quarta-feira, 25 de julho de 2007

Terrestres

  • Fabulinha do desastre

> Olha só aquele careca com fundos olhos marcados. Ele olha pros escombros e diz: que tragédia, nunca vi nada igual!

Se é que disse mesmo. Tá no jornalão. Tá na tevezona. Tá na semanal. Então deve ter falado, os meios nunca mentem a mensagem. Ele se esmera em sua pose e diz: Queremos providências! Queremos os culpados!

Que fleuma, quanta objetividade, é um verdadeiro líder!, assomam comunicadores em sua inimitável e irrefreável lida diária.

Choram mães e filhos, a eles não se pode negar total e irrestrito direito. Dor impassível e irreconhecível por quem está de fora. Esses devem ser sagrados com o respeitoso silêncio.

Mas aquele senhor, o de careca pronunciada e olhar sombrio, aquele mesmo, amigo do outro médico narigudo e de oclinhos. Esses amigos, há bem pouco tempo, deixaram uma rebelião assomar-se diante dos portões dos bandeirantes. Como patinhos de jogo de tiro em parque de diversões, policiais desavisados foram caindo um a um. Assim, sem mais.

E depois, aquele senhor, junto com o colega burguesinho e o outro velho quase careca metido a filósofo de carteirinha que acabou tenho o rojão estourado na mão, esses mesmos, deixaram que a polícia – aquela, paulista, boazinha, cheia de escrúpulos – saísse vingando as dores ao bel prazer, assassinando indiscriminadamente quem viam pela frente.

Sem derrubar um único avião, esses caras causaram e causam mais mortes que qualquer irresponsável acidente como o recente. Mas é claro, não falemos disso. Jornalões e tevezonas também têm mais o que fazer além de remoer fatos velhos, o que passou, passou. E, afinal, aqueles presuntos – população em geral e policiais inclusos – eram pobres, de onde vieram tem muito mais, então pra quê tanta celeuma?

É por isso que o nobre líder da locomotiva sem freios do país agora se debruça oportunamente sobre as vítimas e diz, conforme os jornalões e tevezonas: Que desgraça! Queremos os responsáveis!

Vai que é tua, meu garoto, que um dia você será presidente, disse a ele um padrinho, pegando-o no colinho e lhe dando um caramelo superfaturado. Brigado, tiuê, quando eu crescer eu também quero ser qui nem u sinhô, ter televisão, jornal e um monte de deputado no bolso, disse o petiz, saindo, serelepe e feliz, pelas belas margens do Tietê.

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