segunda-feira, 24 de junho de 2013

Palminhas, vaiazinhas e picuinhas

Na boa. O cara gasta 250 paus por cabeça, em média. Vão ele, os filhos, a mulher. Ou vai só, que seja. Vai em vários jogos da Copa. Torce, curte, bate palminhas, come o sanduíche do estádio e paga os escorchantes preços dos salgadinhos e refrigerantes.

Em casa, dá audiência a quem esteja transmitindo ou fazendo as chatíssimas mesas redondas de especialistas no assunto. Assiste às propagandas ufanistas dos patrocinadores, cheios de olhos grandes somente para os caraminguás que os telespectadores têm nos bolsos.

Beleza, futebol é contagiante mesmo. Por menos que você goste, acaba torcendo. É um belo espetáculo. Só a racionalidade não explica essa fixação. É o circo moderno, com certeza. Está lá dentro de nós, o combate singular, a luta que substitui a guerra, traduzido em um campo de batalha em que as regras são pré-definidas, em que o sangue não escorre (quase nunca). É algo legal. É prazeroso. OK. Estamos entendidos.

Mas lá volta o gajo ao estádio para outro jogo desta Copa, igualmente caro. Cada ingresso, cada coxinha, cada refrigerante, cada cerveja sem álcool (quem inventou isso, meu deus?), cada minuto em que ele assiste aos jogos significam mais grana no bolso dessa entidade privada aberrante, dirigida por pessoas incorruptíveis do naipe de um Ricardo Teixeira, um José Maria Marin, um Joseph Blatter, um João Havelange!

E então lá está o cara no estádio. Pipoca em uma mão, refrigerante em outra. Curtindo. Lá fora, o pau comendo. E o nosso ilibado cidadão resolve então vaiar e protestar contra a Copa. Não é uma coerência máxima? Não é uma conivência imbecilizante? Não é uma hipocrisia galopante?

Não digo isso julgando só os outros. Eu mesmo sou hipócrita ao extremo. Não gosto de financiar a Copa pra essa horrorosa instituição que é a Fifa. E acho absurdo pagar milhões de reais para jogadores – e para qualquer outro mortal –, visto que o trabalho deles, se formos considerá-los como operários da bola, é o mesmo de um operário de outro segmento qualquer: tem que cumprir uma jornada de várias horas diárias, tem metas, é cobrado o tempo todo etc.; avaliando isso, nos vem a questão: por que a diferença tão grande de salários se todo mundo rala igual?

Apesar disso tudo, eu acompanho os jogos, aprecio o futebol apresentado e me delicio sabendo que estou ganhando um bolão feito com amigos. Ou seja, dou audiência, enriqueço os anunciantes, encho os cofres das TVs, dos jogadores e da Fifa.

E depois saio tranquilamente protestando contra a Copa...

Não sei, mas acho que eu merecia um gás de pimenta nas fuças pra ganhar vergonha nessa minha cara.

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