sexta-feira, 14 de maio de 2010

Uma busca - 2

Falta de modos daquele dinossauro do pensamento retrógrado! Bem, bem, continuo em minha busca incessante por um homem. Sem ele, a criação não terá sentido, cairá de vez a noite eterna sobre o vão entre nossas orelhas!!! (Esconde o rosto entre as mãos.) Credo! Assim nem eu aguento, também não é preciso esse drama todo! (Vai chegando no Colombo, que está sentado.) Olá, senhor! Posso questioná-lo sobre suas crenças neste mundo?

Colombo
Na verdade, não há o que dizer sobre o que eu posso lhe dar, rapaz! Minha missão é escrever. É o que gosto e o que sei. Crio e recrio informações fúteis, pedaços de verdades, muitas mentiras, nada que seja real nem mesmo imaginário. As palavras como poder para criar… (pensante) hummmm… mais palavras, creio eu.

Zac
(Com entusiasmo crescente.) Palavras, sim! Palavras, é um caminho! É uma técnica com possibilidade estatística de sucesso bem maior do que outras. Mas histórias como quais?

Colombo
Ah. Sim, estão escritas aqui, em algum e-mail que está no servidor central, deixe-me ver. Ah, esta é interessante. (Pigarreia.) Aham! Aham! Bem, muito já havia se falado de luzes, estrelas e o próprio sol. Estudos avançadíssimos deixavam já a matéria desnudada, suas vergonhas aparecendo, mas sem nunca mostrar mais do que deveria a boa decência. E havia, claro, todo tipo de rumores, boatos, histórias, zuações sobre luzes incompreensíveis e fora da realidade. Pois bem, certa vez um desses fenômenos ocorreu verdadeiramente. De uma estranha e rara luz com comportamento incompatível com qualquer tecnologia sonhada na época, saiu uma espécie de nave. Pelo seu formato engraçado e incomum nas fantasias de cada um dos habitantes das imediações, estes apelidaram o curioso objeto de disco voador. Oh, oh, oh, oh! Uma alegoria pra lá de imbecil, cá entre nós… Enfim, os relatos foram muitos e alguma coisa foi documentada, mas na verdade nada nem ninguém poderia confirmar ou negar tais fenômenos. Alguma coisa sairia nos diários informativos, mas quem botava alguma fé nesses fatos ganhava a pecha de lunático – nominação ironicamente conveniente para o momento, convenhamos – e era prontamente relegado ao rol dos ignoráveis. (Zac está dormindo, roncando estridentemente. Colombo nota e o acorda, bravo). Ei! Você não está prestando atenção! Estou a contar uma história de importância ímpar! Acorda! Ei, acooordaaa! (Zac acorda assustado.)

Zac
Hã? O quê? Ah, desculpa, meu velho, mas tava meio difícil ficar acordado com todo esse teu lero-lero. Credo, cê me deixou na maior lombra, meu! Bom, deixa quieto. Valeu, hein, coroa, preciso ir nessa, tá? (Sai.)

Zac (Quando está sozinho.)
Queísso, as palavras até podem ajudar. Mas atrapalhar desse jeito, tá doido! (Empolado.) Não, esse ilusionismo vernacular não é a resposta! (Para e pensa no que falou, com espanto.) Nossa! De onde eu tirei isso? Sai fora, meu, acabei ficando contaminado com o trololó desse matusa, eu, hein? Bom, tô voltando ao ponto de partida. Continuo na mesma. 

(Caem os panos.)

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