sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Belo Monte de besteiras

Meio de saco cheio de tanta desinformação e desses globais fazendo uma campanha desonesta contra Belo Monte, levando mentiras e invencionices a todos, fui atrás de alguns outros dados. E meio que entrevistei meu amigo Márcio Tadeu dos Santos, jornalista que vive em Brasília e conhece os meandros da política oficial e não oficial; que já viveu na Amazônia e conhece as necessidades da região; e que trabalha com movimentos sociais de verdade bem antes de muita gente aqui ter aprendido a andar. Bem, perguntei para ele o que ele achava desse circo todo desse movimento Gota d´Água e o que realmente pega nessa questão da usina. A resposta é bastante esclarecedora. Segue abaixo:

“Pois é camarada.

O mais grave dessa história é que esse tipo de gente consegue até ‘convencer’ pessoas que militam seriamente nas causas sociais, indígenas e ambientais.

Não estou falando de WWF e demais.

Estou falando de ribeirinhos, índios, gente dos movimentos sociais.

Só um exemplo bem ilustrativo.

Uma militante de uma sociedade de direitos humanos para quem prestei serviços no início deste ano colocou na rede o vídeo daqueles artistas globais sobre Belo Monte.

Imediatamente eu mandei um email para o moderador da lista, chamando atenção para esse tipo de burrice.

Infelizmente, essa galera é bastante mal informada e um bocado ingênua.

Se eu ou você dissermos ou escrevermos alguma coisa, eles nem levam em consideração.

Ah, mas é artista da Globo, é o Di Caprio, é o Cameron.

Aí sim. É gente importante e de sucesso, que, ‘se chegaram lá’ é porque mereceram e patati e patatá.

Vou colocar abaixo as minhas observações que fiz ao moderador.

Antes, só uma palavrinha sobre Belo Monte.

A militância é burra, e o governo, desonesto.

O governo, na verdade, não ouviu ninguém que vai ser afetado pela hidrelétrica.

O projeto, já é velho: do tempo da ditadura militar, que o governo atual apenas está colocando pra funcionar.

Ter origem na ditadura não é exatamente um pecado.

Mas usar o mesmo método de não ouvir a população atingida é autoritarismo e sacanagem.

Independente disso, a pergunta que eu já fiz diversas vezes, é a seguinte:

Quem vai se beneficiar com a energia gerada lá?

Não será o Pará (que está reivindicando meros 13% gerados, e não vai conseguir nem isso).

Não será o Amazonas, já que Balbina dá conta do recado e a Zona Franca de Manaus não vai crescer mais do que já cresceu.

Pelo contrário, vai diminuir nos próximos anos.

Não serão os outros Estados nortistas, nem do Centro-Oeste e muito pouca coisa vai para o Nordeste.

O grosso vai mesmo para o Sudeste e um pouco para o Sul.

É mais ou menos como se o governo fizesse a despoluição completa do Tietê/Pinheiros, transformasse aquele esgoto em água mineral, e mandasse tudo para fora, e para o paulista, apenas um, dois ou três copinhos dágua.

Do ponto de vista do desenvolvimento, do desequilíbrio regional, isso é uma grande merda.

Pois vai se dar mais fogo para regiões (Sul e Sudeste) mais desenvolvidas, e o restante do País vai continuar na lamparina, na vela, no foguinho de quintal.

De outro lado, adeus à floresta que circunda a região.

Em menos de uma década, aquilo vai virar deserto como virou a região do Projeto Carajás, também no Pará.

Outro dia, entrei numa discussão com um sujeito da área de transporte que defende o asfaltamento da Manaus-Porto Velho.

Com aquela buraqueira toda, já tem gente retirando madeira ao longo da estrada (acho que são mais de 700 quilômetros), imagine com ela asfaltada, e com o natural surgimento das vias vicinais?

Agora você tem um bocado de razão.

Essa babacada ambientalista só fala besteira.

Se o País trocasse a produção de energia atual pela produção de energia de ventos, isso ia dar no máximo para movimentar as máquinas elétricas de costura de uma fabriqueta de roupa lá do Bom Retiro e olhe, olhe.

E esse pessoal do vídeo do Globo tá na verdade – com autorização dos Marinhos, se não eles não fariam o tal vídeo – é batendo no Lula e na Dilma (veja o texto que mandei para o moderador abaixo).

Quanto aos estranjas, é o de sempre. É uma no cravo, outra na ferradura.

Por exemplo, o Di Caprio, antes de se meter a falar merda sobre a floresta brasileira, deveria explicar por que mesmo que foi processado por crime ambiental quando fez aquele filme horroroso (como ator e produtor) ‘A Praia’ (acho que em Bangcoc).

Veja lá o texto que mandei para o moderador.

Meu caro moderador,

Antes de tudo me desculpe estar escrevendo para seu email com algumas observações sobre este texto “socializado” por um integrante no grupo da entidade.

Embora eu não atue mais na sociedade, continuo recebendo os emails do grupo.

E gostaria de continuar recebendo, pois tem muita informação e muita reflexão importante.

Mas não gostaria, exatamente por não estar mais na entidade, de criar uma polêmica, que sei desgastante para todos.

No entanto, emails como esse me causam uma certa perplexidade e até constrangimento.

A perplexidade se dá por conta de certa ingenuidade que ainda acomete muitos defensores dos direitos humanos neste País.

O constrangimento é por conta de um certo alinhamento, sem a devida reflexão política e ideológica, a qualquer coisa que esteja circulando pela internet.

Neste caso especifico: quem são as pessoas que depõem no vídeo?

São pessoas de classe média, que não têm – no geral – qualquer afinidade com os movimentos sociais brasileiros e com suas lutas históricas pela superação da desigualdade.

Muitos, na verdade, participaram do Cansei e dos atuais – e quase mortos – movimentos contra a Corrupção, cujo único ideal é criticar e falar mal do governo do PT – Lula e Dilma.

Não sou petista, militante do PT ou qualquer coisa do gênero, mas as críticas desse tipo de gente não têm o objetivo de ‘mudar’ o País, mas apenas de desestabilizar o governo federal.

Vá lá que a causa, Belo Monte, é boa. 
Mas isso é razão suficiente para empurrar os movimentos sociais e os militantes de direitos humanos para um alinhamento com esse tipo de gente?

Creio que não. Creio que há um equivoco nessa história toda.

Basta lembrar o caso da Maitê Proença e o que disse sobre Dilma Rousseff antes das eleições do ano passado.

Ou perceber que vários dos depoentes do vídeo são parentes do Chico Anísio, para quem a Dilma Rousseff presidente não poderia entrar nos EUA por ‘ter sido uma terrorista’.

É verdade que durante o vídeo se passa pela questão da terra indígena. Se passa, mas muito ao largo, e até com certa ironia.

No mais é a questão ambiental (vista de um ponto de vista meramente urbano), dos impostos, de quem vai pagar conta, da falaciosa geração de energia limpa e do futuro dos filhos, dos netos, dos bisnetos, ou seja, lá do que for.

Não me parece que esse tipo de gente – exceção a um ou outro – esteja realmente preocupado com as questões sociais – assunto que não abordam – como concentração de renda, desigualdades sociais e ritmo diferente de crescimento regional.

Portanto, camarada, acho que aliar-se a esse tipo de gente – branca, urbana e de classe média – não me parece ser uma coisa das mais lúcidas.

Infelizmente, esse é um erro que, vá lá, as esquerdas sempre cometem, isso desde o século 18.

Pelos resultados registrados não só no Brasil, mas como no mundo todo, é fácil adivinhar no que esse tipo de alinhamento vai dar.

Um abraço.”

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Esse é o depoimento que o Tadeu me concedeu. E para ter mais alguns pontos de vista, seguem abaixo alguns links de explicações técnicas e até algumas coisas antigas:

- Aqui tem um bom artigo, com dois vídeos técnicos que demolem o blablablá de energia limpa, de alagamento etc.
Aqui o link separado do primeiro vídeo no artigo acima. É vídeo oficial dos envolvidos, deve ser visto com parcimônia, mas tecnicamente traz informações relevantes:
Aqui o outro link separado do outro vídeo que está no artigo, muito legal, não sei de quem, um tal Magraoonline, mas muito bem explicado:

- Aqui, um grande cientista brasileiro, em um artigo do ano passado

- Até o Reinaldo Aze(ve)do, da Veja, que é tão direitista que, se eleito presidente, deixaria Médici e Pinochet parecerem freirinhas de convento, e está sempre alinhado à Globo, desceu o cacete:

Enfim, espero poder ter contribuído com o debate.



quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O que queremos?

O mundo dito “ocidental civilizado capitalista” está se dissolvendo. Talvez nem tanto, a grana é que manda, e os espertos e ricos sempre encontram formas de continuar em frente, explorando e expropriando todos os demais. Mas de alguma forma está caindo aquela crença cega de que o mercado resolve, de que a livre iniciativa (leia-se pessoas ou grupos sem obrigações ou regulação de nenhum poder maior público) lidera o desenvolvimento, de que a justiça social vem com o enriquecimento de alguns, que, num movimento que seria “natural”, se desdobraria posteriormente para os menos favorecidos (a clássica “vamos fazer o bolo crescer para depois dividir”). Pois bem, analistas geniais que do início do neoliberalismo (final dos 80 e início dos 90, lembram-se? dos yuppies, do charme das bolsas de valores, das fortunas sendo geradas sobre a fumaça da web...) até ontem cantavam em prosa e verso que a história havia acabado, que o capitalismo era o paraíso na terra, que corte de gastos e desregulamentação eram as trombetas dos anjos do Senhor, bem... Eles agora dão razão até a Marx e Engels! Por deus!
Governos torraram trilhões em dinheiro público para salvar bancos privados da quebradeira graças às políticas frouxas deles mesmos, numa verdadeira estatização dos prejuízos. Nessa hora, ninguém reclama da presença do Estado na economia. Mas bastou a poeira de 2008 assentar, e os mesmos bancos resgatados já estavam em busca de novas “oportunidades” e distribuindo milhões e milhões em bônus para executivos bem-sucedidos em seus postos-chave das grandes empresas. Porque, afinal, o que importa é o “resultado”, e, ao pensar que empresas quebradas num dia estavam salvas no dia seguinte, isso é um grande feito que merece remuneração à altura, muito diferente daquela que esses mesmos empresários dão aos seus “colaboradores”, que, na verdade, são os burros de carga que carregam as corporações no lombo.
E o povo foi às ruas. No tal ocidente porque viram a água batendo na bunda. No oriente, África e locais esquecido por deus porque a água já bateu na bunda, na barriga, no queixo, no nariz e já cobriu todo mundo há séculos. Estes, como os pobres daqui, só querem um pouco de dignidade: comida, saúde, alguma educação, condições mínimas para as famílias. Nos países ricos e na nossa classe média, queremos... Afinal, o que queremos? Será que realmente queremos mudanças estruturais, que protejam os Estados e a população das megacorporações, megamafiosos, megapolíticos e megaempresários que concentram cada vez mais riqueza em poucas mãos? Porque, por mais que os cretinos do Tea Party e congêneres digam que só é pobre quem quer, dinheiro é que nem água: é um recurso finito e se estiver sobrando em algum lugar é sinal de que está faltando em outro, algo tão óbvio que se chega a desconfiar. Mas é isso. É a pergunta clássica: o que você faria com um bilhão que não poderia fazer com 500 milhões? Pra que juntar tanta grana, que ficará mofando em cofres ou em zeros e uns em servidores bancários enquanto tem gente no desespero total? Sensação de poder, é claro, a psicologia explica. Mas que diabo, pra que tanto poder se no fim todo mundo vira pó e menos que pó? É uma mudança de mentalidade que é necessária.
Mas voltando à vaca fria: o que queremos? Será que não estamos nos indignando somente por causa de nossos nobres umbigos? Será que esses jovens que estão protestanto na Europa e nos EUA não voltarão satisfeitos para suas casas, seu consumo desenfreado, sua busca por status, poder e prazer momentâneo assim que alguma reivindicação for atendida? Queremos mudança ou somente mais dinheiro? Na hora de se indignar, é aquele pega pra capar. Temos como exemplo essa bobagem toda da USP, uns sem noção ocupando a reitoria, um governo acostumado a nunca ser questionado, a grande mídia ateando fogo, a classe média, claro, procurando soluções simplistas e a PM paulista, superpreparada e nem um pouco truculenta. Pronto, o circo tá armado. Manchetes e indignação pra tudo o que é lado, como se essa fosse a primeira vez que isso acontece. Fora que tem muita gente dizendo por aí que o buraco é mais embaixo, que a questão não é tão maniqueísta assim, tipo: “Os Malvados e Mimados Alunos” (colocando todos no mesmo saco, mesmo quem não é) contra os “Bonzinhos PMs Paulistas” (aqueles da Rota 66, dos assassinatos a sangue frio depois da crise do PCC, aqueles mesmos que sentaram o cacete nos professores ano passado)...
Mas voltando: por que esses que criticam com palavras tão veementes – inclusive os estudantes da USP – também não se indignam com assassinatos no campo, com a destruição dos grandes centros urbanos, com as grandes oligarquias, com o poder de manipulação da imprensa em prol de interesses de grupos específicos, com a criminosa concentração de renda, com a publicidade nos tornando meros idiotas compradores de tudo que é quinquilharia e por aí vai? Nada, né? O saco é que a mídia, que tem um poder imenso, em vez de ajudar, atrapalha e nos traz mais desinformação, mais cortinas de fumaça, mais defesa de interesses espúrios, conservadores e reacionários. Vixe, isso a gente fala desde a faculdade e nada mudou, muito pelo contrário, piorou.
O raciocínio é o mesmo para a questão que se coloca agora. Essas mesmas mídias que difundem as visões unilaterais e seus geniais “analistas” passaram os últimos vinte anos venerando o modelo neoliberal de desregulamentação, privatização selvagem, redução de investimentos do Estado e corte de benefícios da população. Claro, todos com rabo preso a empresas que deitam e rolam nesse sistema. Hoje veem seus castelos de areia ruindo e estão meio perdidos. Brasil e América Latina em franca ascenção com políticas sociais aliadas a investimento pesado e sustentados por estatais fortes e bancos públicos que não têm medo de dar crédito para manter a economia funcionando. E aí, classe média, de que lado ficaremos? É uma saia justa e tanto...
E aqui volta também a primeira pergunta. O que queremos? Queremos ser como os europeus e americanos, consumindo como gafanhotos e nos lixando para decisões tomadas sem participação popular? Pouco ligando para as grandes questões planetárias? Pouco ligando para nossos vizinhos? Queremos por aqui um novo muro igual ao que separa o Texas do México ou Israel da Cisjordânia? E depois que o planeta estiver totalmente exaurido e estivermos indo todos para o mesmo buraco, então vamos querer mudanças? Vamos culpar o governo por isso? Ou a nós mesmos? O pior é que eu sou pessimista por natureza. Não creio numa mudança do ser humano. Desde que descemos das árvores, o bordão “farinha pouca, meu pirão primeiro” é lei. E arrisca a continuar sendo.