatória do posto Ventania, em Santa Felicidade. A pizza de lá é a melhor do bairro. E não é das melhores, pra se ter uma idéia. Ambientezinho asséptico, o salão tinha 13 mesas – tive a pachorra de contar - e mal comportava a meia dúzia de garçons vestidos a rigor com seus aventais de pizzaiolo.

Beleza, Originais geladas tinha. E pizza também. E nós conseguimos bons brainstorms pra uma nova versão do Santo que estamos pensando pro ano que vem. Coisa pra ganhar algum larjã. Quem sabe.

Daí que justamente pelo local reduzido e pelo grande número de profissionais etiquetados do atendimento, não conseguíamos conversar direito. A cada dois minutos vinha um garçom diferente. “Deseja alguma coisa, senhor?”. “Vai pedir agora, senhor?”. “Posso colocar mais um pedaço em seu prato, senhor?”. “Mais uma cerveja, senhor?”. Não dava nem pra olhar pro lado que já vinha um deles nos oferecer algo que, sabidamente, iríamos recusar. Pôuuurrrra! Em suma, depois de comer uma pizza, chamar uma pra viagem e tomar umas poucas, nos sentimos compelidos a sair do ambiente.

Parece que toda competência no atendimento da cidade se reuniu em um salão de quatro por três metros. O que também é profundamente irritante.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Consórcio da cerveja

Outra mania do Zédu era ir ao consórcio. “Consórcio, que porra é essa?”, eu perguntava. “Vem aí que você vai ver”, dizia. Numa sexta-feira cheguei de Bauru todo curioso, achando que haveria um programa novo na cidade, algo para estimular espíritos e saciar o corpo. Lá fomos nós. Eu, ele e uma rempa de caras. O Gaspar, inclusive. A “descoberta” do consórcio tinha sido do Gaspar, que começou a arrastar o pessoal para esse interessantíssimo programa de sexta à noite. Pior é que eles me disseram que às vezes rolava também às segundas! Figura ímpar o Gaspar. Nunca se sentava de costas para as portas e janelas de qualquer lugar em que estivesse. “Para prevenir e já estar preparado caso alguma coisa aconteça”, dizia ele. Ficava sempre na ponta da cadeira e não encostava. Tomava uma tulipa de cerveja em três únicas goladas.

Voltando, o consórcio vendia de tudo: carro, moto, casa e o escambau. Na sexta eles promoviam os sorteios e lances pros associados poderem retirar seus bens com antecedência. Ficava um gajo lá na frente, no microfone, e umas cinqüenta pessoas sentadas nas cadeiras de plástico branco. Ninguém parecia muito animado, a situação econômica na época tava ruim pra caramba. E tava todo mundo interessado somente em ver se tinha sido sorteado. Assim que as pessoas viam que não tinham sido contempladas, caíam fora, putas da vida.

E nós lá no fundo, uns sete ou oito caras, só dando uma conferida. O Zédu, pra variar, ajudado pelo Gaspar, comandava o suprimento de cerveja e salgadinhos. A gente ia até um balcão onde o atendente já conhecia a galera de longe. “Vocês não são do consórcio, não podem pegar cerveja”, dizia, com cara de poucos amigos. Daí a gente virava as costas e ouvia um “pcht”, e ali estava a cerveja geladinha aguardando. Sacana o sujeito, que dava uma risadinha de canto de boca.
O sorteio rolando, os pobres consorciados caindo fora e uma trilha de cervejas ia se formando aos nossos pés. Ao final da noite, a casa ficava vazia, fim de festa geral. E saíamos com dezenas de copos de plástico cheios de cerveja quente. Divertido pacas.

O que não se faz por um pouco de álcool e (pseudo) diversão...

A seguir: “Tá safo!”