domingo, 1 de setembro de 2013

Não entendo nada de economia

Eu não devo entender nada de economia mesmo. O dólar tava baixo. Todo mundo gritando: "A indústria brasileira tá morrendo." "As exportações estão minguando e as importações crescendo!" Agora: o dólar extremamente alto tá "destruindo a economia", "trazendo inflação", "destruindo as empresas por causa dos contratos em dólar"...

Penso no tal do PIB. "Tá baixo", "pibinho", "ridículo"... E aí vêm (só pros incautos: vêm como verbo no plural, assim como "têm", continua com acento, que, neste caso, não foi dizimado pela metralhadora da reforma ortográfica (aliás, parênteses dentro dos parênteses: acho que deveriam ter exterminado todos os acentos e demais sinais, assim traríamos pra aprovação automática pelo menos 20% dos postulantes que atualmente são desconsiderados em qualquer teste de português - e agora fecham os primeiros parênteses) e, continuando e recuperando o vêm lá de cima, fecho os segundos parênteses...) ... vêm comparar com os "fantásticos" crescimentos da China, de média de 7% ao ano... Mas peraí, a China não é uma ditadura sanguinária, onde qualquer  projeto de governo ou econômico é imposto, sem chance de questionamento? A resposta é: SIM. Ou seja, lá, não temos o intrincado sistema de questionamentos e impedimentos, de denúncias e adiamentos, de investigações e denúncias..., ou o dito sistema chamado "democracia", onde todo mundo pode fazer quase tudo o que der na telha sem ao menos se questionar a validade disso....

Então fico pensando nas Olimpíadas de 2008, como você acha que foram na China? Tipo, pra construir o tal Cubo de Água (lindíssimo, aliás), a otoridade chegou prum camarada e disse: "Precisamos devastar esta área pra construir", e o técnico: "Precisamos de um estudo de impacto ambiental", o outro: "Concordo", e emenda: "Você tem 15 minutos!" E depois disso, o cubo foi construído.... Assim até eu. Não que a China tenha outra saída que não essa, pois uma coisa é falar na dita "democracia" com países com 200, 300 milhões de habitantes. Vai falar em administrar 1,344 bi, a coisa fica mais pra rainha de formigas do que pra "vontade da maioria", mas isso é outra história. Bom, voltando à vaca fria, é esse tipo de comparação que queremos fazer? Brasil democrático X China formigueiro? Ou, pensando bem: será que dá realmente pra fazer esse tipo de comparação? Sei não.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Palminhas, vaiazinhas e picuinhas

Na boa. O cara gasta 250 paus por cabeça, em média. Vão ele, os filhos, a mulher. Ou vai só, que seja. Vai em vários jogos da Copa. Torce, curte, bate palminhas, come o sanduíche do estádio e paga os escorchantes preços dos salgadinhos e refrigerantes.

Em casa, dá audiência a quem esteja transmitindo ou fazendo as chatíssimas mesas redondas de especialistas no assunto. Assiste às propagandas ufanistas dos patrocinadores, cheios de olhos grandes somente para os caraminguás que os telespectadores têm nos bolsos.

Beleza, futebol é contagiante mesmo. Por menos que você goste, acaba torcendo. É um belo espetáculo. Só a racionalidade não explica essa fixação. É o circo moderno, com certeza. Está lá dentro de nós, o combate singular, a luta que substitui a guerra, traduzido em um campo de batalha em que as regras são pré-definidas, em que o sangue não escorre (quase nunca). É algo legal. É prazeroso. OK. Estamos entendidos.

Mas lá volta o gajo ao estádio para outro jogo desta Copa, igualmente caro. Cada ingresso, cada coxinha, cada refrigerante, cada cerveja sem álcool (quem inventou isso, meu deus?), cada minuto em que ele assiste aos jogos significam mais grana no bolso dessa entidade privada aberrante, dirigida por pessoas incorruptíveis do naipe de um Ricardo Teixeira, um José Maria Marin, um Joseph Blatter, um João Havelange!

E então lá está o cara no estádio. Pipoca em uma mão, refrigerante em outra. Curtindo. Lá fora, o pau comendo. E o nosso ilibado cidadão resolve então vaiar e protestar contra a Copa. Não é uma coerência máxima? Não é uma conivência imbecilizante? Não é uma hipocrisia galopante?

Não digo isso julgando só os outros. Eu mesmo sou hipócrita ao extremo. Não gosto de financiar a Copa pra essa horrorosa instituição que é a Fifa. E acho absurdo pagar milhões de reais para jogadores – e para qualquer outro mortal –, visto que o trabalho deles, se formos considerá-los como operários da bola, é o mesmo de um operário de outro segmento qualquer: tem que cumprir uma jornada de várias horas diárias, tem metas, é cobrado o tempo todo etc.; avaliando isso, nos vem a questão: por que a diferença tão grande de salários se todo mundo rala igual?

Apesar disso tudo, eu acompanho os jogos, aprecio o futebol apresentado e me delicio sabendo que estou ganhando um bolão feito com amigos. Ou seja, dou audiência, enriqueço os anunciantes, encho os cofres das TVs, dos jogadores e da Fifa.

E depois saio tranquilamente protestando contra a Copa...

Não sei, mas acho que eu merecia um gás de pimenta nas fuças pra ganhar vergonha nessa minha cara.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

No meio do protesto

Pra não dizer que não presenciei nada, nesta noite de 21 de junho atravessei um dos tais protestos aqui em Curitiba.

Devo parabenizar os participantes. Uma noite chuvosa pra danar. Não uma chuvinha qualquer. Uma puta chuva, que cai há dias, junto com o frio curitibano. Não é pra amadores. Todos molhados e gelados. Mas normal pra galera, a grande maioria adolescente. Nessa idade, você nem sente o frio ou o cansaço.

Claro que tinha muita, mas muita gente mesmo, bebendo pra caramba, em PETs devidamente preenchidas de cachaça, vodka ou qualquer coisa alcoólica misturada com qualquer outra coisa pra dar um gostinho. Isso com certeza afastava a friagem. Mesmo sendo meio cedo, coisa de 18h45, vi uns quatro já carregados pelos colegas, totalmente bêbados.

O que parece é que nesses dias as manifestações se tornaram uma espécie de programa. Melhor que ficar em casa ou se enfiar em algum shopping. Embaixo de chuva, todos juntos, encontrando os amigos, dando uma azarada nas pretendidas e nos pretendidos e em gente nova que dá mole. Como disse antes, pra quem tem energia de sobra, é uma aventura. Ainda mais porque eles conseguem parar as ruas, como se fossem os donos delas. E, na verdade, são mesmo. Somos todos.

Eram vários grupos separados, indo ao longo da Marechal Floriano na direção da Rui Barbosa. O legal é que o trânsito parou, os ônibus precisavam ser esvaziados, pois não iam para mais lugar algum. E algumas pessoas ficavam putas, mas no fim entendiam. Uma espécie de trégua para que os jovens pudessem extravasar, gritar, sentir que faziam a diferença. Sem muito estresse. Afinal, você se estressa todo dia mesmo por motivos diversos.

Outra coisa que vi foram muitos estudantes bastante jovens, coisa entre 14 e 16 anos. Muitos estavam de uniforme, demonstrando que vinham direto da aula. Todos animados. Porque era sexta-feira à noite. E a galera estava se encontrando. Quer coisa melhor?

Também vi faixas com as tradicionais palavras de ordem, gritadas ao vento: "se a roubalheira não parar, a gente para o Brasil", "estamos mudando o país" e demais generalidades. No fim, um grupinho que fazia um "esquenta" numa esquina conversava. Um deles fala: "e aí, será que a gente baixa pra 2,60 hoje?" "Nah, vamos quebrar tudo", diz outro.

O frio e a chuva apertavam e fui indo. Não vi confusão. E não vi como terminou. Fiquei com receio por eles, claro, e por outros, que não estavam envolvidos no protesto. Meu lado tiozão me mandava censurar esses jovens. Onde já se viu encherem a cara e saírem se metendo em perigo e ameaçando arruaça por aí? E ainda mais sabendo que o movimento estava sem foco, generalista, sendo cooptado por outras forças, pela mídia, por visões simplistas, preconceituosas e conservadoras demais para tais cabeças tão novas?

Mas não consegui ficar com raiva. Talvez porque no fundo algo me lembrava que já fiz coisa pior na minha época. Deixa estar. Faz parte.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Odeie tudo o que está aí

Odeie o congresso, odeie a presidenta, odeie o judiciário, odeie a taxa baixa de desemprego, odeie a baixa de juros, odeie o gasto público, mas também odeie a falta de investimento, odeie a desoneração de impostos e também odeie os impostos abusivos, odeie a livre informação pela internet, odeie o capitalismo de risco, odeie o capitalismo com algum risco, odeie a livre concorrência e seu concorrente, odeie a cultura nacional, odeie a nova classe média, a antiga classe média, todas as classes, odeie a política, os políticos, os médicos cubanos, aliás, odeie cubanos de todo tipo, odeie o sistema.

E então pregue o voto nulo, a morte dos políticos, a demissão das empregadas domésticas, a redução da maioridade penal, o fim da mamata pra esses vagabundos do bolsa-esmola, a pena de morte pra safado, a tortura pra bandido. Mas ignore as mentiras que você conta, o nada que você faz para ajudar, seu apoio ao lixo cultural que invade nossa TV, ignore o foda-se que você dá à poluição, ao desmatamento, à especulação imobiliária e ao lixo gigantesco, todos gerados à sua volta e com o seu apoio, ignore a deseducação de seu filho, as sacanagens de seu chefe, o seu suborno ao guarda, o seu dirigir embriagado, ignore sua própria ignorância.

Entre em campanhas idiotas, o cansei, a luta contra o comunismo no Brasil, o fechamento do congresso, a meia entrada pro cinema, a moralização pública, a gente diferenciada, a queda do Renan, a queda do Feliciano.

Esqueça convenientemente quem realmente precisa de apoio real e de indignação, como os índios, o meio ambiente, os curdos, os paquistaneses, os angolanos, as crianças, os favelados e miseráveis, os afegãos, os palestinos, os sem-terra, os sem-teto, os sem-nada em geral.

Enfim, fique despreocupado, aos poucos você estará apoiando a dissolução “disso tudo que está aí”, estará apoiando torturadores, ajudando a derrubar as regras estabelecidas, a acabar com tudo pelo qual muita gente lutou e morreu, para colocar no poder alguém que vai te fazer amar a democracia nem que tenha que arrancar cada unha tua, cada dente teu na porrada, nem que tenha que te colocar pendurado no pau de arara e enfiar um cassetete no teu cu, nem que tenha que grudar um grampo no teu peito, no teu clitóris, no teu saco e ligar na tomada, nem que tenha que arrancar teu bebê de tuas entranhas e dar pra mulher de um general milico filho da puta criar como se fosse filho dela. Então você vai falar: “finalmente recebi o que merecia e sabia que estava certo, igual àquele Mal-amado Retardado Batista”. Então, já temos um ídolo, agora é só pôr mãos à obra!