segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Consórcio da cerveja

Outra mania do Zédu era ir ao consórcio. “Consórcio, que porra é essa?”, eu perguntava. “Vem aí que você vai ver”, dizia. Numa sexta-feira cheguei de Bauru todo curioso, achando que haveria um programa novo na cidade, algo para estimular espíritos e saciar o corpo. Lá fomos nós. Eu, ele e uma rempa de caras. O Gaspar, inclusive. A “descoberta” do consórcio tinha sido do Gaspar, que começou a arrastar o pessoal para esse interessantíssimo programa de sexta à noite. Pior é que eles me disseram que às vezes rolava também às segundas! Figura ímpar o Gaspar. Nunca se sentava de costas para as portas e janelas de qualquer lugar em que estivesse. “Para prevenir e já estar preparado caso alguma coisa aconteça”, dizia ele. Ficava sempre na ponta da cadeira e não encostava. Tomava uma tulipa de cerveja em três únicas goladas.

Voltando, o consórcio vendia de tudo: carro, moto, casa e o escambau. Na sexta eles promoviam os sorteios e lances pros associados poderem retirar seus bens com antecedência. Ficava um gajo lá na frente, no microfone, e umas cinqüenta pessoas sentadas nas cadeiras de plástico branco. Ninguém parecia muito animado, a situação econômica na época tava ruim pra caramba. E tava todo mundo interessado somente em ver se tinha sido sorteado. Assim que as pessoas viam que não tinham sido contempladas, caíam fora, putas da vida.

E nós lá no fundo, uns sete ou oito caras, só dando uma conferida. O Zédu, pra variar, ajudado pelo Gaspar, comandava o suprimento de cerveja e salgadinhos. A gente ia até um balcão onde o atendente já conhecia a galera de longe. “Vocês não são do consórcio, não podem pegar cerveja”, dizia, com cara de poucos amigos. Daí a gente virava as costas e ouvia um “pcht”, e ali estava a cerveja geladinha aguardando. Sacana o sujeito, que dava uma risadinha de canto de boca.
O sorteio rolando, os pobres consorciados caindo fora e uma trilha de cervejas ia se formando aos nossos pés. Ao final da noite, a casa ficava vazia, fim de festa geral. E saíamos com dezenas de copos de plástico cheios de cerveja quente. Divertido pacas.

O que não se faz por um pouco de álcool e (pseudo) diversão...

A seguir: “Tá safo!”

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