quinta-feira, 21 de junho de 2007

Algum lugar -1

Estamos em algum lugar esquecido por deus nesta cidade. Jardim dos Pinheiros ou alguma coisa que valha. Uma pizzaria entre Santa Felicidade e minha casa, lá pelos lados da Lamenha - mais especificamente moro em uma ponta de Almirante Tamandaré. É meia-noite de uma quarta-feira de quase inverno. E é de se perguntar por quê dois caras inteligentes, com cultura geral ampla, capacidade de mobilização e espírito crítico acima da média nacional estão perdidos nessa realidade tão árida de idéias, de criatividade e calor humano.

Na verdade pra mim não faz a mínima. Minha pouca capacidade de entoar relacionamentos novos, e mesmo meu autismo particular, me impedem de querer mais do que tenho em termos de relacionamento com a sociedade. Até quero, mas não consigo. O passar dos anos me trouxe uma indulgente auto-complacência, o que me deixa em situação confortável nesse sentido. A suposta experiência adquirida até me faz conseguir alguns colegas de trabalho que, sinceramente, não sei se durarão, mas que me são algo muito grato no momento. Pelo menos tenho tido alguma vida social fora da rotina de casa, família e empregão. Não que tenha do que reclamar. Tenho bons e fiéis amigos, antigos, anteriores, que sei que me amam por natureza e que estão ligados a mim para o que der e vier.

Enfim, deixando a divagação de lado, Jorge Miyashiro pra variar tenta me desafiar, ver se de mim sai alguma coisa parecida com a centelha que um dia houve na faculdade, em Bauru. Nada gay, garanto, o que falo é com relação a idéias, inconformismo, criatividade etcetera e tal. Mas pra mim, hoje em dia tão assoberbado com atividades corretas, comuns e incomensuravelmente cotidianas, nada disso tem sentido. Nem as coisas sistemáticas nem qualquer ação extrapolante, como, por exemplo, escrever um blog, coisa que ele fica me cobrando o tempo todo. Aliás, não só isso, mas o vídeo com os bonecos e algumas outra coisas mais que, confesso, não tive tempo nem saco nem culhão pra fazer por pura preguiça, receio, vergonha ou falta dela.

Voltando ao papo do blog: “Pra quê?”, digo eu. “Pra fazer algo”, diz ele. “Pra quê?”, repito, “Qual é o objetivo disso? Não tem sentido”. “Pra aproveitar esse tempo, gozar as situações, curtir a vida”, diz ele. E eu, irascível, digo que não sou assim, que não vejo motivação em nada e tudo o mais do discurso padrão. E ele, claro, serpente que é, me chacoalha: “isso é viadagem” e várias outras sentenças afiadas pra provar seu ponto de vista. Nesse momento, a oitava cerveja já jorra sua ameaça (sete Serra Maltes no Pic Nic e uma S. na pizzaria, que está quase fechando) e estamos invariavelmente imprestáveis, além de que a Lu liga, e a realidade cai como um peso de chumbo estabilizando um anzol embaixo d’água. O chamado da família.

A seguir: "Algum lugar - 2"

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