sábado, 8 de outubro de 2011

A vida sexual dos PDFs

Outro dia uma cliente me pediu por e-mail que eu enviasse a ela duas cópias de uma publicação em PDF. Da mesma publicação! Comecei a imaginar se ela tinha ideia do que estava pedindo. Meu sistema de racionalização começou a funcionar, afinal, não é isso que fazemos todos os dias para engolir os sapos e poder sobreviver? Podia ser que ela quisesse enviar uma cópia para dois chefes diferentes, então pediu o número de cópias necessárias... Pensei em mandar três logo de uma vez, vai que ela mandasse as duas e uma terceira pessoa também solicitasse, e ela ficaria em maus lençóis, pois entraria em pânico por não ter mais nenhum PDF disponível e teria que despender um tempo precioso para a corporação me pedindo mais cópias. Mas isso não era suficiente para bem atender ao cliente, nossa primeira e mais básica premissa! Quem sabe eu poderia mandar um arquivo zipado com umas 50 cópias só pra garantir? Então ela só teria que pedir de novo quando acabassem os PDFs do pacote. Gênio, fiquei até embasbacado com o grau de minha astúcia!

Mas a criatividade é a mãe da evolução, e, conversando com o povo da agência, chegamos à conclusão de que era melhor apelar para a biologia virtual. Mandei um mail para ela com dois documentos em PDF e expliquei que, embora parecessem iguaizinhos, tratavam-se de um PDF macho e um PDF fêmea e que era só ela colocar os dois juntinhos na mesma pasta e aguardar alguns dias e então encontraria vários PDFzinhos, o que resolveria seu problema de cópias daquela publicação.

Só que ela me ligou depois de uns três dias, reclamando. A pasta continuava só com os dois PDFs originais. Perguntei se ela tinha seguido os procedimentos, e ela disse que sim. Perguntei se ela havia deixado a pasta fechada o tempo todo, aguardando a natureza digital fazer seu trabalho. Ela disse que não e confessou que a curiosidade a fez ficar olhando a pasta de vez em quando, mas nada acontecera. Tá aí o erro, disse pra ela. Eles devem ter ficado envergonhados e não pintou um clima. Ou isso ou algum deles é um PDF GLBT. Por via das dúvidas, mandei o zip com as 50 cópias mesmo.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Humores e rumores

Todo esse blá blá blá por conta do Rafinha Bastos e corja vira um samba do crioulo doido quando a imprensa mete o bedelho, visto que esta, atualmente, é feita de mentes tacanhas, reacionárias e conservadoras, a exemplo dos donos das empresas de mídia e da grande maioria da população. Essa onda de tiradores de sarro profissionais é um saco. Caras escrotos fazendo piadas escrotas com gente quase sempre escrota, criando uma onda de vergonha alheia... é dose! 

O Pânico escancarou as portas, depois vieram os imitadores de diferentes estilos. Mas o Tas nos seus áureos tempos já tinha esse tique, embora seu Ernesto Varela fosse muito mais sofisticado e inteligente. Agora Tas é o porta-voz do politicamente incorreto (na forma), mas na verdade levando a mensagem do politicamente correto ao extremo (no conteúdo), sendo este último pouco ou nada notado. Explico: o humor atual (e quem sabe o antigo) da TV, bares e standups em geral é extremamente preconceituoso e moralista. Faz piada com as diferenças e joga de um lado os feios, esquisitos, contestadores e reclamões e, de outro, aqueles que supostamente seriam inteligentes, bonitos, estilosos e que estão na onda de que tudo é permitido quando a iniciativa é privada

Nada contra, afinal, quem nunca contou piada de preto, pobre, judeu, brasileiro, português, mulher, ricardão, chifrudo, papagaio etc.? Pelo menos eu, branquelo criado em uma sociedade hipócrita branca que se acha a tal, já contei e ouvi muita. Só que o humor tem uma força revolucionária, ele desagrega pensamentos, subverte as intenções e manipula a ideologia do vivente. Isso quando o humor é bom. A piada, se bem engraçada, faz o próprio ouvinte rir e reforçar seu próprio preconceito, por mais que ele diga que “não tem preconceito” ou que “vivemos num país sem preconceito”. O humor faz você se desnudar, se mostrar por inteiro, mesmo que tente se tapar com folhinhas de parreira. E aí está o constituinte revolucionário. Uma piada pode até ser politicamente incorreta, mas, se for realmente engraçada, inteligente e bem contada, de repente até tem sua incorreção ignorada pela plateia. Mas o que não dá é ser grosseiro e preconceituoso e, no fim das contas, ainda não ter graça nenhuma, como é o caso de todos esses supostos humoristas que andam pululando por aí. Como o Rafinha, o Tas, o Gentili, os panacas do Pânico e tudo o mais. Aceita-se tudo de um humorista, menos a falta de graça. Isso sim é imperdoável.