segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Ciência, consciência e religião - 1

Tava pensando sobre esse papo de criacionismo. E não engulo. Não porque eu não goste de religiões, mas porque grande parte de seus defensores é religioso no sentido mais carola – e perigoso – da palavra. Não falo de quem pratica sua religião e mantém seu senso crítico. Mas de pessoas tomadas por essa epifania do mal, que só veem sua tacanha mentalidade e egocentrismo pela frente. Gente que, por muito pouco, se lhes for dado um pingo de poder, queima livros, casas e igrejas com todos os malditos crentes que estiverem lá dentro. Vocês sabem do que estou falando. Me dá medo ver esses canais de tv, o poder que têm pastores e quetais fazendo suas artimanhas de conquista de corações e mentes. Medo, não dá? Saber que, com uma palavra aqueles senhores engravatados podem voltar toda uma turba contra você em nome de deus. Sai deu!

Mas voltando, a questão de se ensinar na escola tanto evolucionismo quanto criacionismo não tem nada de mais em princípio. São conceitos antagônicas, mas, enfim, em um universo mental sedento por explicações e conhecimento, são ideias, rumos ou, no máximo, distrações entre uma piscadela e outra de Brahma. Tá bom, tá bom,
só uma pequena provocação, vamos em frente.

O fato é que indo bastante para trás, e supondo que em algum momento houve um fiat lux ou um big bang, não importa, nenhum cientista pode provar que não há deus ou algo equivalente lá, escondido nas entranhas da não existência, ou no desuniverso do avesso. O bom é que nenhum religioso também pode afirmar que lá existiu um deus. Enfim, zero a zero. E isso é bom. Porque não estamos preparados para isso. Porque há intolerância. De parte a parte. De zero a zero.

Fato também: desde o cartesianismo, e depois de Newton bebendo nessa fonte e com sua infindável inteligência, o realismo científico tomou conta irremediavelmente do monopólio da decisão do que é ou não real. Sobre aquilo que existe no universo ou que é mera ilusão. Como se o que pensamos não fizesse parte da natureza. Como se o que se pensa não existisse em algum lugar. Como se deuses, mitos, histórias e sonhos não causassem ondulações no tecido da realidade. A ciência se tornou um sistema de poder. Sem chance de contestação.


Mas no outro extremo, as grandes religiões também chafurdaram miseravelmente no jogo de poder, utilizando vergonhosamente o poder das pessoas em abstrair e criar simbologias mitológicas para prendê-las em sua rede de escravidão. Pior, escravidão eterna. Nem mesmo a relatividade, que retorceu a visão newtoniana do mundo, foi capaz de superar tanto uma quanto outra tendência. Mesmo porque ficou incompleta, apesar de sua elegância ao organizar em um único sistema as ideias antecessoras de espaço-tempo e sua deformação de forma a explicar a gravidade. Criou uma constante interessante, a velocidade da luz, mas nela também nos prendeu a todos: nunca poderemos ir além dela, isolados perpetuamente num casulo luminoso.


Segue...