quinta-feira, 16 de abril de 2009

Tagarelice com birita

Havia algo de bastante arrogante naquele sujeito. Na mesa ao lado, tagarelava com uma amiga, ou mais parecia uma futura caça que dali a pouco estaria numa cama com ele, isso se ele parasse de matraquear um pouco. Falava mais que ela, o que já era sinal de algum tipo de egocentria exacerbada.

Devia ser paulistano ou paulista, dizia alto que as pessoas em volta eram provincianas, que quando o “Paulão” havia falado exatamente aquilo, ele havia concordado plenamente: “A-qui-é-lu-gar-de-pes-so-as-pro-vin-ci-a-nas”. Não sei se falava alto e com tanta ênfase para ser ouvido. O fato é que eu estava bem de lado para ele, na mesa imediatamente à sua frente, e cada sílaba dele se intrometia pelo meu canal auditivo adentro. Impossível deixar de ouvir. Sua companheira deve tentado protestar, rebaixando o tal do “Paulão”, mas o cara, com voz grave, continuava sua metralhadora verbal. Eu havia perdido um ou dois detalhes do breve entrevero, estava ocupado demais pedindo uma caipirinha ao garçom, mas captei a essência do diálogo. “Agora você me deixou puto. Vem questionar a masculinidade de meu amigo. Isso é o tipo de coisa que, pra mim, não tem nenhum cabimento, mostra que vocë na verdade está na defensiva e não tem como se defender do que eu estou dizendo…”, e por aí foi.

A menina, bonita e suficientemente gostosa, parecia muda, mas ela falava. Na verdade, pouco podia se ouvir de sua voz, não sei se por minha posição, pela insignificância mental dela ou pelo fato de o cara monopolizar totalmente a situação. Enfim, sobre São Paulo, ele dizia que “lá, sim, as coisas são diferentes” e coisas do tipo. Patacoadas e tal.

Barbinha vindo das têmporas e cavanhaque impecavelmente feitos, fininhos tipo tocador de pagode emo, camisa branca, gravata listrada azul marinho e branca, blazer azul marinho na guarda da cadeira, o visual indicava algum tipo de “representante comercial”, um eufemismo para vendedor. O cara não sossegava. Na TV em frente, tentei, sem sucesso, prestar atenção a um clipe de início de carreira da Tina Turner em um programa de auditório em transmissão pra lá de PB, seguida por outra do Deep Purple em fim de carreira tocando pela bilionésima vez Smoke on the Water e um do Oasis com Definitely Maybe, mas não consegui nada.

Tentando abafar, e não precisava tanto porque a garota ja tava fisgada, era só arrastar pra qualquer canto e baixar as calcinhas, ele resolveu desfilar seus conhecimentos culturais. Discorreu sobre cenas de dois ou três filmes que a menina, obviamente, nunca tinha ouvido ou visto na vida. E lascou: “Um filme que eu acho demais, e o ator acho que é macho paca, é aquele que o cara tem um táxi e é psicopata, o ator é o Al Pacino˜. Ai comecei a ficar incomodado. Depois de algumas outras cenas de filmes porcamente descritas, ele veio, não sei por que catzo, falar sobre atores brasileiros. A boiolice foi total. Quando ele disse: “Agora, um cara que eu acho que tem presença pra caralho é o Vitor Fasano”, daí eu resolvi que a caipirinha com Brahma Extra tinha feito estrago demais. Pedi a conta e saí. Também, ninguém manda ficar ouvindo conversa dos outros, ainda mais esse tipo de outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário