sexta-feira, 26 de junho de 2009

Terrestres - Como ganhar com a crise

  • Está sem grana pra manter seus gastos? O caixa 2 da empresa foi prejudicado por causa da falta de liquidez no mercado? Teu ford fusion está precisando de uma garibada geral, mas no deus nos acuda perdeu uma fábula no mercado financeiro? A tal crise bateu pesado e não poderá ir à Europa visitar a amante enquanto a família vai pra Orlando? Para com isso. Crise não é crise. Crise é oportunidade. Se um bando de idiotas consegue andar descalço em brasas por que você não consegue ser criativo para driblar as dificuldades? Inovação é a palavra. Vá em frente, pense – ou mande outros pensarem por você -, trabalhe – melhor ainda, mande outros trabalharem por você –, tenha confiança.

  • Isso tudo é discurso. A crise não é tão feia pra quem é proletário porque proletário só se fode o tempo todo, então tanto faz como tanto fez, um pouco de melhoria pro povão às vezes já é 100% de melhoria (se você tem 0,01 no bolso e ganhar 100% em cima, fica com 1,00!) E o povo do andar de cima fica mordido por perder um pouco e acha que a marginalia não tem direito de ter seu fundinho de poço um pouco mais cheio.
  • E daí vêm as brilhantes mentes em prol da produção, da confiança, as grandes sacadas. Mas aí já é demais. Passeando pela blogosfera, me deparei com o http://imprensaindependente.blogspot.com, onde um post me chamou a atenção nessa impagável publicidade lá em cima feita casada com o desastre do avião francês. Isso que é achar oportunidades incríveis de mercado. A imagem eu pesquei desse mesmo site, capicce?

terça-feira, 23 de junho de 2009

Conunicação de golfinho

Já tive capacidade de comunicação de golfinho. Enquanto assistia a um filme na TV, conversava com minha mulher e lia um livro. E conseguia assimilar as três informações sem perda significativa de coerência em nenhuma delas. Dizem que os golfinhos conseguem assobiar e ecoar ao mesmo tempo e ecoar diversos objetos simultaneamente, mesmo em ambiente com ruído de fundo. O equivalente humano a assobiar e chupar cana.

Hoje infelizmente não tenho mais essa capacidade cetácea. Depois de mulher-casa-cachorro-filho-obra, a coisa foi ficando complicada. Fora que os 35 já vão ficando distantes, e os 40 chegando, e, tenho que admitir, THC e etanol são bons pra algumas coisas, mas são péssimos lubrificantes de neurônios. Cada vez mais as palavras me escapam, e sinônimos vão se tornando cada vez mais difíceis de garimpar nos arquivos do sistema.

O pior de tudo é a tendência ao rabugentismo, ao isolamento, ao tédio, esses são de lascar. Antes, pelo menos, eu era mais destemido, andava por cavernas, pulava de pontes, descia corredeiras, fazia rapel em cachoeira e até já saltei de paraquedas, além de uma série de outras bobagens arriscadas e sem sentido. Hoje, com a desculpa de ter um filho, o medo que garante a autopreservação de minha linhagem genética me deixa totalmente apático, o mais arriscado que tenho feito é atravessar a rua e olhe lá.

Enfim, faz parte de nossa jornada a mudança constante, só que nem sempre pra melhor. E quem conseguirá conter a mutação eterna, o movimento que faz o tempo? O melhor talvez seja ficar quieto, respirar, aceitar. Ah, mas continuo a ter muita saudade de minha comunicação de golfinho!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ainda o diploma de jornalismo

Tá maior blá blá blá por causa desse diploma. Enfim, há quem seja a favor e quem seja contra, e há muita bobagem de parte a parte. Sempre proletariando, desconfio muuuito da sanha das corporações em querer desregulamentar a profissão e poder empregar qualquer um a um salário de fome. Não querendo dizer que o salário é bom atualmente, pois, como todos sabem, jornalista tem um caminhão de trabalho por remuneração que não condiz em nada com todo o esforço, estresse, taquicardia e humilhação que impera no meio. Mas cada um sabe onde se aperta e se vira como quer e pode.


Em que pese o valor ou a justeza da decisão, é incrível como o povo de redação continua subserviente como capacho aos seus chefes. Falam aos quatro ventos sobre liberdade e quetais. Mas até agora não vi um, UM sequer fdp nos grandes veículos defendendo o diploma. Mas já vi vários enaltecendo a derrubada, fazendo ecos aos editoriais festivos dos patrões, e descendo a lenha em quem o defende. Isso é pluralismo? Isso é equilíbrio de opiniões? Isso é jornalismo? O que me irrita, de novo, não é a subserviência, todos nós somos sujeitos a ela em algum momento e lugar em nossas vidas, seja por necessidade, falta de vergonha ou pura vocação, mas essa hipocrisia, sai fora, meu.


Indo à parte prática, os colegas jornalistas que trabalham em redação poderiam pelo menos considerar seus pares como também seres humanos e fazer matérias de serviço explicando como fica a situação deles em diversos aspectos profissionais e de reconhecimento. É claro que isso não será feito. Se fosse com relação a advogados, médicos, engenheiros e cozinheiros, é claro que haveria todo um serviço do tipo, entenda o que acontece agora com você. Mas como são jornalistas... Pra facilitar, já mando as perguntas, estão liberadas, podem usar, é só copiar e colar, só que vai ter que ir atrás das respostas.


1 – Como fica a regulamentação? Valem os pisos, o registro e tudo o mais? Quem não tem diploma nem registro, o que precisará pra se registrar? Só chegar na DRT e pedir um registro de jornalista, um de pizzaiolo e um daquele que tá atrás das pilhas de molho de tomate, de que é? De cozinheiro? Então, me dá um desse. Ah! E me vê um de ministro do supremo também! Ah, não pode? Esse é só pra pessoas especiais? Então tá, desculpa aí.


2 – Se tenho um diploma, continuo a ter terceiro grau ou fui rebaixado? Se precisar entrar em algum processo seletivo que exija terceiro grau, posso ou não participar? Se não puder, aí ferrou tudo e realmente podemos jogar esse papelzinho no lixo.


3 – As publicações que precisam de assinatura de um jornalista responsável continuam a ter essa necessidade ou podem passar a ter somente um irresponsável?


4 – E, para alguns (não o meu caso no momento, mas nunca se sabe, né?), o diploma, que até então se referia a um curso superior, continua dando direito a cela especial em caso de prisão ou vamos pra galeria com os mano do PCC?


Só pra comentar algumas pérolas de comentários que rolaram por aí, independente de haver uma faculdade ou não, é de rir achar que grandes chefs, por exemplo, se fazem sozinhos, só na prática do dia a dia. Esses caras, com exceções que só confirmam a regra, fizeram e fazem muuuitos cursos e especializações.


Por outro lado, também é de rir achar que médicos aprendem a operar ou atuar na faculdade. Eles têm que matar muuuita gente no mercado até conseguir um bom desempenho.


Fico aliviado em saber que a liberdade de expressão foi restaurada com a desnecessidade de diploma. Dizem que até o Leonardo Boff foi convidado pra ser articulista na Veja no lugar do Marinardes, e que o Stédile vai ocupar o lugar do Reinaldo Azedo. Não é mesmo um milagre?


Só pra constar, estou sendo sarcástico e pra isso não precisa de diploma. E sorria, bastam alguns músculos.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Diploma pra cachorro levantar a perninha

Eu sempre quis ser ator. Trabalhei duro na adolescência, dias e dias de ensaio, diferentes grupos, deixando de sair com a galera pra meras horas de parca glória na ribalta que depois se desdobravam em mais dias e dias de desgastante empenho físico e mental. Foram anos, e meu destino era seguir a carreira. Não era lá essas coisas na função, mas dava pro gasto. Mus pais diligentemente me desviaram, me desencorajando e me deixando totalmente sem rumo, me convencendo a fazer alguma faculdade “de verdade”.

Em vez de seguir o caminho normal, de advogado, dentista, médico ou engenheiro, ou mesmo analista de sistemas, que aflorava numa época ainda sem interfaces gráficas nos PCs, resolvi fazer jornalismo. Fiz malemale em Bauru, e me lembro mais das festas e bebedeiras, ou melhor, compreensivelmente não lembo de quase nada, é claro. Enfim, fiz, mas nunca curti de verdade a profissão, embora tenha desempenhado razoavelmente, tenha me divertido e até me orgulhado de vez em quando. E tenho me sustentado com essa capacidade há anos, inclusive sustentando minha família.

Ms por que toda essa patacoada aí acima? Porque desde ontem, dia 17/6, não tenho mais diploma. Ou tenho, mas não vale nada. Aqueles senhores de toga do Supremo, aqueles mesmos do bando de capangas do Mato Grosso, velhos carcomidos, com cara de uva passa, falando sobre a necessidade da liberdade de expressão, da liberdade total de qualquer um poder exercer a profissão, resolveram, entre um uísque e outro, acabar com a exigência do diploma, se achando os heróis da democracia.

OK, nem me abalo muito. Realmente deixei de ser jornalista faz tempo. Uso minha capacidade de escriba e editor para ganhar meus caramiguás na área corporativa. Mas o foda é ouvir esses senhores falarem com essa cara lavada de liberdade de expressão. A tese só valeria se, com a nova decisão, qualquer um pudesse entrar pela porta da Folha, da Veja ou do Estadão, por exemplo, e tivesse total espaço pra falar o que bem entendesse, tipo defender os movimentos sociais sem criminalizá-los, apoiar controle nacional sobre riquezas públicas como petróleo e energia, ou mesmo que as drogas pudessem ao menos ter um debate civilizado sobre descriminalização. Rá! Alguém acha que isso poderá acontecer? Claaaro que não, então a tese cai de primeira.

A questão é um prato cheio pros patrões, que é o que ninguém se liga ou não liga pra ligar: sem ser agora uma categoria, como fica a questão sindical? O piso salarial arduamente alcançado? Os poucos direitos que jornalistas têm por culpa própria porque ninguém entra em piquete porque, afinal, quem é que vai cobrir a greve dos jornalistas? Agora é só pegar qualquer gajo de 16 anos e colocar pra trabalhar, afinal, o que importa atualmente é saber escrever razoavelmente e saber aceitar ordens sem questionar. Já é assim, vai ficar pior.

Na verdade, a questão não é a discussão de se precisamos ou não do diploma, mas mais uma vez as desculpas esfarrapadas de inconfessáveis interesses que nunca se apresentam escancaradamente. A raiva é dos cretinos como nosso dileto chefe supremo do supremo que se alinham com tudo o que é preconcebido e neoliberalizante. Mas afinal, com blogs e tuíters e iutubes e tudo o mais, pensando bem, quem vai querer ler essas merdas de jornais e assistir a esse lixo de TV? Fui. E tarde.