segunda-feira, 2 de julho de 2007

Esconde-esconde com a morte 2

O gemido do mastodonte

Ao sair da mecânica, sol beleza e calorzinho em meio a um frio mês de junho, fomos, é claro, tomar umas no mercado municipal, acompanhadas do famoso bolinho de bacalhau local. Umas e outras e tudo o mais, emendamos com a noite, quando o frio começou a apertar. O jipão 4 x 4 andando, mas fazendo um ruído esquisito, nada a ver com o acelerador e sua companheira gambiarra. Paramos, demos uma olhada por baixo, nada aparente. E o carro continuava a rodar sem problemas. O que será isso? Sei lá, tá andando na boa, deixa pra lá, vambora. Segundo aviso ignorado, fomos em frente. O mastodonte verde, notando ou não que seus gemidos não surtiam efeito, resignou-se a eventuais reclamações, ignoradas solenemente por seus infames ocupantes.

Inventamos de subir a Serra do Japi, belíssimo e raro trecho de mata atlântica encravado em um enorme maciço de cristal. Antes, no caminho, já meio rural, paramos em uma casa onde um senhor vendia cachaça artesanal. Compramos um litrão e fomos dando talagadas enquanto trilhávamos o cada vez mais esburacado percurso. Depois de um razoável tempo e algumas dificuldades, chegamos em um pico. No local tinha um antigo observatório astronômico abandonado – obra, se não me engano, do saudoso Kiko de Mattei, visionário amalucado mezzo ambientalista que sempre dava vazão aos seus sonhos, nem sempre bem compreendidos.

Estamos lá, entornando o caldo, o frio batendo, e temos uma visão privilegiada da cidade iluminada lá embaixo. O céu limpo, totalmente transparente, ajudava a fazer o retrato mais bonito ainda. Tava tudo muito bom. Bom demais pra dizer a verdade. Eu tinha acabado de conseguir emprego depois de pastar meses em São Paulo sem porra nenhuma. Tava conhecendo pessoas, grandes amigos, novas garotas, deixando pra trás agruras amorosas. Realmente, era um momento especial.

A seguir: "Esconde-esconde com a morte 3 - O terceiro selo"

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