quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Hipocrisia, uma viagem sem volta

Agora é uma avalanche de gente querendo dar seus pitacos sobre liberação ou não das drogas ilícitas. Ah, o IBGE notou que as classes média e alta é que sustentam o tráfico! E a imprensa dá em manchetes garrafais. Ah, vá, não me diga?! (cara de incrédulo, com a mão segurando o queixo) E o gerente da segurança do Rio diz que é complicado dar tiro em Copacabana, daí ele prefere mandar bala só na perifa. Então tá.

Dentro de todas essas, eu tava tentando ver aquele debate oligofrênico da MTV, agora tocado pelo Lobão. Preferia o Cazé, e olhe lá. Sinceramente, o Lobão já deu. Primeiro que a gente não entende nada do que ele tá falando. E ele não consegue rolar o debate de forma organizada. Enfim, não que eu assista muito. TV e sociedade me dão um tédio tremendo. Prefiro ouvir um som, tocar violão, ler as aventuras magistrais de Jack Aubrey, o mestre dos mares, emprestadas encarecidamente pelo Miyashiro, ou coçar o saco.

Voltando à vaca fria, no debate em questão, um psiquiatra e um policial civil na ala dos que defendem o combate forte e militar às drogas. E uns outros no lado contrário. E o Lobão, que já foi preso por porte de uns baseados, levantando a bola pros a favor do combate cortarem, com aqueles lances pífios, tipo, “o cara que consome maconha se envenena muito mais que o cara que fuma cigarro”, coisa que saiu tempos atrás no Terra, na Folha e no diabo a quatro. Materinha de agência, tapa-buraco. (Em tempo: o título desse texto falava isso, mas o cientista em questão ressaltava que era por causa da falta de filtro nos baseados e em caso de fumar muito, mas muito mesmo.) É ridículo, sem importância, mas, pro grande público, o que vale é a primeira impressão, e pronto, estamos já pendendo vergonhosamente para um dos lados. E o cara se esbalda, nadando de braçada.

Argumentos tem dos dois lados. Vício em qualquer coisa realmente destrói e desagrega, ponto para eles. Mas o tráfico enriquece quem justamente posa de bonzinho; sustenta o comércio de armas e mata gente que não tem nada a ver com o peixe. Ponto para o outro lado. E por aí vai. Só que já estamos muito além disso.

Creio que, sim, com bate-papo e educação, é possível que eu, você e mais um monte de gente consiga deixar os filhos longe do vício (não digo do consumo, mas também creio que seja possível). Só que é utópico achar que as pessoas vão deixar de consumir drogas. Pense na gigantesca oferta. Pense que somos 6 bilhões de pessoas no planeta. Então, alguém aí acha realmente que um dia as drogas deixarão de ser utilizadas? Claro que não. E não é uma postura ideológica, mas matemática e física. É estatística. Está no campo das probabilidades e até do princípio da incerteza de Heisenberg. Querer dizer que bater, matar e arrebentar vai resolver a parada é o mesmo que a igreja católica querer que as pessoas parem de fazer sexo sem casamento ou façam só pra procriar, por exemplo. Fora da real, sem noção total.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

...tempo

Se a criação é algo grandioso, incompreensível, se tem uma lógica estranha, mas bela, é de se esperar – manda o raciocínio possível – que seus objetivos sejam também elevados, ou, pelo menos, se não houver objetivo nenhum, que seu desenvolvimento seja de eventualidades realmente fora de qualquer controle. Desse modo, nossa visão do um depois do dois, nossa visão quadro a quadro na janela, nos confortaria porque, por mais estranho, sacal, injusto ou sem nexo que seja o futuro, cremos que ele foi criado ali, naquele momento, que foi conseqüência de atos anteriores e que novos momentos virão e poderão ser escritos de outra forma, com algum sentido que nos satisfaça ou pelo acaso total. É o que nos move, a nossa esperança de cada dia.

Mas se tudo foi expelido pronto, em um milionésimo de segundo, temos, em primeiro lugar, como já disse antes, a questão da arbitrariedade e da predestinação. Não vou falar sobre isso. Vou falar sobre a gratuidade da coisa. Se tudo foi criado de supetão, pensamos, “puxa, as galáxias com sua beleza, as nebulosas, a força das estrelas, o movimento dos quasares, a força dos pulsares, o enigma dos buracos negros”. Tudo isso está de acordo com o que esperamos do espetáculo a que se propôs o big bang. E a hierarquia de forças - o eletromagnetismo, as forças nucleares forte e fraca, a gravidade - colocando tudo em seu lugar: universo, galáxias, sistemas, planetas, satélites e tudo o mais. E a vida? Sua complexidade, sua aparente insuperável lógica em se adaptar e dar respostas evolutivas, a auto-consciência. Também está dentro daquelas grandes expectativas, seja o tempo simultâneo ou cronológico. Tudo muito bonito, engrenado, incomensurável.

Só que daí pensamos: se o tempo foi criado de uma vez, com tudo isso já impresso na tira de filme, fotograma a fotograma, também foram criadas, em pleno big bang, coisas como Maluf, Hitler, Bush, Bin Laden, Sílvio Santos, rede Globo, ditaduras, funk carioca, revista Veja, jornalões, BBB, genocídios? No plano geral da obra, no instante do sopro primordial veio cada um desses lances já pronto? “É o Tchan” estava no projeto de universo já há 14 bilhões de anos? É muito desmoralizante. Sinceramente, se for assim, estou um tanto quanto decepcionado. Daí eu preferir que as cagadas sejam realmente feitas uma depois da outra. Pelo menos temos a ilusão de que somos nós que fazemos ou deixamos de fazer as coisas.

O que um mês de abstinência de álcool não faz a um sujeito...

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

....tempo...

Supondo que o exercício de raciocínio do tempo colocado anteriormente seja válido, quer dizer que, de uma só vez, em um instante, um vácuo de segundo, tudo se formou e também se configurou: o movimento da poeira estelar, sua aglomeração em nebulosas, depois em galáxias e estrelas, algumas se tornando supernovas, outras quasares, outras buracos negros. Até que parte da poeira se adensou em planetas, rochas, cometas e tudo o mais. E mais avante ainda, a vida floresceu na terra, evoluindo até chegar em nossa atual configuração. Mais ou menos 14 bilhões de anos pra chegar aqui. Isso se estivermos, como realmente estamos, vendo tudo passar quadro a quadro em nossa janela.

Para alguém hipoteticamente mais afastado, a visão é, na hora do big bang, da tira inteira do filme pronta. Tudo o que iria acontecer já estava lá. Todo esse movimento, cada grão de poeira cósmica se juntando, cada giro de planeta, cada agitação dos pseudópodes dos primeiros organismos unicelulares, cada passo dos organismos complexos, cada virada de pescoço dos animais superiores, cada simples piscar de olhos dos seres humanos.

Num momento, tudo existe. É a imagem de Brahma sentado sobre a flor de lótus que nasce do umbigo de Vishnu. No espaço de uma piscada, ao abrir os olhos, Brahma cria um novo universo. Ao fechar os olhos, o universo deixa de existir. Ao abrir novamente, um novo universo vem, e assim por diante. A criação e destruição contínuas em cada piscar de Brahma. No posto do nosso observador privilegiado, ele veria o espaço-tempo de uma só vez, todos os momentos, cada movimento, em um único instante.

O universo é imenso. Pode até ser finito (há uma grande discussão sobre se é ou não, dependendo de sua massa total), mas é tão grande que não faz diferença para nossa percepção. Além do que há ainda toda a elucubração sobre o que vem depois de suas fronteiras (outro bate-boca em andamento). Mas voltando ao universo perceptível, é algo fora de nossos parâmetros, toda magnitude desse período de bilhões de anos e também a extensão desses mesmos bilhões de anos-luz de espaço. Enfim, é tão incomensurável que alguns o creditam a deus e coisas do tipo. Deu pra sacar o que estou dizendo, né? Daí é que vem o enrosco.

Segue:...tempo

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Tempo...

Dizem os físicos que o tempo é uma coisa só. Que a sensação de passagem dele que temos, um segundo atrás do outro, é pura ilusão por incapacidade de compreensão do todo. Seria como imaginar uma tela, um buraco na parede em que se passa uma tira de filme. Estando próximos demais dessa janela, vemos um fotograma por vez passando por ali. Uma pessoa andando. Vemos o primeiro fotograma com ela saindo da inércia, o segundo e subseqüentes formando o movimento do primeiro passo, e todos os outros criando o deslocamento. Vemos um após o outro apenas. Não sabemos se no próximo a pessoa vai tropeçar e cair, se vai parar, qual direção vai tomar. Temos apenas a consciência do futuro exatamente no momento em que ele acontece. Acreditamos que o futuro vai sendo construído à medida que ele vai chegando. Cada novo fotograma que passa pela janela, cremos nós, não existia anteriormente, e teria sido criado do nada, ou, talvez, como conseqüência do movimento anterior.

Mas a física diz que, na verdade, o filme está completinho. Se nos afastarmos do quadro a que estávamos confinados, poderemos ver todos os fotogramas do filme, e não somente aquele que está passando naquela janela. Veremos todos os movimentos anteriores àquele e todos os posteriores. Tudo de uma só vez. Tempo total em um único momento. Ele existe assim, mas nós não podemos notá-lo. Pelo menos não ainda. Se é que vamos conseguir ter alguma outra noção além dessa, algum dia. Aqui entrariam questões filosóficas do livre arbítrio X predestinação, mas o caso agora não é esse.

A teoria diz que, no pentelhésimo de segundo do início do big bang, houve uma expansão gigantesca do espaço-tempo. Que elementos com o volume de um átomo se expandiram para tamanhos de galáxias. O tempo está nessa, indissociável que está do espaço. E o tempo teria se expandido totalmente, de lá até o fim dos tempos, de uma vez só. Quer dizer, pensando assim, na verdade, não houve tempo passando, já que tudo se expandiu de uma vez só. Ainda estamos lá, naquele único instante. Só que por falha em nossa percepção, achamos que o tempo está passando.

Segue:...tempo...

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Terrestres – Lixo e outros consumos

  • > Faz tempo que não posto. Falta de inspiração e tempo. Com um mês de atraso queria lembrar algumas coisas de uma semaninha que passei em Santos.

    >> É incrível como cidades como São Paulo e Santos são uma negação em reciclagem de lixo. Em São Paulo, desde que Maluf assumiu, a coisa degringolou de vez. O povo continuava fazendo esforço de ir até os pontos com os tambores de coleta, separavam os materiais e tudo o mais. E depois, tchuuummm, vinha o caminhão de lixo orgânico e misturava tudo. Palhaçada. Em Santos, há vários anos, a cidade passou por uma pequena revolução, com a limpeza das praias, novos serviços, estímulo cultural e separação de lixo. Rolava bem, mas agora vi que a coisa está meio capenga. Os edifícios e condomínios, grande maioria na ilha cada vez mais saturada de prédios, não se mobilizam em separar o lixo.
    E pelo jeito a prefeitura também não faz nenhum tipo de campanha. É horrível. Fiquei no apê da minha irmã e sempre separava os recicláveis, não conseguia, por mais que tentasse, misturar o lixo, que, no fim, tinha o melancólico destino daquele de São Paulo, do Maluf: tudo indo junto pro aterro. Dá uma dor no coração. Se Curitiba consegue ter uma separação e coleta razoável de lixo reciclável, por que São Paulo, não? Vão dizer porque tem muita gente? Mas os impostos são proporcionais, porra.

    >>> Em Curitiba, a coisa é legal porque há coleta do caminhão na porta. Embora lá em casa a gente separe pra dona Nina, uma catadora de seus setenta anos super ágil. Ela passa o dia indo e vindo com um carrinho de mão. Junta tudo em casa e leva pro câmbio verde, que troca o lixo por verduras e legumes. E as associações de catadores também são bastante organizadas.

    >>>> Outra coisa ruim acontecendo: torres e mais torres de apartamentos subindo em tudo quanto é canto. O zoneamento, que já não era lá essas coisas, está indo pras picas. E os tradicionais clubes da Ponta da Praia estão largados, com empreiteiras de olho pra mandar as escavadeiras em cima pra colocar mais prediões na orla.

    >>>>> Mas tem coisa legal em Santos: banda Candieiro. Tem um flautista fantástico, chamado Mogi, que toca de tudo: flauta transversal, flautas de bambu, flauta doce. As de bambu ele mesmo faz. O vocal/violonista, o baixista com jeito de metaleiro e o baterista também são bons. Boa pedida. Tocam no Torto. É só ver.

    >>>>>> Um lance bom pra criançada é o passeio de bondinho pelo centro histórico. Valongo, Panteão dos Andradas, Bolsa do Café etc. Quer dizer, fora esses, muitos dos prédios do centro estão em verdadeiras ruínas. Mas alguma coisa sendo recuperada. João Pedro aprovou a diversão. É isso por hora. Inté.