segunda-feira, 8 de outubro de 2007

...tempo

Se a criação é algo grandioso, incompreensível, se tem uma lógica estranha, mas bela, é de se esperar – manda o raciocínio possível – que seus objetivos sejam também elevados, ou, pelo menos, se não houver objetivo nenhum, que seu desenvolvimento seja de eventualidades realmente fora de qualquer controle. Desse modo, nossa visão do um depois do dois, nossa visão quadro a quadro na janela, nos confortaria porque, por mais estranho, sacal, injusto ou sem nexo que seja o futuro, cremos que ele foi criado ali, naquele momento, que foi conseqüência de atos anteriores e que novos momentos virão e poderão ser escritos de outra forma, com algum sentido que nos satisfaça ou pelo acaso total. É o que nos move, a nossa esperança de cada dia.

Mas se tudo foi expelido pronto, em um milionésimo de segundo, temos, em primeiro lugar, como já disse antes, a questão da arbitrariedade e da predestinação. Não vou falar sobre isso. Vou falar sobre a gratuidade da coisa. Se tudo foi criado de supetão, pensamos, “puxa, as galáxias com sua beleza, as nebulosas, a força das estrelas, o movimento dos quasares, a força dos pulsares, o enigma dos buracos negros”. Tudo isso está de acordo com o que esperamos do espetáculo a que se propôs o big bang. E a hierarquia de forças - o eletromagnetismo, as forças nucleares forte e fraca, a gravidade - colocando tudo em seu lugar: universo, galáxias, sistemas, planetas, satélites e tudo o mais. E a vida? Sua complexidade, sua aparente insuperável lógica em se adaptar e dar respostas evolutivas, a auto-consciência. Também está dentro daquelas grandes expectativas, seja o tempo simultâneo ou cronológico. Tudo muito bonito, engrenado, incomensurável.

Só que daí pensamos: se o tempo foi criado de uma vez, com tudo isso já impresso na tira de filme, fotograma a fotograma, também foram criadas, em pleno big bang, coisas como Maluf, Hitler, Bush, Bin Laden, Sílvio Santos, rede Globo, ditaduras, funk carioca, revista Veja, jornalões, BBB, genocídios? No plano geral da obra, no instante do sopro primordial veio cada um desses lances já pronto? “É o Tchan” estava no projeto de universo já há 14 bilhões de anos? É muito desmoralizante. Sinceramente, se for assim, estou um tanto quanto decepcionado. Daí eu preferir que as cagadas sejam realmente feitas uma depois da outra. Pelo menos temos a ilusão de que somos nós que fazemos ou deixamos de fazer as coisas.

O que um mês de abstinência de álcool não faz a um sujeito...

2 comentários:

  1. Oi Sergião! Gostei de seu blog! O Mia me disse que vc tava abstêmio, mas eu não acreditei! é difícil né fio? e ai, cume que ce ta??? saudades mil, mando muitos beijos
    Ana, na terra do mofo.

    ResponderExcluir
  2. Aí Ana. Tudo beleza, a abstenção não é algo tão grave assim, já estou me recuperando.
    Curis também tem mofo. Muito mofo. Beijão.

    ResponderExcluir