segunda-feira, 30 de julho de 2007

Bitte, ein schoppenbier

“Vai lá.”
“Onde?”
”Vai lá pegar um chope.”
“Mas eu já tô com um.”
“Vai lá!”
“Porra, cara, deixa eu terminar esse aqui.”
“Deixa aí. Vai lá e pega mais um. Um não, dois. Vai!”

Não tinha como argumentar. O Zédu é um dos caras mais convincentes desta versão de universo que estamos presenciando. Fui lá pegar mais um, um não, dois chopes. Vim com eles e coloquei na mesa. Zédu fazia contas.“Deixa eu ver... Se em treze minutos eu tomo um chope, e são seis e meia da tarde... Então até as oito dá pra tomar mais uns sete chopes.”

O horário era imprescindível nos cálculos. O local era o bar do Torto, um dos mais míticos de Santos. Devo parte de minha formação como ser humano a esse local pequeno, normalmente lotado até a tampa, sufocante e com música ao vivo de estourar os tímpanos. E torto, é claro, porque fica no térreo de um dos prédios mais inclinados da orla.

Naquele momento não estava lotado nem apertado. Aliás, estava muito vazio: tinha só umas dez pessoas, incluindo eu, o Zédu, o Walter e o André. E o som era maneiríssimo e pianinho: um quinteto de choro. Era fim de tarde, mas como o local era praticamente todo fechado, mal se notava que o dia ainda lutava inutilmente contra a noite que vinha.

Era sexta, dia de rodízio de chope das seis às oito, ou coisa que o valha. Preço único e não pagava couvert. Depois disso é que vinha o roquenrol. E nós, claro, queríamos ver como era a coisa, aproveitar pra entrar na nigth calibrados sem gastar muito.

Zé, consciencioso de sua missão nesta terra, não deixava a peteca cair. No auge de seu delírio schoppenbieriano, nos fazia largar as tulipas na mesa e comandava mais um ataque ao tirador. Era um verdadeiro general, traçando metas e estratégias, sincronizando relógios para o gran finale. Como bons soldados rasos que éramos, obedecíamos, mesmo sem saber quais seriam as vantagens e objetivos da empreitada. Mas creio que, em vez de conseguir apenas umas doses na faixa até a hora em que o rodízio terminasse e começasse o agito, os planos se estenderam para garantir um suprimento de beberagem que atravessasse a noite, não tendo que gastar mais um tostão que fosse. Ele comandava: “Isso, agora deixa esse aqui e vai pegar mais um”. “Você”, apontava para outro de nós, que subitamente estacava meio receoso da ordem que iria vir. “Espera ele voltar e traz mais dois”, sentenciava.

A mesa ia ficando repleta de copos com chopes em vários níveis. Um visual incrível. Íamos tentando tomar rapidamente, mas, supostamente alimentado com informações privilegiadas da vanguarda, a voz de comando indefectível do incrível Zé era mais ágil, e tínhamos que ir ao front novamente trazer mais amostras do precioso líquido.

Assim foi. Quando finalmente o barraco começou a esquentar, chegando o pessoal da noite, as minas, os músicos e tudo o mais, já era tarde. Exaustos pelo ir e vir, e frente a uma mesa que estava totalmente tomada de chopes meio bebidos e inteiramente quentes, nós já estávamos em estado de neurose de guerra. Um, perdido no banheiro minúsculo. Esse acho que era eu. Outro, vomitando embaixo da escada. Mais um, desaparecido em combate, talvez tentando encontrar o rumo de casa pela beira da praia. “Casa? Eu tenho uma casa? Aliás, quem sou eu?”, provavelmente se questionava essa pobre alma em confusão.

A coisa seguiu assim, melancolicamente, com a noite terminando mais cedo e nós imprestáveis antes das dez horas. Mesmo assim, tentamos novamente numa outra sexta. Mas demos com a cara na porta, ou melhor, no balcão. Quando fomos iniciar toda a patuscada de novo, indo pedir chopes em cima de chopes ao barman, ele nos negou. “Nananina. Eu vi o que fizeram na outra vez. Agora, só dou um chope quando me devolverem o copo vazio do outro.”
Esperto, muito esperto.

A seguir: "Consórcio da cerveja"

4 comentários:

  1. É, não tem dúvida. O cara nso envolve no incrível Campo de Distorção da Realidade. Será por que, hein???

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  2. Pois é, e você que não acreditava em mim até se ver amanhecendo numa barraquinha de sanduba na praia...

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  3. hahahahahahaha! que medo dele! ainda mais depois do comentário da vanda!

    ele é o cara que conseguia te convencer a voltar pra casa 10 da manhã quando vc ia pra casa às 10 da noite? hahahahaha!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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