quinta-feira, 18 de junho de 2009

Diploma pra cachorro levantar a perninha

Eu sempre quis ser ator. Trabalhei duro na adolescência, dias e dias de ensaio, diferentes grupos, deixando de sair com a galera pra meras horas de parca glória na ribalta que depois se desdobravam em mais dias e dias de desgastante empenho físico e mental. Foram anos, e meu destino era seguir a carreira. Não era lá essas coisas na função, mas dava pro gasto. Mus pais diligentemente me desviaram, me desencorajando e me deixando totalmente sem rumo, me convencendo a fazer alguma faculdade “de verdade”.

Em vez de seguir o caminho normal, de advogado, dentista, médico ou engenheiro, ou mesmo analista de sistemas, que aflorava numa época ainda sem interfaces gráficas nos PCs, resolvi fazer jornalismo. Fiz malemale em Bauru, e me lembro mais das festas e bebedeiras, ou melhor, compreensivelmente não lembo de quase nada, é claro. Enfim, fiz, mas nunca curti de verdade a profissão, embora tenha desempenhado razoavelmente, tenha me divertido e até me orgulhado de vez em quando. E tenho me sustentado com essa capacidade há anos, inclusive sustentando minha família.

Ms por que toda essa patacoada aí acima? Porque desde ontem, dia 17/6, não tenho mais diploma. Ou tenho, mas não vale nada. Aqueles senhores de toga do Supremo, aqueles mesmos do bando de capangas do Mato Grosso, velhos carcomidos, com cara de uva passa, falando sobre a necessidade da liberdade de expressão, da liberdade total de qualquer um poder exercer a profissão, resolveram, entre um uísque e outro, acabar com a exigência do diploma, se achando os heróis da democracia.

OK, nem me abalo muito. Realmente deixei de ser jornalista faz tempo. Uso minha capacidade de escriba e editor para ganhar meus caramiguás na área corporativa. Mas o foda é ouvir esses senhores falarem com essa cara lavada de liberdade de expressão. A tese só valeria se, com a nova decisão, qualquer um pudesse entrar pela porta da Folha, da Veja ou do Estadão, por exemplo, e tivesse total espaço pra falar o que bem entendesse, tipo defender os movimentos sociais sem criminalizá-los, apoiar controle nacional sobre riquezas públicas como petróleo e energia, ou mesmo que as drogas pudessem ao menos ter um debate civilizado sobre descriminalização. Rá! Alguém acha que isso poderá acontecer? Claaaro que não, então a tese cai de primeira.

A questão é um prato cheio pros patrões, que é o que ninguém se liga ou não liga pra ligar: sem ser agora uma categoria, como fica a questão sindical? O piso salarial arduamente alcançado? Os poucos direitos que jornalistas têm por culpa própria porque ninguém entra em piquete porque, afinal, quem é que vai cobrir a greve dos jornalistas? Agora é só pegar qualquer gajo de 16 anos e colocar pra trabalhar, afinal, o que importa atualmente é saber escrever razoavelmente e saber aceitar ordens sem questionar. Já é assim, vai ficar pior.

Na verdade, a questão não é a discussão de se precisamos ou não do diploma, mas mais uma vez as desculpas esfarrapadas de inconfessáveis interesses que nunca se apresentam escancaradamente. A raiva é dos cretinos como nosso dileto chefe supremo do supremo que se alinham com tudo o que é preconcebido e neoliberalizante. Mas afinal, com blogs e tuíters e iutubes e tudo o mais, pensando bem, quem vai querer ler essas merdas de jornais e assistir a esse lixo de TV? Fui. E tarde.

2 comentários:

  1. Mun-rá!
    Ele voltou!
    Aproveitem antes que retorne para seu sono eterno!

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  2. Moon-rá já se aposentou, tio. Aqui quem fala é o advogado da família, que zela pelo espólio dele.

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