sexta-feira, 13 de julho de 2007

Esconde-esconde com a morte 6

Amigos visíveis

Bom, eu tava encurralado no fundo do bar pensando como escapar inteiro daquela situação. Imaginava um jeito de sair dali sem ser depenado pelos três meganhas frustrados – porque era o que eram, caras que adoravam andar e trocar figurinhas com a polícia, se é que me entendem. Fiquei ao lado de uma mesa que tinha um povo legal, uns dois caras e duas garotas. Uma delas fala: Fica aqui atrás, ninguém vai te encontrar. Gente boa mesmo esse pessoal, me deram proteção.

Lá na frente, o auê ainda estava rolando, eu não podia saber o que acontecia porque não queria dar as caras. Sei que tava um agito e, de repente, o Flávio irrompe do meio do povo: Fica aí, cara. O Ferpão quer o teu couro. Eu vou lá fora falar com eles. Não, cara, não vai não, eles vão te bater. Minhas súplicas foram em vão, e ele insistiu. Eu conheço os figuras, não esquenta. Eu, querendo agora dar uma de machinho, bravateando: Então vou contigo. Flavião não deixou. Não. Fica aqui. No que mostrei que ia insistir em ir com ele, uma das garotas que estava na mesa – uma negra, não muito alta, mas gordinha, rechonchuda mesmo, e forte pra caramba - se manifestou pro Flávio: Pode deixar, ele vai ficar te esperando aqui. E me agarrou por trás, segurando meus braços fechando firmemente suas mãos na minha frente e evitando que eu me movimentasse. Ela era forte, depois fui saber que era policial militar de baixíssimo escalão, talvez soldada rasa. Viu? Nem tudo está perdido.

Aguardei naquele abraço da mamãe ursa, de vez em quando pedindo pra ela me soltar. Não, vamos esperar. Então tá. Esperamos. Depois de uns quinze minutos naquela situação ridícula, com ela me encoxando, volta o Flávio: Tá tudo certo, falei com eles. O dono do bar também foi lá ameaçou chamar a polícia e fazer maior auê. Eles foram embora, mas é melhor esperar um tempo pra eles desistirem de vez.

Beleza. Virei pra minha protetora. Viu? A barra tá limpa, pode me soltar. Ela sorriu matreiramente. Ahhh, já? Me agraciou com um belo sorriso e me soltou. Agradeci aos meus benfeitores e resolvi tentar relaxar. Desta vez, de verdade. Fui procurar algo pra beber. Eu não me sentia real, toda aquela bruma e essa história maluca – sem falar a cachaça – tinham me deixado entorpecido. Tanto que não vi pra onde o Flávio tinha ido. Ah, que se dane. Voltei a dançar pra tentar tirar toda ziquizira no suor.

Como que pra finalizar em grande estilo, lá pelas tantas encontro o Flávio sentado numa mesa. Os dedos da mão direita, vermelhos e inchados, enfiados em um copo com gelo. Perguntei o que tinha acontecido. Ele, que também tava meio zonzo como eu, falava alguma coisa sem nexo. Naquele som alto, eu não entendia lhufas. Olhei os dedos detonados dele e fiquei puto. Porra! Os caras te machucaram, né? Caralho, que foda. Eu sabia, cara, você não devia ter ido lá falar com eles. Esses caras são uns animais. E o Flávio: Não, não é nada disso. Acontece que ele também resolveu dançar, relaxar, pular, suar e mandar tudo pra pqp. Se empolgou demais no bailado e enfiou a mão num ventilador de parede. Pode parar. Pra mim chegava. A conta, por favor.

Resolvemos ir embora pra tranquilidade do sítio, descansar, dormir, esquecer. Já era alta madrugada. O domingão já tinha chegado sorrateiramente e seria ideal para ficar bundando o dia todo, curando as feridas em um lugar pacato e silencioso. A longa noite de ameaças e sustos finalmente tinha terminado.

E foi aí que capotamos o jipe.

A seguir: "Esconde-esconde com a morte 7 – Vôo de galinha"

3 comentários:

  1. Que bolero esse conto daria!
    Só por na métrica.
    Um samba talvez.

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  2. É, e eu não tenho nada a ver com isso, juro!

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  3. Caraca meu...vai atrair confusão assim lá na china...ainda bem que a mãe nunca ficou sabendo dessas coisas....senão ela teria morrido do coração ao saber que o filhinho querido dela andava por esses apuros...aliás essa sua crônica é mais uma prova de que " vaso ruim não quebra fácil" bjo

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