domingo, 3 de outubro de 2010

Grande mídia está em festa!

A “grande mídia” está em festa. Refiro-me, é claro, a Veja, Estadão, Globo, Folha e outros asseclas. Seu candidato foi para o segundo turno. Empurrado pela Marina, pois o Serra não sai de 32% dos votos há um par de anos. Muita manipulação e pouco jornalismo. Inverdades e mentiras deslavadas, depois não desmentidas ou realizadas em algum canto de página, bem longe das manchetes que deram espaço às “denúncias” iniciais. PSDB, Serra e seus sipaios sendo, como sempre, tratados com melzinho na chupeta. Marina, que antes era mostrada como uma pobre subnutrida do Norte que atrasava o crescimento em seu cargo no meio ambiente, agora é tratada com deferência e a maior consideração, sem um pingo de questionamento sobre suas vagas promessas de “crescimento com preservação”. Coisa primaríssima. Tudo pra garantir o segundo turno.

Não sou moralista. Esse é o jogo. Desde o primeiro ano de faculdade, em que sonhei, com outros companheiros, com a subida de Lula ao poder, e em que todos ficamos frustrados, já sabia que a parada era dura, com o jogo desigual e sujo da mídia e das classes dominantes. O que irrita são interesses inconfessáveis serem travestidos de isenção e apartidarismo. E o que irrita mais é a massa de manobra – ou bucha de canhão – da classe média se prestar ao papel de acreditar cegamente nisso tudo, sem questionar, sem pesar as coisas, repetindo bordões pensados em redações escusas, realmente acreditando que um lado é o demônio e que outro lado são o senhor e todos os seus anjos, como se esse maniqueísmo primário fosse possível neste incoerente pedaço da realidade espaço-temporal em que vivemos.

Por outro lado, é bom ter esse bombardeio todo. Lula foi castigado por essa ainda poderosa mídia durante oito anos. Houve motivos para tal? Certamente. Mas o outro lado também teve motivos de sobra para ser cobrado e denunciado, mas, como é amigo de ideologia desses pequenos feudos midiáticos, seus escândalos, erros e incompetências sempre foram convenientemente varridos pra baixo do tapete. Demonizar um lado, enaltecer o outro, essa parecia ser a receita do sucesso para tais redes. Mas eis que não conseguiram. Por mais que batessem, por mais factóides que criassem, mais a popularidade do cara subia. E aconteceu algo semelhante nesta fase das eleições com a Dilma. Capas e mais capas de todos os veículos, alguns chegando ao patético de ter praticamente todas as chamadas com críticas a Dilma, ao Lula, ao governo ou a todos eles juntos. Aí a coisa fica descarada demais. Fatos concretos misturados a delírios. Mentiras sendo apresentadas por condenados pela justiça, estes por sua vez sendo apresentados como honrados homens de negócio. Só faltou chamar o Beira-Mar, colocá-lo num terno Vila Romana e mandar ele sapecar algumas denúncias nas páginas amarelas no meio disso tudo. Não deu tão certo quanto esperavam. Antigamente, essa artilharia pesada teria realizado seu intento com um pé nas costas. Hoje, não mais. E espero que continue.

Há um ingrediente novo nisso tudo: a blogosfera, a tuitesfera e todas as virtuesferas correndo atrás de cada informação, desvendando fraudes, demonstrando contradições, cantando as próximas bolas da vez. O que fez com que o poder se nivelasse um pouco. Mas deixe estar, todos devem ter sua liberdade, que continuem com seu jogo, desde que qualquer um possa fazer o seu também. Falta-nos uma lei de medios, para dar ao cidadão uma forma de lutar contra o avassalador poder de difamação dos grandes conglomerados. Mas isso está longe de ser censura. É apenas justiça. Mas antes de mais nada, não custa nada lembrar aos barões da mídia que, antes de qualquer liberdade, a mais importante é a de expressão, que é individual e intransferível e intocável. Ou seja, se a liberdade de imprensa se sobrepuser a esta, estará fazendo censura e estará tolhendo um direito sagrado e básico dos cidadãos de nossa civilização brasileira. Portanto, é inadmissível que a mídia, ao ser criticada, em vez de rebater as críticas com parcimônia ou, melhor ainda, assimilá-las, criar uma conspiração inexistente contra a liberdade de imprensa, dizendo que querem tolhê-la. Ninguém nem remotamente sugeriu isso, mas ela cinicamente usa seu poder para tentar botar fogo no circo, e dane-se quem saia queimado ou pisoteado no desespero que se segue.

Tinha dito lá em cima que, apesar dos engulhos que tive nesta campanha e sabendo que, caso Dilma seja eleita, os próximos quatro anos – ou oito, dependendo do andar da carruagem – serão de puro ódio e preconceito destilados cuidadosamente, achei e acho bom esse tipo de atitude. Explico: ninguém fica bom no que faz sem ter desafios. Nenhum lutador chega a finalizar alguém se não tiver adversários que deem porrada sem dó nem piedade. Samurai algum poderia sequer pensar em segurar sua primeira katana sem antes ter sofrido humilhações horríveis nem suado sangue frente a seus mestres. Ter inimigos poderosos é o caminho mais curto para a perfeição na postura de defesa e eficácia mortal nos golpes. Daí que é justamente isso que essa parcela e mídia tem feito. Serra, Alkmin, DEM e PSDB, e agora PV, ao contrário, sempre foram tratados como perfeitos, contra quem nenhum escândalo foi remotamente investigado e nada nunca foi para nenhuma manchete. Como disse, são os representantes do paraíso aqui na Terra. Só que isso faz com que eles percam a mão, acreditem na própria mentira. Esse tipo de atitude faz com que você abra a sua guarda porque acha que a simples menção de seu nome ou o vislumbrar de sua tez será suficiente para o adversário bambear nas pernas e deixar entrar o golpe fatal. Ledo engano. E isso um dia será a ruína. Deles e dos meios de comunicação. O que quer que aconteça nessas eleições, algo mudou. Não sei se para melhor. Mas mover-se é melhor do que ficar parado no tempo. Se não melhor, pelo menos é menos tedioso e, muitas vezes, mais divertido.

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