sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Sonho circular

Mais um argumentinho, baseado em fragmentos de sonhos.

Exterior/dia
Vemos o rosto de um garoto, seis anos. O vento movimenta seus cabelos. Ao fundo, ouvem-se vozes e algazarra de muitas crianças. Num plano mais aberto, vemos que ele está em pé em algum lugar. Ele tem expressão tranquila. O plano se abre um pouco mais e vemos que ele está em cima de um muro bem alto. Abaixo dele, crianças correm pra lá e pra cá em um pátio de escola, brincam em balanços, escorregadores, caixa de areia, gangorras e até em um antigo bonde desativado. Parecem não notar que o garoto está ali. Ele caminha bem devagar pelo muro, como se estivesse no chão, mas não olha para os garotos. Olha para longe, com um sorriso no rosto, e o vento continua a movimentar seus cabelos. O plano se fecha novamente em seu rosto nesse momento. Ele vira o rosto, vemos sua nuca.

Exterior/dia
Vemos a nuca de alguém, que se vira. É um rapaz de seus 15 anos, os traços sugerem que é o mesmo garoto da cena anterior, já crescido. O vento faz seus cabelos balançarem. Em um primeiro momento, ele mantém a mesma expressão tranquila do garoto, mas logo demonstra certa perturbação, como se não reconhecesse onde está.

O rapaz está no topo de uma grande duna de areia em pleno deserto. Ele continua olhando para um e outro lado, como que procurando algo. Avista alguma coisa, coloca a mão na testa para tapar o sol. Vemos umas poucas árvores bem ao longe, em meio a toda a areia. Ele desce a duna e anda decidido. Vemos ele suando pelo esforço e o sol brilhando inclemente acima. A câmera o mostra em vários ângulos. Quando está afastada, mostra como ele é pequeno no meio de uma imensidão de areia e as árvores muito afastadas. Ele continua a caminhar, o sol é mostrado, ameaçador, e vamos notando o sofrimento em seu rosto.

Em determinado momento, ele cai de joelhos. Mas vai tentando se arrastar, andando de quatro. As pequenas árvores parecem continuar à mesma distância, inalcansáveis. Ele vai se arrastando, tossindo até cair de vez deitado no chão. Mas não se entrega e continua tentando avançar, se arrastando, seu rosto e corpo cobertos de areia. Ele olha para a frente, na direção das árvores, mas elas já não estão lá. Esgotado, ele desmaia, com a cabeça enterrada na areia, e então vemos somente sua nuca.

Exterior/dia
Vemos a nuca de uma pessoa deitada. Ela levanta a cabeça. É um homem de 30 anos. Novamente, notamos semelhança com a criança e o rapaz das cenas anteriores. Ele olha para um lado e outro, levanta-se, limpa sua roupa e fica em pé. Vemos que ele está no interior de uma mata. O homem começa a caminhar por entre árvores e pedras, riachos e galhos. Parece apreensivo, mas continua andando. O local está escuro, a mata fechada deixa passar pouca luz do dia. Ouve-se um ruído ao longe. Ele para, olha para trás, fica estático por um momento, e volta a caminhar. Pouco depois, ouve novos ruídos de galhos se quebrando. Ele para e se vira novamente. E mais uma vez volta a caminhar, desta vez mais apressadamente. Fica assim algum tempo.

Mas ouvem-se novos barulhos, desta vez parece uma árvore caindo e ruídos de grandes passos quebrando galhos, desta vez mais perto. O homem olha rapidamente para trás e anda mais rapidamente ainda, olhando para lá e para cá. Ele ouve então um som horrível, um misto de rugido animal com um lamento humano cheio de dor. O rosto do homem demonstra terror e ele perde totalmente o controle e sai correndo. A câmera acompanha sua carreira, demonstrando que ele se desloca por entre as árvores e obstáculos. Closes em seu rosto mostram seu medo e esforço. O lamento/rugido é novamente ouvido. Ele chega ao alto de uma pedra que estava no caminho e salta.

Vemos meio corpo dele e seu esforço de corrida, mas nota-se que ele pouco se desloca. Como se estivesse correndo sem quase sair do lugar. Ele arfa e geme pelo esforço sobre-humano que faz. Novo rugido, mais perto. O homem continua com seus movimentos de corrida, mas para e olha para baixo e vê que está no meio de uma imensa poça de areia movediça. Os ruídos voltam em algum lugar próximo. Ele retoma o esforço de tentar correr na areia movediça, se deslocando muito vagarosamente.

Seu cansaço está no limite. Ele olha para trás e arregala os olhos de desespero com o que vê. Vira-se para a frente e continua seu esforço, com expressão de terror. O rugido/lamento é ouvido novamente, muito mais alto, indicando proximidade. Ele se depara com várias pedras empilhadas à sua frente, uma espécie de paredão. Ele as escala rapidamente, empurrado pelo medo. Quando chega ao alto, olha para baixo, ofegante, e parece se acalmar um pouco, não demonstrando mais o medo de antes. Ele vira-se para o outro lado, como se fosse retomar seu caminho. Vemos sua nuca.

Exterior/dia
Vemos a nuca de alguém, que se vira e é um homem de seus 50 anos, parecido com o garoto, o adolescente e o homem anteriores. Ele tem uma expressão de apreensão, mas, depois de alguns segundos em que seus olhos seguem para todos os lados, parece ficar mais tranquilo. O vento bate e balança seus cabelos. Ele tem uma expressão mais resignada do que tranquila, mas logo sorri levemente. O plano se abre. Ele está sobre um muro. Abaixo dele, o antigo pátio da escola, desta vez vazio. Os brinquedos e o bonde estão lá, mas parecem estar abandonados, pintura descascada, alguns quebrados. O homem sorri, desta vez mostrando satisfação. Ele vira-se de costas, se agacha e começa a descer do muro, apoiando-se em tijolos desalinhados. Ele atinge o chão e começa a andar no meio do parquinho enquanto a câmera vai se afastando para cima, deixando-o cada vez menor naquele ambiente.

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