terça-feira, 29 de julho de 2008

Looping metropolitano

Podem até dizer que não tenho o que dizer. Que toda vez que vou pra São Paulo, tenho alguma observação, e quando fico por aqui, nada rola e o blog fica às moscas. Mas a verdade é que Curis é pacata, serena, organizada demais (relativisticamente, é claro), limpa, pequena e modestamente habitada. Já SP é aquele gigantismo que faz crescer nossos olhos e sentidos, para o bem e para o mal. E qualquer corriqueiro acontecimento passa a ser história para encher estas linguiças biteludas.

Para quem não tem tempo nem dinheiro para sair por aí a visitar o Hopi Hari, o Beto Carreiro ou mesmo o Playcenter, fique sabendo que agora você, sim, você mesmo, caro leitor, pode desfrutar do único, vibrante e emocionante “Lúúúúúúúúúpin meeeeeeeeetroplolitanooooo!” É isso mesmo, agora em SP, se você acha que pegando o metrô no Tucuruvi, ponto final, você vai conseguir ao menos entrar no vagão sem muito esforço, fique sabendo que ele já chega cheio dessas pessoas adeptas desse novíssimo esporte que só poderia ter lugar lá, na supercap.

São pessoas que precisam ir em direção ao sul, mas, como não conseguem entrar daquele lado, pegam o lado de cá e seguem até o ponto final. Lá chegando, permanecem no vagão, disputam espaço com os novos passantes, e seguem de volta, agora no trilho certo, para tentar descer em seu destino final.

Tive notícias de quem, por impossibilidade de subir na Luz no trilho norte-sul para chegar à Vergueiro (cinco estações), pegou o trem na linha sul-norte, foi até o Tucuruvi (oito estações) para fazer seu looping e voltar na direção certa até a Vergueiro (mais 13 estações). Mas tem que ver que estou falando do horário de pico, tipo 10 da matina, já que o horário de pico de São Paulo é que nem meu inferno astral, que começa exatamente um ano antes do meu aniversário.

Cara, chega a ser engraçado, de dar risada de nervoso, isso se todo mundo não estivesse se ferrando geral e sofrendo o diabo. Mas os caras do consórcio da linha amarela já mataram a charada: a culpada é a geologia. Fossem mais civilizadas, as rochas locais teriam feito maravilhas com esse nosso povo, e nosso trânsito seria muito mais organizado. Mas elas não colaboram. Se mexem, derrubam túneis, abrem crateras. Com um exemplo desse, o que esperar das formigas, humanos e outros seres rastejantes? A conta, por favor.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Terrestres - papai noel sanguinário

( AP)
  • Esse vovô aí, um solitário e contemplativo papai noel, com espessa barba branca e olhos fixos, até nos choca. Queísso, onde estão com a cabeça ao prenderem esse senhor de respeito, que professa úteis conhecimentos sobre medicina naturalista, afinal, um benfeitor da nova era, uma mente preocupada com novos paradigmas de pensamento, que não se curva diante da fixação imediatista das modas consumistas. Pois bem, esse simpático velhinho é Karadzic, o açougueiro dos Bálcãs, aquele que cercou Saravejo e disse que a cidade não iria ter que contar seus mortos, mas sim os vivos. E que agora foi preso.

  • O jornalista e quadrinista Joe Sacco tem uma ótima HQ pra quem quer saber mais: “Área de Segurança Gorazde”. Nela tem uma cena hororosa, de quando os sérvios levam dezenas de mulheres e crianças pra uma ponte na Bósnia e cortam o pescoço de uma por uma e jogam no rio. Simples assim. O horror, igual ao de Darfur, Serra Leoa, Birmânia e, por que não dizer, Guantánamo? A dica do Joe está aí. O cara é porreta. Bom pra caramba na escrita e no visual. E agora mais atual que nunca.

  • Bom também é um conto dele, publicado aqui em uma edição “Comic Book: O Novo Quadrinho Americano”, chamado “Natal com Karadzic”, em que conta como ele e dois colegas jornalistas, um deles da BBC, conseguiram, em plena guerra, uma entrevista com o líder sérvio em plena comemoração de natal, numa bucólica igrejinha de interior, cercado por famílias cheias de mulheres e crianças e com neve por todo lado. É ou não é um papai noel de verdade?