domingo, 1 de setembro de 2013

Não entendo nada de economia

Eu não devo entender nada de economia mesmo. O dólar tava baixo. Todo mundo gritando: "A indústria brasileira tá morrendo." "As exportações estão minguando e as importações crescendo!" Agora: o dólar extremamente alto tá "destruindo a economia", "trazendo inflação", "destruindo as empresas por causa dos contratos em dólar"...

Penso no tal do PIB. "Tá baixo", "pibinho", "ridículo"... E aí vêm (só pros incautos: vêm como verbo no plural, assim como "têm", continua com acento, que, neste caso, não foi dizimado pela metralhadora da reforma ortográfica (aliás, parênteses dentro dos parênteses: acho que deveriam ter exterminado todos os acentos e demais sinais, assim traríamos pra aprovação automática pelo menos 20% dos postulantes que atualmente são desconsiderados em qualquer teste de português - e agora fecham os primeiros parênteses) e, continuando e recuperando o vêm lá de cima, fecho os segundos parênteses...) ... vêm comparar com os "fantásticos" crescimentos da China, de média de 7% ao ano... Mas peraí, a China não é uma ditadura sanguinária, onde qualquer  projeto de governo ou econômico é imposto, sem chance de questionamento? A resposta é: SIM. Ou seja, lá, não temos o intrincado sistema de questionamentos e impedimentos, de denúncias e adiamentos, de investigações e denúncias..., ou o dito sistema chamado "democracia", onde todo mundo pode fazer quase tudo o que der na telha sem ao menos se questionar a validade disso....

Então fico pensando nas Olimpíadas de 2008, como você acha que foram na China? Tipo, pra construir o tal Cubo de Água (lindíssimo, aliás), a otoridade chegou prum camarada e disse: "Precisamos devastar esta área pra construir", e o técnico: "Precisamos de um estudo de impacto ambiental", o outro: "Concordo", e emenda: "Você tem 15 minutos!" E depois disso, o cubo foi construído.... Assim até eu. Não que a China tenha outra saída que não essa, pois uma coisa é falar na dita "democracia" com países com 200, 300 milhões de habitantes. Vai falar em administrar 1,344 bi, a coisa fica mais pra rainha de formigas do que pra "vontade da maioria", mas isso é outra história. Bom, voltando à vaca fria, é esse tipo de comparação que queremos fazer? Brasil democrático X China formigueiro? Ou, pensando bem: será que dá realmente pra fazer esse tipo de comparação? Sei não.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Palminhas, vaiazinhas e picuinhas

Na boa. O cara gasta 250 paus por cabeça, em média. Vão ele, os filhos, a mulher. Ou vai só, que seja. Vai em vários jogos da Copa. Torce, curte, bate palminhas, come o sanduíche do estádio e paga os escorchantes preços dos salgadinhos e refrigerantes.

Em casa, dá audiência a quem esteja transmitindo ou fazendo as chatíssimas mesas redondas de especialistas no assunto. Assiste às propagandas ufanistas dos patrocinadores, cheios de olhos grandes somente para os caraminguás que os telespectadores têm nos bolsos.

Beleza, futebol é contagiante mesmo. Por menos que você goste, acaba torcendo. É um belo espetáculo. Só a racionalidade não explica essa fixação. É o circo moderno, com certeza. Está lá dentro de nós, o combate singular, a luta que substitui a guerra, traduzido em um campo de batalha em que as regras são pré-definidas, em que o sangue não escorre (quase nunca). É algo legal. É prazeroso. OK. Estamos entendidos.

Mas lá volta o gajo ao estádio para outro jogo desta Copa, igualmente caro. Cada ingresso, cada coxinha, cada refrigerante, cada cerveja sem álcool (quem inventou isso, meu deus?), cada minuto em que ele assiste aos jogos significam mais grana no bolso dessa entidade privada aberrante, dirigida por pessoas incorruptíveis do naipe de um Ricardo Teixeira, um José Maria Marin, um Joseph Blatter, um João Havelange!

E então lá está o cara no estádio. Pipoca em uma mão, refrigerante em outra. Curtindo. Lá fora, o pau comendo. E o nosso ilibado cidadão resolve então vaiar e protestar contra a Copa. Não é uma coerência máxima? Não é uma conivência imbecilizante? Não é uma hipocrisia galopante?

Não digo isso julgando só os outros. Eu mesmo sou hipócrita ao extremo. Não gosto de financiar a Copa pra essa horrorosa instituição que é a Fifa. E acho absurdo pagar milhões de reais para jogadores – e para qualquer outro mortal –, visto que o trabalho deles, se formos considerá-los como operários da bola, é o mesmo de um operário de outro segmento qualquer: tem que cumprir uma jornada de várias horas diárias, tem metas, é cobrado o tempo todo etc.; avaliando isso, nos vem a questão: por que a diferença tão grande de salários se todo mundo rala igual?

Apesar disso tudo, eu acompanho os jogos, aprecio o futebol apresentado e me delicio sabendo que estou ganhando um bolão feito com amigos. Ou seja, dou audiência, enriqueço os anunciantes, encho os cofres das TVs, dos jogadores e da Fifa.

E depois saio tranquilamente protestando contra a Copa...

Não sei, mas acho que eu merecia um gás de pimenta nas fuças pra ganhar vergonha nessa minha cara.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

No meio do protesto

Pra não dizer que não presenciei nada, nesta noite de 21 de junho atravessei um dos tais protestos aqui em Curitiba.

Devo parabenizar os participantes. Uma noite chuvosa pra danar. Não uma chuvinha qualquer. Uma puta chuva, que cai há dias, junto com o frio curitibano. Não é pra amadores. Todos molhados e gelados. Mas normal pra galera, a grande maioria adolescente. Nessa idade, você nem sente o frio ou o cansaço.

Claro que tinha muita, mas muita gente mesmo, bebendo pra caramba, em PETs devidamente preenchidas de cachaça, vodka ou qualquer coisa alcoólica misturada com qualquer outra coisa pra dar um gostinho. Isso com certeza afastava a friagem. Mesmo sendo meio cedo, coisa de 18h45, vi uns quatro já carregados pelos colegas, totalmente bêbados.

O que parece é que nesses dias as manifestações se tornaram uma espécie de programa. Melhor que ficar em casa ou se enfiar em algum shopping. Embaixo de chuva, todos juntos, encontrando os amigos, dando uma azarada nas pretendidas e nos pretendidos e em gente nova que dá mole. Como disse antes, pra quem tem energia de sobra, é uma aventura. Ainda mais porque eles conseguem parar as ruas, como se fossem os donos delas. E, na verdade, são mesmo. Somos todos.

Eram vários grupos separados, indo ao longo da Marechal Floriano na direção da Rui Barbosa. O legal é que o trânsito parou, os ônibus precisavam ser esvaziados, pois não iam para mais lugar algum. E algumas pessoas ficavam putas, mas no fim entendiam. Uma espécie de trégua para que os jovens pudessem extravasar, gritar, sentir que faziam a diferença. Sem muito estresse. Afinal, você se estressa todo dia mesmo por motivos diversos.

Outra coisa que vi foram muitos estudantes bastante jovens, coisa entre 14 e 16 anos. Muitos estavam de uniforme, demonstrando que vinham direto da aula. Todos animados. Porque era sexta-feira à noite. E a galera estava se encontrando. Quer coisa melhor?

Também vi faixas com as tradicionais palavras de ordem, gritadas ao vento: "se a roubalheira não parar, a gente para o Brasil", "estamos mudando o país" e demais generalidades. No fim, um grupinho que fazia um "esquenta" numa esquina conversava. Um deles fala: "e aí, será que a gente baixa pra 2,60 hoje?" "Nah, vamos quebrar tudo", diz outro.

O frio e a chuva apertavam e fui indo. Não vi confusão. E não vi como terminou. Fiquei com receio por eles, claro, e por outros, que não estavam envolvidos no protesto. Meu lado tiozão me mandava censurar esses jovens. Onde já se viu encherem a cara e saírem se metendo em perigo e ameaçando arruaça por aí? E ainda mais sabendo que o movimento estava sem foco, generalista, sendo cooptado por outras forças, pela mídia, por visões simplistas, preconceituosas e conservadoras demais para tais cabeças tão novas?

Mas não consegui ficar com raiva. Talvez porque no fundo algo me lembrava que já fiz coisa pior na minha época. Deixa estar. Faz parte.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Odeie tudo o que está aí

Odeie o congresso, odeie a presidenta, odeie o judiciário, odeie a taxa baixa de desemprego, odeie a baixa de juros, odeie o gasto público, mas também odeie a falta de investimento, odeie a desoneração de impostos e também odeie os impostos abusivos, odeie a livre informação pela internet, odeie o capitalismo de risco, odeie o capitalismo com algum risco, odeie a livre concorrência e seu concorrente, odeie a cultura nacional, odeie a nova classe média, a antiga classe média, todas as classes, odeie a política, os políticos, os médicos cubanos, aliás, odeie cubanos de todo tipo, odeie o sistema.

E então pregue o voto nulo, a morte dos políticos, a demissão das empregadas domésticas, a redução da maioridade penal, o fim da mamata pra esses vagabundos do bolsa-esmola, a pena de morte pra safado, a tortura pra bandido. Mas ignore as mentiras que você conta, o nada que você faz para ajudar, seu apoio ao lixo cultural que invade nossa TV, ignore o foda-se que você dá à poluição, ao desmatamento, à especulação imobiliária e ao lixo gigantesco, todos gerados à sua volta e com o seu apoio, ignore a deseducação de seu filho, as sacanagens de seu chefe, o seu suborno ao guarda, o seu dirigir embriagado, ignore sua própria ignorância.

Entre em campanhas idiotas, o cansei, a luta contra o comunismo no Brasil, o fechamento do congresso, a meia entrada pro cinema, a moralização pública, a gente diferenciada, a queda do Renan, a queda do Feliciano.

Esqueça convenientemente quem realmente precisa de apoio real e de indignação, como os índios, o meio ambiente, os curdos, os paquistaneses, os angolanos, as crianças, os favelados e miseráveis, os afegãos, os palestinos, os sem-terra, os sem-teto, os sem-nada em geral.

Enfim, fique despreocupado, aos poucos você estará apoiando a dissolução “disso tudo que está aí”, estará apoiando torturadores, ajudando a derrubar as regras estabelecidas, a acabar com tudo pelo qual muita gente lutou e morreu, para colocar no poder alguém que vai te fazer amar a democracia nem que tenha que arrancar cada unha tua, cada dente teu na porrada, nem que tenha que te colocar pendurado no pau de arara e enfiar um cassetete no teu cu, nem que tenha que grudar um grampo no teu peito, no teu clitóris, no teu saco e ligar na tomada, nem que tenha que arrancar teu bebê de tuas entranhas e dar pra mulher de um general milico filho da puta criar como se fosse filho dela. Então você vai falar: “finalmente recebi o que merecia e sabia que estava certo, igual àquele Mal-amado Retardado Batista”. Então, já temos um ídolo, agora é só pôr mãos à obra!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Belo Monte de besteiras

Meio de saco cheio de tanta desinformação e desses globais fazendo uma campanha desonesta contra Belo Monte, levando mentiras e invencionices a todos, fui atrás de alguns outros dados. E meio que entrevistei meu amigo Márcio Tadeu dos Santos, jornalista que vive em Brasília e conhece os meandros da política oficial e não oficial; que já viveu na Amazônia e conhece as necessidades da região; e que trabalha com movimentos sociais de verdade bem antes de muita gente aqui ter aprendido a andar. Bem, perguntei para ele o que ele achava desse circo todo desse movimento Gota d´Água e o que realmente pega nessa questão da usina. A resposta é bastante esclarecedora. Segue abaixo:

“Pois é camarada.

O mais grave dessa história é que esse tipo de gente consegue até ‘convencer’ pessoas que militam seriamente nas causas sociais, indígenas e ambientais.

Não estou falando de WWF e demais.

Estou falando de ribeirinhos, índios, gente dos movimentos sociais.

Só um exemplo bem ilustrativo.

Uma militante de uma sociedade de direitos humanos para quem prestei serviços no início deste ano colocou na rede o vídeo daqueles artistas globais sobre Belo Monte.

Imediatamente eu mandei um email para o moderador da lista, chamando atenção para esse tipo de burrice.

Infelizmente, essa galera é bastante mal informada e um bocado ingênua.

Se eu ou você dissermos ou escrevermos alguma coisa, eles nem levam em consideração.

Ah, mas é artista da Globo, é o Di Caprio, é o Cameron.

Aí sim. É gente importante e de sucesso, que, ‘se chegaram lá’ é porque mereceram e patati e patatá.

Vou colocar abaixo as minhas observações que fiz ao moderador.

Antes, só uma palavrinha sobre Belo Monte.

A militância é burra, e o governo, desonesto.

O governo, na verdade, não ouviu ninguém que vai ser afetado pela hidrelétrica.

O projeto, já é velho: do tempo da ditadura militar, que o governo atual apenas está colocando pra funcionar.

Ter origem na ditadura não é exatamente um pecado.

Mas usar o mesmo método de não ouvir a população atingida é autoritarismo e sacanagem.

Independente disso, a pergunta que eu já fiz diversas vezes, é a seguinte:

Quem vai se beneficiar com a energia gerada lá?

Não será o Pará (que está reivindicando meros 13% gerados, e não vai conseguir nem isso).

Não será o Amazonas, já que Balbina dá conta do recado e a Zona Franca de Manaus não vai crescer mais do que já cresceu.

Pelo contrário, vai diminuir nos próximos anos.

Não serão os outros Estados nortistas, nem do Centro-Oeste e muito pouca coisa vai para o Nordeste.

O grosso vai mesmo para o Sudeste e um pouco para o Sul.

É mais ou menos como se o governo fizesse a despoluição completa do Tietê/Pinheiros, transformasse aquele esgoto em água mineral, e mandasse tudo para fora, e para o paulista, apenas um, dois ou três copinhos dágua.

Do ponto de vista do desenvolvimento, do desequilíbrio regional, isso é uma grande merda.

Pois vai se dar mais fogo para regiões (Sul e Sudeste) mais desenvolvidas, e o restante do País vai continuar na lamparina, na vela, no foguinho de quintal.

De outro lado, adeus à floresta que circunda a região.

Em menos de uma década, aquilo vai virar deserto como virou a região do Projeto Carajás, também no Pará.

Outro dia, entrei numa discussão com um sujeito da área de transporte que defende o asfaltamento da Manaus-Porto Velho.

Com aquela buraqueira toda, já tem gente retirando madeira ao longo da estrada (acho que são mais de 700 quilômetros), imagine com ela asfaltada, e com o natural surgimento das vias vicinais?

Agora você tem um bocado de razão.

Essa babacada ambientalista só fala besteira.

Se o País trocasse a produção de energia atual pela produção de energia de ventos, isso ia dar no máximo para movimentar as máquinas elétricas de costura de uma fabriqueta de roupa lá do Bom Retiro e olhe, olhe.

E esse pessoal do vídeo do Globo tá na verdade – com autorização dos Marinhos, se não eles não fariam o tal vídeo – é batendo no Lula e na Dilma (veja o texto que mandei para o moderador abaixo).

Quanto aos estranjas, é o de sempre. É uma no cravo, outra na ferradura.

Por exemplo, o Di Caprio, antes de se meter a falar merda sobre a floresta brasileira, deveria explicar por que mesmo que foi processado por crime ambiental quando fez aquele filme horroroso (como ator e produtor) ‘A Praia’ (acho que em Bangcoc).

Veja lá o texto que mandei para o moderador.

Meu caro moderador,

Antes de tudo me desculpe estar escrevendo para seu email com algumas observações sobre este texto “socializado” por um integrante no grupo da entidade.

Embora eu não atue mais na sociedade, continuo recebendo os emails do grupo.

E gostaria de continuar recebendo, pois tem muita informação e muita reflexão importante.

Mas não gostaria, exatamente por não estar mais na entidade, de criar uma polêmica, que sei desgastante para todos.

No entanto, emails como esse me causam uma certa perplexidade e até constrangimento.

A perplexidade se dá por conta de certa ingenuidade que ainda acomete muitos defensores dos direitos humanos neste País.

O constrangimento é por conta de um certo alinhamento, sem a devida reflexão política e ideológica, a qualquer coisa que esteja circulando pela internet.

Neste caso especifico: quem são as pessoas que depõem no vídeo?

São pessoas de classe média, que não têm – no geral – qualquer afinidade com os movimentos sociais brasileiros e com suas lutas históricas pela superação da desigualdade.

Muitos, na verdade, participaram do Cansei e dos atuais – e quase mortos – movimentos contra a Corrupção, cujo único ideal é criticar e falar mal do governo do PT – Lula e Dilma.

Não sou petista, militante do PT ou qualquer coisa do gênero, mas as críticas desse tipo de gente não têm o objetivo de ‘mudar’ o País, mas apenas de desestabilizar o governo federal.

Vá lá que a causa, Belo Monte, é boa. 
Mas isso é razão suficiente para empurrar os movimentos sociais e os militantes de direitos humanos para um alinhamento com esse tipo de gente?

Creio que não. Creio que há um equivoco nessa história toda.

Basta lembrar o caso da Maitê Proença e o que disse sobre Dilma Rousseff antes das eleições do ano passado.

Ou perceber que vários dos depoentes do vídeo são parentes do Chico Anísio, para quem a Dilma Rousseff presidente não poderia entrar nos EUA por ‘ter sido uma terrorista’.

É verdade que durante o vídeo se passa pela questão da terra indígena. Se passa, mas muito ao largo, e até com certa ironia.

No mais é a questão ambiental (vista de um ponto de vista meramente urbano), dos impostos, de quem vai pagar conta, da falaciosa geração de energia limpa e do futuro dos filhos, dos netos, dos bisnetos, ou seja, lá do que for.

Não me parece que esse tipo de gente – exceção a um ou outro – esteja realmente preocupado com as questões sociais – assunto que não abordam – como concentração de renda, desigualdades sociais e ritmo diferente de crescimento regional.

Portanto, camarada, acho que aliar-se a esse tipo de gente – branca, urbana e de classe média – não me parece ser uma coisa das mais lúcidas.

Infelizmente, esse é um erro que, vá lá, as esquerdas sempre cometem, isso desde o século 18.

Pelos resultados registrados não só no Brasil, mas como no mundo todo, é fácil adivinhar no que esse tipo de alinhamento vai dar.

Um abraço.”

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Esse é o depoimento que o Tadeu me concedeu. E para ter mais alguns pontos de vista, seguem abaixo alguns links de explicações técnicas e até algumas coisas antigas:

- Aqui tem um bom artigo, com dois vídeos técnicos que demolem o blablablá de energia limpa, de alagamento etc.
Aqui o link separado do primeiro vídeo no artigo acima. É vídeo oficial dos envolvidos, deve ser visto com parcimônia, mas tecnicamente traz informações relevantes:
Aqui o outro link separado do outro vídeo que está no artigo, muito legal, não sei de quem, um tal Magraoonline, mas muito bem explicado:

- Aqui, um grande cientista brasileiro, em um artigo do ano passado

- Até o Reinaldo Aze(ve)do, da Veja, que é tão direitista que, se eleito presidente, deixaria Médici e Pinochet parecerem freirinhas de convento, e está sempre alinhado à Globo, desceu o cacete:

Enfim, espero poder ter contribuído com o debate.



quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O que queremos?

O mundo dito “ocidental civilizado capitalista” está se dissolvendo. Talvez nem tanto, a grana é que manda, e os espertos e ricos sempre encontram formas de continuar em frente, explorando e expropriando todos os demais. Mas de alguma forma está caindo aquela crença cega de que o mercado resolve, de que a livre iniciativa (leia-se pessoas ou grupos sem obrigações ou regulação de nenhum poder maior público) lidera o desenvolvimento, de que a justiça social vem com o enriquecimento de alguns, que, num movimento que seria “natural”, se desdobraria posteriormente para os menos favorecidos (a clássica “vamos fazer o bolo crescer para depois dividir”). Pois bem, analistas geniais que do início do neoliberalismo (final dos 80 e início dos 90, lembram-se? dos yuppies, do charme das bolsas de valores, das fortunas sendo geradas sobre a fumaça da web...) até ontem cantavam em prosa e verso que a história havia acabado, que o capitalismo era o paraíso na terra, que corte de gastos e desregulamentação eram as trombetas dos anjos do Senhor, bem... Eles agora dão razão até a Marx e Engels! Por deus!
Governos torraram trilhões em dinheiro público para salvar bancos privados da quebradeira graças às políticas frouxas deles mesmos, numa verdadeira estatização dos prejuízos. Nessa hora, ninguém reclama da presença do Estado na economia. Mas bastou a poeira de 2008 assentar, e os mesmos bancos resgatados já estavam em busca de novas “oportunidades” e distribuindo milhões e milhões em bônus para executivos bem-sucedidos em seus postos-chave das grandes empresas. Porque, afinal, o que importa é o “resultado”, e, ao pensar que empresas quebradas num dia estavam salvas no dia seguinte, isso é um grande feito que merece remuneração à altura, muito diferente daquela que esses mesmos empresários dão aos seus “colaboradores”, que, na verdade, são os burros de carga que carregam as corporações no lombo.
E o povo foi às ruas. No tal ocidente porque viram a água batendo na bunda. No oriente, África e locais esquecido por deus porque a água já bateu na bunda, na barriga, no queixo, no nariz e já cobriu todo mundo há séculos. Estes, como os pobres daqui, só querem um pouco de dignidade: comida, saúde, alguma educação, condições mínimas para as famílias. Nos países ricos e na nossa classe média, queremos... Afinal, o que queremos? Será que realmente queremos mudanças estruturais, que protejam os Estados e a população das megacorporações, megamafiosos, megapolíticos e megaempresários que concentram cada vez mais riqueza em poucas mãos? Porque, por mais que os cretinos do Tea Party e congêneres digam que só é pobre quem quer, dinheiro é que nem água: é um recurso finito e se estiver sobrando em algum lugar é sinal de que está faltando em outro, algo tão óbvio que se chega a desconfiar. Mas é isso. É a pergunta clássica: o que você faria com um bilhão que não poderia fazer com 500 milhões? Pra que juntar tanta grana, que ficará mofando em cofres ou em zeros e uns em servidores bancários enquanto tem gente no desespero total? Sensação de poder, é claro, a psicologia explica. Mas que diabo, pra que tanto poder se no fim todo mundo vira pó e menos que pó? É uma mudança de mentalidade que é necessária.
Mas voltando à vaca fria: o que queremos? Será que não estamos nos indignando somente por causa de nossos nobres umbigos? Será que esses jovens que estão protestanto na Europa e nos EUA não voltarão satisfeitos para suas casas, seu consumo desenfreado, sua busca por status, poder e prazer momentâneo assim que alguma reivindicação for atendida? Queremos mudança ou somente mais dinheiro? Na hora de se indignar, é aquele pega pra capar. Temos como exemplo essa bobagem toda da USP, uns sem noção ocupando a reitoria, um governo acostumado a nunca ser questionado, a grande mídia ateando fogo, a classe média, claro, procurando soluções simplistas e a PM paulista, superpreparada e nem um pouco truculenta. Pronto, o circo tá armado. Manchetes e indignação pra tudo o que é lado, como se essa fosse a primeira vez que isso acontece. Fora que tem muita gente dizendo por aí que o buraco é mais embaixo, que a questão não é tão maniqueísta assim, tipo: “Os Malvados e Mimados Alunos” (colocando todos no mesmo saco, mesmo quem não é) contra os “Bonzinhos PMs Paulistas” (aqueles da Rota 66, dos assassinatos a sangue frio depois da crise do PCC, aqueles mesmos que sentaram o cacete nos professores ano passado)...
Mas voltando: por que esses que criticam com palavras tão veementes – inclusive os estudantes da USP – também não se indignam com assassinatos no campo, com a destruição dos grandes centros urbanos, com as grandes oligarquias, com o poder de manipulação da imprensa em prol de interesses de grupos específicos, com a criminosa concentração de renda, com a publicidade nos tornando meros idiotas compradores de tudo que é quinquilharia e por aí vai? Nada, né? O saco é que a mídia, que tem um poder imenso, em vez de ajudar, atrapalha e nos traz mais desinformação, mais cortinas de fumaça, mais defesa de interesses espúrios, conservadores e reacionários. Vixe, isso a gente fala desde a faculdade e nada mudou, muito pelo contrário, piorou.
O raciocínio é o mesmo para a questão que se coloca agora. Essas mesmas mídias que difundem as visões unilaterais e seus geniais “analistas” passaram os últimos vinte anos venerando o modelo neoliberal de desregulamentação, privatização selvagem, redução de investimentos do Estado e corte de benefícios da população. Claro, todos com rabo preso a empresas que deitam e rolam nesse sistema. Hoje veem seus castelos de areia ruindo e estão meio perdidos. Brasil e América Latina em franca ascenção com políticas sociais aliadas a investimento pesado e sustentados por estatais fortes e bancos públicos que não têm medo de dar crédito para manter a economia funcionando. E aí, classe média, de que lado ficaremos? É uma saia justa e tanto...
E aqui volta também a primeira pergunta. O que queremos? Queremos ser como os europeus e americanos, consumindo como gafanhotos e nos lixando para decisões tomadas sem participação popular? Pouco ligando para as grandes questões planetárias? Pouco ligando para nossos vizinhos? Queremos por aqui um novo muro igual ao que separa o Texas do México ou Israel da Cisjordânia? E depois que o planeta estiver totalmente exaurido e estivermos indo todos para o mesmo buraco, então vamos querer mudanças? Vamos culpar o governo por isso? Ou a nós mesmos? O pior é que eu sou pessimista por natureza. Não creio numa mudança do ser humano. Desde que descemos das árvores, o bordão “farinha pouca, meu pirão primeiro” é lei. E arrisca a continuar sendo.

sábado, 8 de outubro de 2011

A vida sexual dos PDFs

Outro dia uma cliente me pediu por e-mail que eu enviasse a ela duas cópias de uma publicação em PDF. Da mesma publicação! Comecei a imaginar se ela tinha ideia do que estava pedindo. Meu sistema de racionalização começou a funcionar, afinal, não é isso que fazemos todos os dias para engolir os sapos e poder sobreviver? Podia ser que ela quisesse enviar uma cópia para dois chefes diferentes, então pediu o número de cópias necessárias... Pensei em mandar três logo de uma vez, vai que ela mandasse as duas e uma terceira pessoa também solicitasse, e ela ficaria em maus lençóis, pois entraria em pânico por não ter mais nenhum PDF disponível e teria que despender um tempo precioso para a corporação me pedindo mais cópias. Mas isso não era suficiente para bem atender ao cliente, nossa primeira e mais básica premissa! Quem sabe eu poderia mandar um arquivo zipado com umas 50 cópias só pra garantir? Então ela só teria que pedir de novo quando acabassem os PDFs do pacote. Gênio, fiquei até embasbacado com o grau de minha astúcia!

Mas a criatividade é a mãe da evolução, e, conversando com o povo da agência, chegamos à conclusão de que era melhor apelar para a biologia virtual. Mandei um mail para ela com dois documentos em PDF e expliquei que, embora parecessem iguaizinhos, tratavam-se de um PDF macho e um PDF fêmea e que era só ela colocar os dois juntinhos na mesma pasta e aguardar alguns dias e então encontraria vários PDFzinhos, o que resolveria seu problema de cópias daquela publicação.

Só que ela me ligou depois de uns três dias, reclamando. A pasta continuava só com os dois PDFs originais. Perguntei se ela tinha seguido os procedimentos, e ela disse que sim. Perguntei se ela havia deixado a pasta fechada o tempo todo, aguardando a natureza digital fazer seu trabalho. Ela disse que não e confessou que a curiosidade a fez ficar olhando a pasta de vez em quando, mas nada acontecera. Tá aí o erro, disse pra ela. Eles devem ter ficado envergonhados e não pintou um clima. Ou isso ou algum deles é um PDF GLBT. Por via das dúvidas, mandei o zip com as 50 cópias mesmo.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Humores e rumores

Todo esse blá blá blá por conta do Rafinha Bastos e corja vira um samba do crioulo doido quando a imprensa mete o bedelho, visto que esta, atualmente, é feita de mentes tacanhas, reacionárias e conservadoras, a exemplo dos donos das empresas de mídia e da grande maioria da população. Essa onda de tiradores de sarro profissionais é um saco. Caras escrotos fazendo piadas escrotas com gente quase sempre escrota, criando uma onda de vergonha alheia... é dose! 

O Pânico escancarou as portas, depois vieram os imitadores de diferentes estilos. Mas o Tas nos seus áureos tempos já tinha esse tique, embora seu Ernesto Varela fosse muito mais sofisticado e inteligente. Agora Tas é o porta-voz do politicamente incorreto (na forma), mas na verdade levando a mensagem do politicamente correto ao extremo (no conteúdo), sendo este último pouco ou nada notado. Explico: o humor atual (e quem sabe o antigo) da TV, bares e standups em geral é extremamente preconceituoso e moralista. Faz piada com as diferenças e joga de um lado os feios, esquisitos, contestadores e reclamões e, de outro, aqueles que supostamente seriam inteligentes, bonitos, estilosos e que estão na onda de que tudo é permitido quando a iniciativa é privada

Nada contra, afinal, quem nunca contou piada de preto, pobre, judeu, brasileiro, português, mulher, ricardão, chifrudo, papagaio etc.? Pelo menos eu, branquelo criado em uma sociedade hipócrita branca que se acha a tal, já contei e ouvi muita. Só que o humor tem uma força revolucionária, ele desagrega pensamentos, subverte as intenções e manipula a ideologia do vivente. Isso quando o humor é bom. A piada, se bem engraçada, faz o próprio ouvinte rir e reforçar seu próprio preconceito, por mais que ele diga que “não tem preconceito” ou que “vivemos num país sem preconceito”. O humor faz você se desnudar, se mostrar por inteiro, mesmo que tente se tapar com folhinhas de parreira. E aí está o constituinte revolucionário. Uma piada pode até ser politicamente incorreta, mas, se for realmente engraçada, inteligente e bem contada, de repente até tem sua incorreção ignorada pela plateia. Mas o que não dá é ser grosseiro e preconceituoso e, no fim das contas, ainda não ter graça nenhuma, como é o caso de todos esses supostos humoristas que andam pululando por aí. Como o Rafinha, o Tas, o Gentili, os panacas do Pânico e tudo o mais. Aceita-se tudo de um humorista, menos a falta de graça. Isso sim é imperdoável.

domingo, 18 de setembro de 2011

Mea culpa

Nunca ganhei nenhum prêmio. No esporte, nunca passei de terceiro. Na família, fui o mediano que faz o que se espera. Na escola, bom, pero no mucho. No serviço, competente para operações, um fiasco para ganhar dinheiro. Nas artes, diletante. No amor, quase sempre egocêntrico. No mundo, uma poeira. No universo, um nada. Nos sonhos, areia movediça. Nas emoções, desencontros. Na persistência, piada. Na sociedade, um quase zero. Se lutei, raramente venci. Apanhar, apanhei e quase nada bati. Na esgrimia, mais cicatrizes que toques. Se acordei algumas vezes, raramente abri os olhos. No palavreado, gagueira e prolixidade. Se a bolsa estava subindo, lá estava eu comprando. Quando ela despencava, estava eu vendendo. Dinheiro, aliás, que nunca faltou, mas nunca, jamais sobrou. Nas tarefas diárias, um cansaço inoportuno. Nos desafios, um martírio. No transporte, um carro velho e quase sempre um busão entupido. A minha esperança é apenas a esperança. A probabilidade nunca me contou em seus caprichos. Na tristeza, solidão que não se compartilha. Nos amigos, poucos e bons. Perspectiva: apenas dois traços que se juntam no infinito. Otimismo(?): pior que ontem, melhor que amanhã. Sempre em frente, mas com olhos lacrimejantes embaçando o passado. Cabelos quase poucos, na cor omo do mais branco impossível. No espaço, a incerteza. No palco, ah, no palco! Substâncias relaxantes, tô dentro. Minha ira, idiota. A ilusão, maya. A relatividade, uma distorção. O quantum, uma demolição. A inveja, uma merda. Merda happens. No fim, tanto faz. E então, o que eu tô fazendo aqui? Mas no mar, ah, no mar, submerso, no escuro e na falta de gravidade. Bem, lá, estou em casa.